Neste episódio do podcast ‘Fora de Série’, Giselle Tigre e Natália Ferrari falam sobre as suas atuações na superprodução ‘Reis’. As duas atrizes expõem os seus sentimentos relativamente à participação no formato e emocionam-se ao falarem sobre tudo o que viveram.
Numa produção que envolveu muito trabalho e dedicação, ‘Ada’ e ‘Sâmila’ – personagens de Giselle e Natália respetivamente, mãe e filha – fazem com que o público ‘sofra’ e se emocione com as suas escolhas e vivências. Neste ‘Fora de Série’, as atrizes falam sobre os desafios que tiveram e da forma como os superaram.
Falem-nos um pouco da vossa experiência ao participarem na série ‘Reis’…
Natália: Nunca tinha feito parte de uma produção desta dimensão. Ter tido, todos os dias, o apoio e orientação de pessoas com experiência foi muito bom. Acolheram-me todos muito bem, sempre me senti muito confortável.
Giselle: Foi muito produtivo ter trabalhado com a Natália, foi energia pura. Não a conhecia, mas quando falei com ela parecia que já nos tínhamos conhecido há um mês. Fazer o papel de mãe e filha com ela deu-nos uma intimidade absoluta. Chegámos às lágrimas em alguns ensaios juntas. Trabalhámos com o olhar, com sentimento e conexão.
Giselle, há algum tempo referiste que tiveste períodos em que não acreditavas em ti, mas não desististe. Foi difícil seguir em frente e superar os desafios?
Giselle: A vida de artista é uma vida muito instável e inconstante. Já passei por vários momentos difíceis, mas sempre tive um plano B. Há alturas que temos que nos esforçar muito para ter algum tipo de trabalho, não é tudo glamour como todos acreditam. É muito importante sermos testados e correr atrás dos nossos próprios objetivos.
Natália, sempre soubeste que era teatro que querias fazer para o resto da tua vida?
Natália: A arte faz parte da minha personalidade desde sempre e, por isso, sempre quis estar perto dela. Já fiz muitos trabalhos ao longo da minha vida, mas sempre estive à espera de uma oportunidade como a de ‘Reis’ para poder seguir aquilo que eu amo. Fazer parte desta superprodução é uma conquista não só minha, mas também da minha família, do meu marido e de todos os que me apoiaram.
Como é que a personagem ‘Ada’ e ‘Sâmila’ entraram na vossa vida? A receção foi boa?
Natália: A ‘Sâmila’ apareceu num momento perfeito. Estava preparada para recebê-la.
Giselle: Era uma personagem dura, mas conseguiste representá-la muito bem, com intensidade e profundidade. O que vão ver daqui para a frente vai ser muito surpreendente. Para mim foi uma experiência diferente daquilo que eu tinha feito. A ‘Ada’ foi uma personagem muito mais fácil de construir, porque vi, do início até ao fim, a trajetória dela. Por outro lado, foi desafiante porque ‘Reis’ tem um lado muito cinematográfico. A câmara está parada no mesmo sítio a captar todas as expressões e reações do ator. Isto é diferente do teatro que estava acostumada a fazer.
As personagens que fazem enfrentam muitos desafios. Por exemplo, a ‘Ada’ sofria uma certa rejeição da sociedade por ser viúva…
Gisella: Isso é algo muito marcante na história de uma mulher que tem de criar uma filha e sofrer sozinha. Para além desse desafio, naquela época viviam todos com escassez de água e com carência de recursos básicos. Viver era muito difícil.
Natália: ‘Ada’ também nos mostra que fazer o bem passa por denunciar injustiças. A personagem tem essa força.
Podemos dizer que ‘Sâmila’ é uma jovem muito bondosa, porém ingénua. É verdade?
Natália: Acho que no começo há uma certa ingenuidade de adolescente. Mas ela sabe o que quer, é uma sonhadora. Conforme ela vai crescendo, vai-se tornando também mais responsável. Tornar-se mãe muda muita coisa. ‘Sâmila’ tem uma transição de uma personagem sonhadora para uma mais protetora.
Giselle: A ‘Ada’ é a mãe, mas isso não impede da ‘Sâmila’ repreendê-la quando não concorda com algumas coisas. Isso é realmente um ponto chave na relação das duas.
Natália: Nesse momento, ‘Sâmila’ mostra precisamente que tem necessidade de se afirmar, mas querendo sempre o bem da sua mãe.
A relação mãe-filha foi emocionante?
Giselle: Houve muitos momentos seguidos que tinha que contracenar com a Natália. Eram cenas muito fortes, em que tínhamos de nos emocionar e chatear. A ‘Ada’ tinha de ser forte e aguentar o choro. Quando acabávamos de gravar essas cenas, chorávamos e abraçávamo-nos muito, foi tudo muito intenso. A beleza do nosso trabalho é a espiritualidade. Não sou a mesma pessoa depois da ‘Ada’.
A situação de abuso da ‘Sâmila’ é comovente e assustadora…
Natália: Eu até me emociono quando falo sobre esse assunto. Nunca passei por uma situação igual, mas quando assistimos a essas cenas pensamos na quantidade de vezes que isto ainda acontece todos os dias. Nessa situação, a ‘Sâmila’ achava que não podia fazer nada e tudo ficava cada vez pior. É degradante. É muito importante dizermos que a mulher nunca perde valor quando isto acontece. É sempre a vítima.
Giselle: Esta situação é revoltante. Pude ver o intenso trabalho ao realizar esta cena e é uma violência tão baixa que foi muito difícil de ver.
Natália: Sempre que fazíamos esta cena nos ensaios, eu e o Edu Porto [personagem ‘Finéias’ da série] abraçávamo-nos para tirar a negatividade. Eram cenas muito pesadas.
Essas situações mexem com as mulheres de todas as formas. Qual é o significado de uma personagem como a ‘Sâmila’?
Giselle: A violência que a ‘Sâmila’ sofre não é só a física, também existe o sofrimento com o descrédito que lhe dão. O golpe fatal é quando a violência acontece, a mulher conta que sofreu com o que se passou e depois não acreditam nela.
Qual é o papel da mãe numa situação destas?
Giselle: Não há nada pior do que uma mãe ver a sua filha a sofrer com algo assim. Interpretar essa mulher nesse momento em específico foi o maior desafio, foi quando senti o maior número de emoções na minha vida. Como atrizes, temos de ‘mergulhar’ no fundo das nossas emoções para passar veracidade aos telespectadores.
Apesar de tudo o que aconteceu, ‘Sâmila’ conseguiu ‘recomeçar’. Certo?
Giselle: O grande drama dessa personagem é que ela tem uma vida perfeita, um marido maravilhoso e uma mãe que a apoia muito, mas, no entanto, está inserida numa situação em que pode morrer a qualquer momento. Essa é a história de ‘Reis’, é o mote para a dramaturgia ser realmente algo surpreendente.
O que podemos receber, como ensinamento, com as vossas personagens?
Giselle: Cumplicidade e pureza. A ‘Sâmila’ e a ‘Ada’ são heroínas, são mulher que se amam e que são valorizadas pela família.
Natália, o que aprendeste com a ‘Sâmila’?
Natália: Aprendi a praticar a empatia ativa de mulheres para mulheres e a respeitá-las a todas.
Acompanhe ‘Reis – A série’, de segunda a sexta-feira, às 20:00 (Lisboa/Londres),
na Record TV Europa.