O realizador-geral de ‘Reis’ esteve no podcast ‘Fora de Série’ e contou tudo sobre a nova e quarta temporada.
Leo, para falar do teu trabalho… Nós acompanhámos um episódio de ‘Reis’ finalizado e não nos damos conta de todo o trabalho que existe por trás…
Quando as pessoas assistem ficam boquiabertas, chocadas. Nós trabalhávamos muito, de segunda a sábado, 12 horas por dia. É um trabalho muito árduo, com sol ou chuva, em ambientes internos e externos.
O que é ser realizador-geral de uma superprodução como esta?
O realizador é o responsável por tudo, desde o momento em que pega no capítulo, até à parte conceptual com autor e produção… Há reuniões diárias, todo o processo de carpintaria, trabalhar o texto até colocar a cena pronta no ar… tudo passa pela direção. Desde o cabelo da atriz aos figurinos, passando pelos locais de gravação, proximidade com autores, elenco, fotografia, conceito, banda sonora, ritmo de edição. Eu até prefiro falar que um realizador é mais como um maestro, porque ele é que dá o tom para os outros departamentos, assim como o maestro numa orquestra. E hoje é um trabalho muito mais colaborativo comparando com a ideia de que as pessoas muitas vezes podem ter de um ‘realizador rígido’.
E agora com Davi, na grande estreia da nova temporada, o que podemos esperar?
Sim, teremos a grande história de Davi. As crianças de Israel cantam-lhe uma música, ou seja, é uma história que até as crianças conhecem. É uma história bonita e forte. O caráter dele é algo que mexe comigo. Eu penso: ‘Uau, quero ser como Davi e não como Saul’. Isso é uma das coisas giras que nós fazemos… O entretenimento é fundamental, mas também dialogar através da estética e da ética com o espectador. Colocamos a pessoa dentro da história, através de conjuntos sensoriais, interpretações, luz, figurino, bons cenários e fazemos com que ela viaje em todos os sentidos. Houve uma passagem muito interessante comigo, por exemplo, relativamente à história de Jacó e Esaú, que é um reencontro de um irmão que perdoa o outro. Chegou um rapaz da equipa que me perguntou se eu tinha realizado aquela cena. Quando eu respondi que sim, ele começou a chorar e disse: “Eu perdoei os meus irmãos depois de 20 anos”. É isso que eu quero, não quero aplausos nem audiência, é isso. Eu não quero formar espectadores, quero formar cidadãos. Quero levar arte para quem não tem possibilidade de viajar, de ir a um museu, por exemplo.
Como é realizar cenas de batalha em ‘Reis’? Como é a dinâmica?
Para mim não é uma novidade. Adoro dirigir cenas de ação, seja em melodrama, comédia, ação… Gosto de gravar tudo. Sou workaholic e gosto disso, ou seja, gosto de desafios, eventos, espetáculos.
São muitas as pessoas envolvidas?
Eu já tinha feito a primeira versão de rei Davi e são muitas pessoas em batalha. Estamos empenhados em fazer estas coisas grandes, com muitos figurantes, com a necessidade de vestir todos, de fazer a multiplicação nos efeitos por computador… É um trabalho grandioso. Realmente, é uma produção aprimorada e fica melhor a cada produto. Acho que é um casamento que deu certo.
Para quem não conhece nada de bastidores, como funciona no dia a dia? Como é a história de gravar fora de ordem?
Recebemos os capítulos – por exemplo 5 capítulos – e depois lemos em equipa, juntos. Depois, começamos a debater qual o melhor caminho. Fazemos o desenho da produção para realizar aquilo. Se tivermos uma batalha, temos de saber: onde vai ser? Eles estão a cavalo? Qual o armamento? É uma cena diurna ou noturna? São necessários quantos figurinos? É aberto esse processo criativo onde pensamos e criamos juntos, temos dúvidas juntos…
“Eu não quero formar espectadores, quero formar cidadãos”
Por ser uma série conta com um elenco muito diversificado, certo?
O elenco é um caso à parte. Tenho certeza de que é um dos melhores conjuntos de atores que já tivemos. O Carlos Porto, por exemplo, é incrível, é uma personagem dificílima, um herói que se torna anti-herói… Que desafio! Ele está a fazer com uma força, uma potência, uma elegância a personagem de Saul. Ele tem tido escolhas corretas e ao mesmo tempo a ousar. Para ele, está a ser um presente. Sem falar nos outros, eu teria de falar de todos os nossos atores. Estou muito contente com a seleção. Não existem atores mal dirigidos, mas sim atores mal escalados – e demos ‘tiros’ certos. Agora, nesta nova temporada, vem o nosso Davizinho, feito por Gabriel Vivan. Ele tem a generosidade, a leveza e ao mesmo tempo a força do guerreiro, do músico, do compositor sensível que é Davi – e que ainda, ao mesmo tempo, mata leões e ursos, derruba gigantes. Tem força e uma fé admirável que move montanhas. O carinho deles com as ovelhas e o amor que ele tem nas cenas é o mesmo que Davi vai ter pelo seu povo quando for rei.
Então, o que nos conta sobre a escolha de Vivan?
Foi bem selecionado, pois a essência dele bate com a de Davi. A luva caiu perfeitamente. A personagem encontrou o ator e vice-versa.
É curioso e interessante porque vemos muitas produções sobre Davi, mas agora em ‘Reis’, vamos ver o que não vimos até agora: a história dele antes de ser ungido por Samuel. Vamos conhecer quem era este pastor, o que significava ser pastor, como era a relação dele em casa, a humanidade dele…
A história vai ser contada muito de acordo com o caráter retilíneo de Davi. Seja com as ovelhas, em casa, ungido e a servir a Saul. O que mais me chama atenção – e o que trago para a minha vida – é o carater admirável dele. O que ele sofre nessa jornada de herói… Há muita coisa que vai acontecer.
E agora, na fase de Davi, nesta primeira etapa da quarta temporada, vamos conhecer o quê?
Desde o início, a génese de tudo. Ele era camponês, tinha um amor pelos animais. Em casa, com Jessé e Haviva, mostraremos a relação de amor e ódio dos irmãos por ele. Há o Davi guerreiro, que luta com leões, ursos, Golias. Há o Davi apaixonado por e o Davi compositor. Ele é multifacetado. Mostraremos toda a trajetória dele, de ser o pajem de armas de Saul.
O que acontece com Saul a partir de agora?
Ele recebeu o aviso prévio. [risos] Ele sabe que vai ser demitido dali a três meses e enlouquece, porque não quer perder. Era também pastor de ovelhas e parecia humilde. Mas quando se dá poder a uma pessoa, é quando vemos quem ela realmente é. Colocou a coroa e transformou-se.
E para ti, como está a ser este trabalho, enquanto ser humano e profissional?
Estou num momento de vida muito especial. Com a paternidade, sou um novo Leonardo. Sinto-me muito melhor agora, tenho mais serenidade, maturidade, responsabilidade e isso transparece diretamente no trabalho, principalmente na liderança. Consegues conduzir o barco de forma mais tranquila, com menos insegurança. Estou mais preparado, foram 18 anos a preparar-me para um projeto como este. É muito grande e desafiador. É um momento muito especial, pessoal e profissionalmente.
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