Marrocos: Número de fatalidades ainda vai subir “significativamente”

Marrocos: Número de fatalidades ainda vai subir “significativamente”
REUTERS/Abdelhak Balhaki

Sismólogo João Duarte Fonseca realça também a vulnerabilidade dos edifícios afetados pelo abalo.

O sismólogo João Duarte Fonseca antevê que, pelas imagens que se conhecem do terramoto que abalou Marrocos, o número de fatalidades “suba significativamente” nos próximos dias, realçando que os edifícios afetados eram “bastante vulneráveis”.

Em declarações à Lusa, o professor auxiliar do Instituto Superior Técnico assinala que, “durante 48 horas, é normal que os números vão aumentando”, em resultado da informação que for sendo recolhida no terreno, recordando que se trata de “uma zona montanhosa e agrícola”.

O sismo registado na sexta-feira à noite em Marrocos – e que, segundo o último balanço oficial, já causou 820 mortos e 672 feridos – é “bastante raro”, nota o especialista, explicando que “não é uma magnitude comum a sul de Marrocos”, onde “a atividade sísmica é mais intensa a norte”, na zona do golfo de Cádis, onde se sabe que “ocorreram grandes terramotos no passado, como o terramoto de Lisboa em 1755”.

O terramoto aconteceu numa zona de convergência entre as placas tectónicas africana e euro-asiática, que, noutras áreas, “são bastante estáveis”, mas que, nesta localização, apresentam “deformação distribuída ao longo de centenas de quilómetros”.

Para João Duarte Fonseca, há uma “lição” a retirar desta tragédia. “É que, mesmo sendo raros, estes eventos acontecem e, portanto, é fundamental estar preparado para quando eles ocorrem”, frisa.

Estar preparado – concretiza – passa “essencialmente” pelo ordenamento do território e por uma “escolha criteriosa dos locais para construir as infraestruturas mais críticas, como hospitais, quartéis de bombeiros, etc.”, para assim “reduzir o risco” de sismos.

“Não conseguimos reduzir a probabilidade de que o sismo ocorra, mas conseguimos mitigar os seus impactos prováveis”, esclarece, acrescentando a importância de adotar também “códigos de construção antissísmica exigentes”.

Ora, no caso de Marrocos, pelas imagens que o sismólogo observou, “os edifícios afetados são de construção tradicional”, sem recurso ao betão armado, material “que aumenta muito a segurança”, e, por isso, “bastante vulneráveis”.