Reinaldo Gottino: “Não deixe a Record TV saber que me paga para ser feliz”

Reinaldo Gottino: “Não deixe a Record TV saber que me paga para eu ser feliz”
© Record TV

Apresentador relembra a sua trajetória, recorda a fase inicial como estafeta, conta histórias com bom humor e destaca episódios emocionantes do programa ‘Balanço Geral’.

Poucos profissionais da televisão brasileira têm a capacidade de expressar sinceridade como o jornalista, narrador e escritor paulista Reinaldo D’Agostino, 45 anos, o Reinaldo Gottino.

Ao lado de Fabíola Reipert e Renato Lombardi, Gottino apresenta o ‘Balanço Geral’, na Record TV, um dos maiores e mais consolidados sucessos da televisão brasileira.

Gottino dá detalhes sobre a sua trajetória familiar e profissional, conta histórias saborosas e lembra passagens emocionantes do ‘Balanço Geral’ nas tardes brasileiras.

Fale um pouco sobre as suas origens familiares.

Sou filho de pai italiano, Vincenzo, vendedor de carros, e mãe brasileira, Terezinha, cabeleireira. Tenho uma irmã mais velha, Roseli, professora aposentada e hoje é fazendeira em Tupã, no interior de São Paulo, e tinha outra, Rosemeire, atriz e publicitária, que morreu de cancro há cinco anos. Faria agora 50 anos. Sou casado com a Simone Chimenti e tenho dois filhos: Rafael e Giovana. Fui criado na Vila Prudente, na zona leste de São Paulo, Brasil. A minha mãe deu-me um radiozinho a pilhas quando eu tinha 12 anos e apaixonei-me pela rádio muito cedo. Gostava de dormir a ouvir rádio. Uma amiga da minha irmã começou a trabalhar na Rádio Imprensa, e eu pedi-lhe que me levasse aos fins de semana. Ajudava a sortear prémios, atender telefonemas… O locutor faltou um dia e colocaram-me para ler um texto.

E depois?

Gostaram, fiquei empolgado, deixei a função de estafeta do Banco Económico, que depois fechou, fui estudar jornalismo e não deixei mais a profissão. Trabalhei na CBN, na TV Gazeta, até que, em 2005, a Record TV chamou-me. Aqui vivi – e ainda vivo – experiências incríveis. Estou muito feliz no ‘Balanço Geral’ e, sobretudo, nesta casa. Saí recentemente, por um tempo, foi uma experiência importante, mas voltei porque senti saudades e a Record TV complementa-me.

Pensou em desistir do ‘Balanço Geral’. Como foi essa história?

Assumi o ‘Balanço Geral’ em 26 de maio de 2014. Um grande desafio. Passaram-se alguns meses e a audiência ficou estagnada. Pedi uma reunião com a direção da Record e ‘entreguei o boné’. Disse: “Peço desculpa, mas não estou a conseguir fazer isto funcionar. Coloco agora o meu cargo à disposição. Se quiserem substituir-me, não há o menor problema”. Eles foram compreensivos, disseram que estavam a gostar do programa, que a coisa ia funcionar e eles estavam comigo. E, de facto, o programa começou a andar pouco depois dessa conversa. Assumimos a liderança no horário, um caminho bem vencedor. Foi um ano difícil. Assumi o programa com a Copa do Mundo no Brasil, sem transmissão nossa, seguida de férias escolares e eleição, com horário político bem na hora do programa. O desafio foi complicado, mas felizmente vencemos.

Bela demonstração de honestidade profissional!

Obrigado. Se algo não está a dar certo, das duas uma: ou dá audiência ou a empresa precisa de gostar muito do produto. Foi bom porque eles confiavam no produto inicialmente e depois veio a audiência, fechando o ciclo.

Fale sobre o episódio em que você ficou doente e foi conhecer um ótimo hospital de São Paulo.

Estava a trabalhar. Primeiro, senti uma pontada muito forte, às 9 da manhã, e, depois, uma dor no peito. Às 11 da manhã, quando me preparava para entrar no ar, as dores ficaram fortes. Disse à equipa que era melhor pedir ajuda porque estava a doer muito. Levaram-me para o Hospital Moriah, em São Paulo, de uma excelência absoluta. Fui maravilhosamente bem atendido. O problema não era no coração. Tive uma inflamação na parede do esófago. Graças a Deus, não era nada grave, mas foi um susto muito grande.

