“Eles agiam em benefício próprio, tinham interesse em lucrar”

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Os atores falam sobre a sua trajetória como artistas e do desafio de interpretar os filhos de Samuel e Eloá em ‘Reis’.

Em mais um episódio do podcast ‘Fora de Série’, os atores Daniel Dalcin e Osmar Silveira foram recebidos para falarem sobre as suas personagens em ‘Reis’. Eles dão vida a Joel e Abias, filhos do casal Samuel e Eloá, papéis relevantes na trama da Record TV.

Como foi a vossa trajetória como artistas?

Osmar: Eu era muito jovem, tinha oito anos quando comecei a carreira artística, a fazer teatro, canto e dança em oficinas gratuitas na cidade. Ali vi uma oportunidade e apaixonei-me. Fiquei lá dos 16 aos 18 anos. Depois comecei a trabalhar no grupo, e posteriormente assumi o departamento de cultura da cidade. Mais tarde vim para o Rio de Janeiro. É uma história que parece longa. [risos]

Daniel: Eu e o Osmar temos muito em comum. Com oito anos fui incentivado pelo meu avô a começar a cantar. Na escola participei em concursos e aos 19 anos o meu pai disse-me que eu era um verdadeiro artista e que deveria fazer um curso de televisão. Esse foi o meu início nas telenovelas.

Como foi receber o convite para a atuação em ‘Reis’?

D: Já tinha feito ‘Gênesis’ e quando me disseram que iria ser Joel foi chocante, porque significava que iria atuar com atores com muita experiência, quase que como enciclopédias da televisão brasileira. Então, foi muito bom. Estava empolgado para aprender com eles.

Daniel, como estão a ser os preparativos para Joel?

D: Muito especial, é bem diferente do meu último trabalho. Saí de um caçador para incorporar um juiz. A nossa preparadora de elenco é incrível e fantástica. Somos dois filhos de juízes que herdam esse cargo e, desprovidos completamente de fé, só fazemos coisas erradas. Eles só querem ‘curtir a vida’.

Osmar: O nosso entendimento do todo, para criar a união da família, é importante para que ela esteja inteira e verdadeira dentro do estúdio.

Osmar e para ti, como chegou o convite para Abias?

O: Foi muito especial. Estava a passar por um problema de saúde- devido ao qual tive de abandonar ‘Gênesis’ também. Tive uma paralisação no braço e parei de trabalhar durante um ano. Foi algo da noite para o dia. Estava num momento triste e depressivo, a ver a minha carreira abandonada por algo que eu não queria que acontecesse. Nesse processo de cura, de 10 meses de fisioterapia, recuperei os movimentos. Foi quando recebi o telefonema para esta segunda fase de ‘Reis’.

Vocês já conheciam a história de Samuel?

O: Não, não conhecia. Sabia que existia a personagem dele e a história na Bíblia, mas não conhecia de facto. Quando me contaram quem eram os atores e falaram do Daniel, eu pensei que seria uma boa oportunidade para conhecê-lo. Já sabia quem ele era, já tinha visto trabalhos dele, mas nunca nos tínhamos encontrado. Foi um encontro de vida, hoje somos irmãos de verdade, assim como Joel e Abias. Afinal, um não se vê longe do outro. Este é um dos trabalhos mais fortes que tenho vivido. Revejo muito o meu processo de cura [da paralisação do braço] através desta história de fé.

E sobre a vossa história. Joel é o primogénito, certo?

O: O mais velho é ele e é quem sabe das coisas. O mais novo vê como o mais velho faz e aprende algumas artimanhas no caminho. Nota-se nas cenas que a nossa mãe tem um amor incondicional pelos dois filhos, mas tem um leve desvio de amor pelo mais novo, o mais carente. O irmão mais velho, Abias, ela usa-o como espelho desde pequeno. Como atores, construímos estas relações assim desta forma.

E eles corrompem-se?

D: Eles estão sempre ligados à troca de favores. Têm um passado de devoção muito grande relativamente aos juízes. Então, quando vão às situações contrárias eles pensam: “O que é somente mais um delito perto de todos os outros?”. Eles deixam-se levar, mas quando voltam para casa é o mesmo amor.

O: Eles separaram os amores do pai e da mãe das coisas que eles fazem de errado. Isso até faz com que Samuel não perceba o que os filhos fazem. Eles conseguem viver em harmonia dentro de casa, porque o amor é verdadeiro. Eles conseguem separar o trabalho da família.

O que os irmãos faziam exatamente?

