Como falar da guerra às crianças?

Avô viola neta em Resende

Adultos devem preparar-se e selecionar informação fidedigna.

Os conflitos entre Rússia e Ucrânia têm sido o assunto principal nas televisões ou redes sociais e são cada vez mais as crianças a questionarem o que está a acontecer.

A psicoterapeuta Marta Calado deixa alguns conselhos a pais ou professores na hora de abordar o tema.

Falar ou não falar com as crianças sobre a guerra? Este é um assunto difícil de explicar e são muitos os pais e professores que não sabem como abordar o tema.

Para Marta Calado, o adulto deve preparar-se antes de iniciar o diálogo.

“É importante fazer aqui uma triagem de algumas fontes de informação que sejam imparciais para que de facto se sinta capaz de responder com confiança com notícias que sejam corretas e atualizadas. Porque a verdade é que os jovens vão estar durante algum tempo a fazer perguntas e assim promovemos este nível de segurança e de confiança do adulto”, afirma.

O acesso à informação deve ser feito em conjunto, com o objetivo de o adulto perceber de que forma poderá estar a criança a assimilar a quantidade de notícias a que está exposta, ajudando assim na forma como os sentimentos e emoções do menor poderão estar a ser afetados.

Para a psicoterapeuta, é fundamental adaptar o discurso à faixa etária e contar sempre a verdade. Contudo, o acesso à informação deve ser feito de forma controlada.

“Não estarem constantemente expostos a essas notícias. Portanto, haver aqui uma restrição porque ao fim e ao cabo poderemos estar sujeitos também a uma modelagem de comportamento, as crianças podem-se tornar mais irritadiças, podem-se tornar mais agressivas, mais tensas, mais nervosas, isto pode perturbar também aqui a concentração, o sono. E portanto há crianças que são realmente mais ansiosas, ainda estão mais tensas fruto de tudo isto que viveram com a pandemia. E portanto temos de optar por mediar muito mais o discurso, a forma com transmitimos as palavras que utilizamos, os exemplos que damos, a forma como vamos desconstruir muitas das notícias que são absorvidas, que ouviram na escola, junto de colegas, algum vídeo que viram no telemóvel de um colega…”, continuou.

Marta Calado sugere ainda aos pais ou professores que expliquem a importância de no meio da guerra existir um lado que está à procura da paz.

“O que é importante é nós passarmos a mensagem que existem pessoas importantes que estão a promover a paz, a defesa, a procurar fazer o bem, a investir naquilo que é o concílio de algo, um acordo, respeitando os direitos de todos, e isto não significa estarmos passivos. Podemos continuar a viver a nossa vida, não é uma atitude de desistência, estamos a lutar na mesma pela justiça. Podemos incitar os mais novos a realmente fazerem um desenho promotor da paz ou realmente ajudarem num movimento de solidariedade que é uma forma em que eles se sintam envolvidos na procura do bem e da paz”, concluiu a psicoterapeuta.

A profissional de saúde pede que as rotinas agora reconquistadas após dois anos de pandemia em Portugal sejam mantidas em prol da saúde mental das crianças que, em muitos casos, ainda estão a recuperar de dificuldades psicológicas como pensamentos obsessivos, ansiedade social ou dificuldades escolares.