Parcela 1% mais rica do mundo acumula quase o dobro da riqueza de todo o resto do mundo

Twitter processa Elon Musk
REUTERS/Mike Blake

 Elon Musk tem menos carga fiscal do que um comerciante no Uganda.

A organização humanitária Oxfam defende um aumento dos impostos sobre multimilionários para combater a desigualdade, pobreza e alterações climáticas, denunciando num relatório que o empresário norte-americano Elon Musk tem menos carga fiscal do que um comerciante no Uganda.

O relatório intitulado “Sobrevivência dos mais ricos” revela que 63% de toda a nova riqueza criada desde 2020, no valor de 42 biliões de dólares (39 biliões de euros), beneficiou apenas 1% da população mundial. O montante representa quase o dobro do dinheiro ganho pela restante população mundial (99%).

Na última década, este 1% arrecadou quase metade de toda a nova riqueza gerada.

Segundo o estudo, os multimilionários aumentam a respetiva riqueza em 2.700 milhões de dólares (2.500 milhões de euros) por dia, numa altura em que o mundo está a ser afetado por uma crise do aumento do custo de vida, em que a inflação cresce mais do que os salários.

O relatório da Oxfam dá o exemplo de Elon Musk, o magnata norte-americano (de origem sul-africana) do setor da tecnologia e um dos fundadores da fabricante de automóveis elétricos Tesla, um dos homens mais ricos do mundo, o qual diz ter pago uma “verdadeira taxa de imposto” de cerca de 3% entre 2014 e 2018.

Pelo contrário, segundo a organização não-governamental (ONG), Aber Christine, vendedor de farinha no Uganda, ganha 80 dólares (74 euros) por mês e paga uma taxa de imposto de 40%.

No documento, a Oxfam exorta os governos mundiais a introduzir impostos extraordinários de solidariedade sobre os multimilionários para combater a “explosão de desigualdade” registada nos últimos anos.

A organização sugere aumentar permanentemente os impostos sobre os mais ricos para pelo menos 60% dos rendimentos de trabalho e capital, com taxas mais elevadas para os magnatas.

Em particular, a Oxfam defende aumentos de impostos sobre as mais-valias, sucessório, contribuições prediais e fundiárias e taxas sobre o património líquido.

Uma análise da Fight Inequality Alliance, Institute for Policy Studies, Oxfam e the Patriotic Millionaires concluiu que um imposto anual sobre a riqueza de até 5% sobre bilionários e multimilionários em todo o mundo poderia angariar 1,7 biliões de dólares (1,57 biliões de euros) por ano.

A receita, segundo estimaram as entidades, seria suficiente para tirar dois biliões de pessoas da pobreza, cobrir os valores em falta dos atuais apelos humanitários, cumprir um plano de 10 anos para acabar com a fome, apoiar os países mais pobres afetados pelas alterações climáticas e garantir cuidados de saúde universais e proteção social a todas as pessoas que vivem em países de baixo rendimento e rendimento médio baixo.

“Tributar os super-ricos e as grandes empresas é a saída para as atuais crises simultâneas”, argumentou a diretora-executiva da Oxfam International, Gabriela Bucher, que rejeita o “mito conveniente de que os cortes nos impostos para os mais ricos permitem que a sua riqueza de alguma forma beneficie economicamente os outros”.