Onde está o marido e o que ficou a fazer na Ucrânia. Perguntas que causaram estranheza a uma refugiada ucraniana que chegou a Portugal no dia 19 de março com as duas filhas de seis e oito anos. Ao jornal Expresso, a cidadã explica que durante o atendimento no Gabinete de Apoio aos Refugiados, criado pela Câmara Municipal de Setúbal, o passaporte e a certidão das crianças também foram fotocopiados. Documentos pessoais que ficaram nas mãos de dois russos. Uma jurista dos serviços da autarquia e ainda o marido que não tem qualquer vínculo com o município encabeçado pelo Partido Comunista. Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos.
De acordo com o relato de Olga, de 35 anos, foi no Centro de Emprego que encontrou Igor. Estava a ajudar a traduzir documentos e conversas com refugiados ucranianos e foi também quem fez a marcação para ir ao gabinete onde a mulher trabalha.
Mas o presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, recorda que Setúbal não é caso único e alerta para a gravidade do que está a acontecer.
“Já temos várias denúncias de ucranianos cá em Portugal de que estas organizações Pró-russas estão a receber e fazer atendimento dos refugiados ucranianos que vêm procurar segurança em Portugal. Para nós, esta situação é muito perigosa. Principalmente mulheres e crianças com stress pós guerra com uma situação muito sensível psicologicamente são alvo fáceis para a recolha de informação estratégica da vida delas e também da defesa da Ucrânia”, disse à Record TV.
Desde o início da guerra que estes episódios têm sido denunciados pela Embaixadora da Ucrânia em Portugal. Pavlo Sadokha pede ao Alto Comissariado para as Migrações cuidado na seleção de quem está a receber refugiados.
“Do outro lado isto é muito perigoso porque sabemos que estas organizações fazem parte da propaganda russa. Eles vão continuar a trabalhar com estes estes refugiados ucranianos não sabem que são russos porque eles não se identificam”, revela.
Em reação à denúncia, a Secretária de Estado da Igualdade e Migrações enviou hoje ao Alto Comissariado para as Migrações um pedido de esclarecimento, com carácter de urgência.
Entretanto, também a autarquia de Setúbal reagiu em comunicado. Adianta que vai pedir ao Ministério da Administração Interna que averigue o teor das suspeitas. Quanto à jurista russa que estava no atendimento dos cidadãos ucranianos, o município avança que até a situação ser totalmente esclarecida, a técnica estará afastada de funções.