O: Eles agiam em benefício próprio, tinham interesse em lucrar ao invés do serviço a Deus, que era o que o pai deles fazia. Eles aproveitavam-se para terem mais benefícios, como dormir numa cama confortável, comer as melhores comidas, beber vinho, ter vantagem nos acontecimentos e aproveitar o mundo que eles queriam. Não queriam a vida humilde e simples do pai. Eles não estavam satisfeitos com isso, mas ao mesmo tempo não podiam desagradar tanto o pai, eles tentam disfarçar e encobrir, mas fazem as coisas erradas pelas costas.

D: Sempre que o povo levava alguma questão até eles, por motivos agrícolas ou por questões de território, eles beneficiavam a pessoa que ia trocar favores com eles – fosse por terras, grãos, contagem de ovelhas, etc.

Quando Samuel descobre a corrupção dos filhos?

O: É um choque. E sabe, nós começámos a gravar por esta sequência, da descoberta. Foi uma loucura no segundo dia de gravações. Foi um dia exaustivo e cansativo porque o pai fala muitas coisas aos filhos; e os filhos rebatem de forma agressiva o que sentem. É muito forte. Doamos o máximo de entrega, de verdade.

D: E é diferente do episódio de Eli, que sabia que os filhos eram corruptos e faz algo em relação a isso. Com Samuel, a família amava-se, então de facto é uma deceção absurda.

A série ‘Reis’ tem impactado muito o público…

D: Eu gosto dos trabalhos da Record por causa disso. É muita informação, influência boa e nesta produção resgatamos episódios históricos. São novelas fortes, com iluminação, arte, figurino, dramaturgia. Tenho crescido muito como ator.

O: Para mim é um momento até mesmo de restauro da fé. Na oportunidade de contar estas histórias fico mais perto de Deus. E aí, de facto, busco esta aproximação para a minha vida. Sinto-me mais leve, mais feliz.

Houve algum episódio em específico na vida de vocês relacionado com isso?

O: Durante a minha síndrome, durante um ano diariamente, eu tomei medicamentos para as dores. Depois de começar a novela, parei de tomar. Acreditei em mim e agora não tomo, nem sinto falta deles. A alegria que esta novela me deu, ocupou este lugar e ajudou-me nisso.

Daniel, também sentiste algo do género?

D: Sim. ‘Reis’ faz-me refletir, faz-me pensar que todos temos defeitos, todos somos imperfeitos, cometemos erros e fazemos coisas bem. Então, quando passamos por uma cena que nos faz voltar ao passado, refletimos.

E nos bastidores, houve alguma coisa engraçada?

O: Eu sou muito guloso, então, nas cenas de refeições que nós fazemos, de banquetes e jantares, eu como muito. Há uma cena no primeiro capítulo que eu até falo de boca cheia. [risos] Eu realmente aproveito e faço as cenas assim mesmo. Houve uma em que o Daniel agarrou um queijo enorme, que não estava cortado e colocou-o inteiro no prato. Ele achou que era um pão, porque a luz estava muito baixa. [risos] As comidas também são muito boas, a equipa esmera-se muito. São assados de cordeiro; bolo de tâmaras, damasco; beringelas assadas… Eu não me contenho. [risos]

Quem é Osmar hoje, depois de Abias?

O: Aprendi que temos de prestar atenção sempre nas atitudes que temos, para não desagradar pessoas que amamos. O Osmar de hoje aprendeu a ter fé de novo, aprendeu a ser forte e que o que é errado é errado, independente se foi consciente ou não.

E o Daniel, após Joel?

D: A grande transformação em mim é que hoje sou pai e entendo agora muitas coisas que os meus pais me diziam. Na novela, estes dois meninos são muito ingratos com os pais, então o que me transforma é entender a valorização que deve ser dada aos pais. Estar imerso nesta história faz-me ver isso: refletir sobre ações que todos nós temos e a gratidão relativamente a quem nos colocou no mundo.

E há alguma cena mais impactante?

D: Ainda está para chegar. São discussões que me transformaram muito.

O: A cena da nossa expulsão por causa das coisas fizemos é muito dolorosa. Os filhos vão embora, mas saem muito destruídos. Esta cena tem muito valor.

O que as pessoas podem esperar de Joel e Abias?

D: Muitas surpresas, grandes reviravoltas. Eles enganam. Nunca sabemos qual o caminho que eles vão seguir.

Não perca a série ‘Reis‘, de segunda a sexta, às 20:00 (Lisboa/Londres), na Record TV Europa!