Cientistas avançam no mistério sobre a reprodução suicida do gato marsupial do norte

Cientistas avançam no mistério sobre a reprodução suicida do gato marsupial do norte

Animal apenas se pode reproduzir uma vez antes de morrer.

O gato marsupial do norte é uma espécie semelpara, ou seja, apenas se pode reproduzir uma vez antes de morrer, mas a causa exata dessa morte continua um mistério para os investigadores, que descobriram novos dados sobre os machos.

Um estudo divulgado hoje na revista Open Science da Royal Society refere que os machos esgotam-se literalmente a copular com as fêmeas, ao ponto de colocar em risco a própria sobrevivência da espécie.

Para provar esta teoria, os cientistas instalaram dispositivos de rastreamento em sete gatos marsupiais machos e seis fêmeas em Groote Eylandt, uma ilha na costa do Território do Norte da Austrália.

Após 42 dias, os dados mostraram que os machos são muito mais ativos do que as fêmeas, que podem sobreviver até quatro estações reprodutivas.

Além disso, enquanto as fêmeas passam um quarto do tempo a descansar, os machos passam apenas 7% do tempo sem fazer nada.

Os machos “não estão a dormir tanto quanto deviam”, salientou à agência France-Presse (AFP) o líder do estudo, Joshua Gaschk, da Universidade de Sunshine Coast, do Estado australiano de Queensland.

O mecanismo em funcionamento será, portanto, distinto daquele que atinge um parente do gato marsupial, o antechinus, também semelparo, mas muito menor que o gato marsupial, e que sucumbe a hemorragias internas e infeções causadas pelo stresse da estação de reprodução.

Segundo os investigadores, a sobrevivência do gato marsupial está em jogo, especialmente porque o mamífero está sob pressão de espécies invasoras, como o sapo-cururu, o gato e a raposa.

No entanto, como a espécie utiliza a chamada estratégia de reprodução suicida “há milhares de anos, (…) deve beneficiar-se desta”, apontou Joshua Gaschk.

Na ilha de Groote Eylandt, onde não há sapos-cururus nem gatos, o gato marsupial está a sair-se muito melhor, realçam.

Um investigador da Universidade de Queensland, que não participou neste estudo, descreveu este trabalho como “significativo”.

Para Adrian Bradley, o frenesim de atividade sexual do antechinus é uma “resposta irresistível” a uma emissão de feromonas da fêmea e a perda de peso associada pode ser fatal para esta espécie, de pequena dimensão.

Mas sobre o gato marsupial, com dimensões maiores, Bradley salientou que ainda é impossível concluir definitivamente a razão pela qual alguns “machos não sobrevivem à época de reprodução”.