Uber utilizou violência contra motoristas para se promover

Uber utilizou violência contra motoristas para se promover
REUTERS/David Swanson

Portugal está entre os países onde a Uber usou a violência de taxistas para obter benefícios para a empresa. Uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas revela milhares de documentos que mostram a forma como a plataforma contornou regras para chegar ao sucesso.

São mais de 124 mil documentos, já apelidados de “Ficheiros Uber”, que mostram como a empresa contornou regras para pôr em marcha uma estratégia de crescimento global. Uma revisão à lupa a e-mails, faturas, textos e outros documentos internos, feita pelo Consórcio Internacional de Jornalistas, mostra que a gigante tecnológica contornou a lei, enganou polícias, incitou à violência contra os próprios motoristas e até pressionou secretamente líderes políticos a relaxar as leis laborais e de táxis em benefício do negócio. Um dos nomes envolvidos é o de Emmanuel Macron.

Nas informações tornadas públicas The Guardian, consta que o presidente de França, na época ministro da Ecomonia, terá feito um esforço acrescido para ajudar a Uber no país, chegando a dizer à empresa que havia um acordo secreto com os opositores do Governo. O jornal britânico cita mensagens trocadas entre o político francês e o co-fundador da plataforma, Travis Kalanick, em que o responsável da Uber desvaloriza as preocupações dos próprios motoristas, que receavam ser agredidos por taxistas em protestos em França. Kalanick chega a dizer mesmo, numa dessas mensagens escritas, que “a violência garante o sucesso”.

Outro dos exemplos apresentados pelo Consórcio é referente a Portugal, em 2015. Na época, os taxistas cometeram atos de violência contra motoristas da Uber e Rui Bento, gestor da Uber em Portugal nesse ano, aparece citado num e-mail a dizer que ponderava usar a informação desses ataques para degradar a imagem pública da ANTRAL, a maior associação portuguesa de taxistas.

Os “Ficheiros Uber” cobrem as operações em 40 países entre os anos 2013 e 2017, período em que a empresa de transportes se tornou numa gigante global, arrasando o negócio dos táxis em vários pontos do planeta. Outra das estratégias adoptadas pela plataforma passou por minar os mercados estabelecidos de táxis e pressionar governos a adoptar modelos de trabalho desregulados.

Ainda de acordo com o The Guardian, a Uber assegurou o apoio de várias figuras poderosas na Rússia, Itália e Alemanha, em troca de participações financeiras na empresa e pagou a prestigiados académicos para produzirem estudos que confirmassem o acréscimo económico que a tecnologia trazia aos mercados.

A Uber já reagiu às conclusões da investigação e assumiu os erros do passado, alegando que os mesmos culminaram com uma mudança na estratégia de gestão da empresa. Travis Kallanick está afastado da gigante tecnológica desde 2017, como resultado de vários processos judiciais de que foi alvo.