Igor Cotrim: “Eu saio de ‘Reis’ uma pessoa melhor”

Igor Cotrim: “eu saio de ‘Reis’ uma pessoa melhor”
© Record TV/ Blad Meneghel

Na última semana chegou a vez de Igor Cotrim, que interpreta Eliúde na série ‘Reis’, contar ao podcast ‘Fora de Série’ tudo sobre a sua participação e atuação. Eliúde é uma personagem ficcional que encena algumas citações, que envolvem a Arca da Aliança.

Igor, o que acontece com Eliúde?
Na história de Eliúde o importante é a parte da deceção. Ele tem um relacionamento muito bom com a mulher e com a sua família. É um homem que teve filhos e vive uma relação saudável. O que acontece com ele, neste momento da história, é que ele descobre a corrupção dos filhos de Eli. Eliúde vê que isso é absurdo, mas o problema é que ele não sabe lidar com tal situação, então fica nervoso com os homens, começa a adorar outros deuses, e acaba adicto a uma bebida alcoólica proibida – a cerveja – e cliente habitual de prostitutas.

Como foi ser chamado para este papel?
Quando fui chamado, fiquei muito feliz porque sentia o carinho das pessoas logo no olhar. Mas não sabia nada da personagem, então aprendi muito. Foi icónico fazer este papel.

Como se preparou para interpretar Eliúde?
Ele é ficcional, então tive que entender o contexto histórico. Para isso, nós fomos muito alimentados com informações por um arqueólogo, que fez com que entendêssemos muito do que aconteceu na época. Tivemos também cenas de duplos e de muita ação, como arco e flechas e lutas de espada. Fiz ambas as atividades e confesso, dei-me melhor com arco e flecha. No entanto, o trabalho preponderante, além das técnicas, foram as atividades com o núcleo familiar. Passamos todas as situações das personagens num exercício sem falas, desde a parte boa até à parte horrorosa que acontece com eles, para criar a situação da família. Assim, criámos uma sinergia e pudemos pensar em detalhes que não estavam escritos no texto.

Na série ele é, inicialmente, um homem muito de família, certo?
Sim, ele dá-se bem com a mulher dele e ela ouve-o. Por isso é que magoa encenar um dia em que ele sai nervoso para ver a Arca e diz-lhe: “Vou, porque aqui não tenho apoio”. Nessa altura, ele estava fora de si, digo eu. Além disso, o texto é muito bem escrito. As falas do Eliúde são muito fortes.

Sobre a sua história na dramaturgia… Começou cedo no teatro, certo?
Fiz escola técnica de mecânica e quando lá cheguei não entendi o que estava lá a fazer. Então, comecei a frequentar oficinas de teatro, que eram grátis, e depois tive uma grande oportunidade: estudar na Escola Dramática. Comecei com 17 ou 18 anos e não sou filho de atores. Mas sinto que desde muito pequeno, já estudava para ser o que sou hoje, isto porque eu sempre vi muitos filmes e sabia tudo deste universo. Percebia detalhes sobre as personagens e é por isso que hoje percebo que tenho sorte em interpretar papéis díspares.

E o que aprendeu com este papel?
Dar vida a este contraexemplo foi realmente uma mudança. Mudei muito a minha vida. Por exemplo, eu deixei de beber por causa de Eliúde. O mais importante é que eu aprendi a não afastar-me de Deus. Saio de ‘Reis’ uma pessoa melhor. Hoje, as coisas acontecem de forma muito mais saudável, muito mais salutar. Até na minha família, voltei a falar com o meu pai e a minha irmã-gémea. Agora estamos com uma união familiar boa e isto é maravilhoso. Coloquei de parte coisas que não são construtivas na minha vida.

Mas Eliúde transformou-o mais como pessoa ou como ator?
Costumo dizer que na hora da ação podemos fazer bem o papel, mas o importante é na hora do viver, como falamos com as pessoas, como nos mostramos para a vida, como somos no dia a dia. O texto é maravilhoso, os atores e parceiros de cena são ótimas pessoas. Toda a produção foi boa, então, como intérprete, foi um passeio lindo e desafiador. Mas o que eu destaco mais é a mudança na minha vida. Demorei um pouco, mas agora que virei a chave é para sempre. Estou muito agradecido por ter tido essa oportunidade.

E o que acha que as pessoas vão aprender com a personagem?
Acho que aquilo que eu também aprendi, que na verdade é o que Eliúde não tem: resiliência e confiança em Deus. É pensar que uma pequena coisa errada pode fazer-nos escorregar na vida. O importante é manter-se íntegro, porque num momento ele estava completamente certo, mas afastou-se e não houve mais volta a dar. Como a minha mulher na trama diz: “Ele não é uma má pessoa, ele só está perdido”. A derrocada dele é uma tristeza! Mas quando vemos a personagem a ir para um lado obscuro é quando percebemos o que não é para ser feito. 

O que mais o marcou nas gravações?
A cena de abrir a Arca fez-me suar em bica. A maquilhagem toda começou a derreter e aquilo mexeu muito comigo. Acredito que tenha sido o momento de abri-la e olhar para a presença de Deus. Fazer esta cena foi uma das coisas mais importantes que já fiz. Tenho a certeza de que estou no caminho certo depois disto.

Eliúde percebeu um erro, mas deixou-se levar. Acha que hoje também fazemos o mesmo?
Às vezes, a mágoa pode levar-nos a algo pior. Por isso, temos de estar limpos e resolver as coisas no devido momento. Na minha vida, já errei muito, não acreditei que merecia coisas boas. Então, vejo que sempre estive com Deus, mas que agora estou calmo o suficiente para saber ter acesso a ele.

Então, para terminar, acha que a série ‘Reis’ é para toda a família?
Sim, ela tem cenas muito fortes, mas a história da fé que ela mostra é muito bonita. Acho que também há partes obscuras que estão a ser, pela primeira vez, incluídas numa produção audiovisual.

Não perca a série ‘Reis’, de segunda a sexta-feira, às 20:00 (hora Lisboa/Londres), na Record TV Europa.