Os chefes de estado de ambos os países reencontram-se hoje em São Francisco, à margem da Cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico. Da agenda fazem parte temas atuais e estratégicos.
A imprensa oficial da China adotou uma cobertura menos negativa sobre os Estados Unidos, apelando por laços mais próximos e divulgando histórias sobre norte-americanos com ligações positivas ao país asiático.
Esta mudança surge na véspera de os líderes dos dois países, Joe Biden e Xi Jinping, se reunirem em São Francisco.
A imprensa chinesa centrou-se numa digressão recente de membros da Orquestra de Filadélfia, que assinalou o 50.º aniversário da sua viagem histórica à China, que ajudou a fomentar os então incipientes laços entre EUA e China.
A visita a Pequim de membros dos Tigres Voadores, um grupo de pilotos norte-americanos que combateram ao lado da China contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, foi também amplamente divulgada pela imprensa chinesa.
“O povo chinês nunca esquece um velho amigo e essa é uma mensagem importante que queremos enviar ao povo norte-americano”, afirmou hoje em editorial o ‘Diário do Povo’, jornal oficial do Partido Comunista, na sua edição internacional.
Nos últimos dias, a agência noticiosa oficial Xinhua publicou uma série de cinco partes sobre as relações entre EUA e China, apelando a que os dois países se “encontrem a meio caminho” e “trabalhem em conjunto para devolver às relações o desenvolvimento saudável e estável”.
Mas também exortou os EUA a cumprirem os acordos feitos por Biden e Xi quando se encontraram em Bali em novembro passado.
“Só se voltarmos a Bali, podemos esperar por São Francisco”, escreveu.
Os dois líderes concordaram em Bali em áreas de cooperação, incluindo o combate às alterações climáticas e a manutenção da estabilidade financeira, sanitária e alimentar global. A China afirma que os EUA falharam nas promessas de “não procurar uma nova Guerra Fria”, “respeitar o sistema chinês” e “não se oporem à China através do reforço das suas relações com aliados”.
“Só com uma boa gestão das relações entre os EUA e a China é possível aumentar o bem-estar dos dois povos, promover o progresso da sociedade humana e contribuir para o desenvolvimento pacífico do mundo”, afirmou o Diário do Povo.
Os editoriais dos órgãos estatais são amplamente considerados como reflexos da política oficial.
Também o jornal ‘Global Times’, conhecido pelo tom nacionalista, apelou à cooperação entre os dois países, num editorial publicado hoje.
Nos últimos anos, a imprensa oficial chinesa tem-se concentrado frequentemente numa cobertura negativa dos Estados Unidos.
“A cobertura crítica dos EUA e de outros países ocidentais visa mostrar como a China se está a sair bem em comparação”, disse David Bandurski, diretor executivo do projeto independente China Media Project. “Tudo é negativo nos EUA [de acordo com os órgãos estatais chineses] (…) e este é o outro lado do quadro geral da construção da legitimidade por Xi Jinping no seu terceiro mandato”, afirmou.
Antes das conversações entre Biden e Xi numa propriedade rural perto de São Francisco, a imprensa estatal não destacou o problema dos sem-abrigo na cidade, embora alguns internautas chineses tenham publicado fotografias de pessoas sem-abrigo a urinar e a dormir nas ruas, juntamente com comentários sobre o quão perigosa a cidade é.
A nova linguagem sobre cooperação nos órgãos de comunicação estatais reflete o que a China tem dito nos últimos meses, à medida que trabalha para melhorar as relações tensas com a Austrália e alguns países europeus, disse Bandurski.
Apesar da mudança de tom, poucos esperam mudanças substanciais na direção geral das relações entre os dois países.
“Não há nenhuma mudança fundamental, eles marcaram-nos como um concorrente”, disse Sima Nan, comentador sobre assuntos internacionais com mais de três milhões de seguidores na rede social Weibo.