E a história do ‘traseiro’ quase de fora nos tempos de estafeta?

Naquele período, muitos estafetas desciam do autocarro pela traseira para não pagar. Eu não fazia isso porque sempre fui meio desajeitado. Achava que iria correr mal. Mas naquele dia eu tinha sete viagens a fazer. Fiz as contas e vi que poderia poupar dinheiro ao sair pela traseira. Fiquei com vontade de o fazer. Na primeira que fui descer era um autocarro elétrico, na avenida Paes de Barros. As minhas calças enroscaram num parafuso do autocarro na hora da descida. Rasgou tudo, e eu fiquei com os glúteos expostos na rua. Tive de tirar a camisa e amarrá-la atrás para não passar vergonha.

O Gottino é bom nas histórias. Conte outra.

Lembro-me de uma quando já trabalhava na rádio. Trabalhava em uma que transferiu os estúdios para Jundiaí, cidade próxima a São Paulo. Eu era o locutor da meia-noite e estava a fazer faculdade durante o dia, aquele cansaço todo. Uma amiga, Soraia, dava-me boleia até o Terminal Rodoviário do Tietê, na zona norte de São Paulo. De lá, apanhava o autocarro às 11 da noite e, 50 minutos depois, na média, chegava à rádio em Jundiaí. Rapaz… um dia, eu, cansado, passei do ponto. O autocarro foi para a rodoviária de Jundiaí, seguiu depois para a garagem e ninguém me viu. Fui acordar às duas e meia da manhã, com uma pessoa a lavar a janela do autocarro. Aquele jato de água. Imagine o humor do locutor que estava à minha espera desde a meia-noite para eu entrar no seu lugar? Ele ficou uma arara, queria me matar, mas é meu amigo até hoje. Fazia locução de madrugada e muitas coisas à noite, além de estudar. Não conseguia dormir.

Escreveu dois livros. Fale sobre eles.

Foi um prazer contar num livro a minha história, de um rapaz de classe média baixa, que estudou sempre em escola pública. Nós sabemos que não é fácil, mas o livro mostra que é possível a vida, de uma maneira ou de outra, com luta, sorrir para toda a gente. Na minha rua não havia a cultura de fazer faculdade, graduação, e eu, com sacrifício, consegui formar-me.

Vida dura.

Exatamente. Não passei fome, não tenho tragédias pessoais a contar, mas tive dificuldades na batalha, uma vida simples que fui superando com trabalho e paixão pela profissão. Nunca fui ‘playboy’. Tornei-me estafeta aos 14 anos. Autocarro para cima e para baixo. Recebi muitas mensagens de pessoas que se identificaram com a história. O outro livro é sobre a história de vida da empresária cearense do ramo de comércio de móveis Josefa Adecilda Silva de Araújo, radicada em São Paulo, conhecida pelo nome profissional e artístico Sylvia Design, também o nome das suas lojas. Foi uma experiência muito boa. Ela é uma mulher batalhadora, que veio do Nordeste à procura de oportunidades e transformou-se numa grande empresária e, acima de tudo, fez história no marketing.

Dá para sentir no ‘Balanço Geral’, que o Gottino, Fabíola Reipert e Renato Lombardi divertem-se, emocionam-se e, acima de tudo, entendem-se muito bem…

Fico muito feliz com a sua observação porque é a mais pura verdade. Temos uma química boa, damo-nos bem e a relação é ótima. Não deixe a Record TV descobrir que ainda paga para nos divertirmos e sermos felizes. [risos] Acabámos de trazer uma história que deverá ser a maior da televisão brasileira neste ano.

Qual?

Uma senhora procurava a mãe biológica do seu filho, adotado há 41 anos, que tem cancro e está no hospital à espera de um dador de medula compatível. A fila para encontrar compatibilidade demora anos, e ele não teria tempo suficiente. A senhora queria encontrar a mãe e a família biológicas para resolver a questão em tempo. Colocámos a história no ar e encontrámos a família. A mãe biológica morreu, mas teve sete filhos. Todos vão fazer o teste de compatibilidade. Ao menos um deles deverá ser compatível. Deus vai ajudar.