Saída da ministra era “expectável”

Saída da ministra era “expectável”

Administradores Hospitalares referem falta de condições que Marta Temido foi tendo para fazer mudanças no SNS.

O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) considerou hoje que a demissão da ministra da Saúde “era expectável” face à falta de condições que Marta Temido foi tendo para fazer mudanças necessárias no Serviço Nacional de Saúde.

“Diria que era uma demissão expectável (…). A dificuldade de diálogo que foi acumulando com os diferentes intervenientes acabou por ditar esta demissão. Diria que era expectável que viesse a acontecer, mas não esperávamos que fosse já”, disse à Lusa Xavier Barreto.

Na opinião do presidente da APAH, Marta Temido não conseguiu mobilizar o setor e não teve a força política para convencer o Conselho de Ministros a tomar decisões importantes sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“O SNS precisa de reformas urgentes, o setor das urgências foi o mais abordado nos últimos tempos com os encerramentos, mas é preciso lançar reformas importantes e para isso temos que ter os profissionais connosco, temos de ser capazes de os mobilizar. A senhora ministra foi perdendo essa margem de mobilização do setor para essas mudanças. Esse foi o principal problema. Teve também sempre alguma dificuldade em fazer valer dentro do Governo, dentro do Conselho de Ministros, as suas propostas de mudança e a necessidade de reforçar SNS”, sublinhou.

Questionado sobre aspetos positivos na governação de Marta Temido, o presidente da APAH realçou o combate à pandemia de covid-19.

“Destacaria o empenho e a dedicação que revelou durante o combate à pandemia, que não foi isento de erros. Houve vários problemas de descoordenação, que foram sendo mitigados até com reforço das administrações dos diferentes hospitais, mas ninguém dúvida da sua dedicação, do empenho, dos esforços que a ministra entregou no combate à pandemia”, salientou.

Quanto ao próximo ministro da saúde, Xavier Barreto disse esperar que seja um ministro com “capacidade técnica e conhecimento do setor, mas que tenha uma forte força politica para convencer o Conselho de Ministros a investir mais no SNS”.

“Reforçar aspetos fundamentais do SNS como por exemplo as carreiras dos profissionais de saúde. Destacaria a nossa, a dos administradores hospitalares, que está por rever há mais de 20 anos, que não teve nenhuma evolução durante o mandato da Marta Temido, uma situação que lamentamos e esperemos que seja uma prioridade para o próximo ministro da Saúde”, concluiu.

A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a demissão por entender que “deixou de ter condições” para exercer o cargo, demissão que foi aceite pelo primeiro-ministro, António Costa.

“A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao primeiro-ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo”, dá conta uma nota enviada pelo ministério às redações na madrugada de hoje.

Poucos minutos depois, um comunicado do gabinete do primeiro-ministro informou que António Costa “recebeu o pedido de demissão da ministra da Saúde” e que o aceita.

António Costa agradeceu “todo o trabalho desenvolvido” por Marta Temido, “muito em especial no período excecional do combate à pandemia da covid-19”.

Na nota divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro acrescenta-se que o executivo “prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses”.

Marta Temido iniciou funções como ministra da Saúde em outubro de 2018, sucedendo a Adalberto Campos Fernandes.

Durante os seus mandatos, Marta Temido esteve no centro da gestão da pandemia, que começou em 2020, mas também atravessou várias polémicas. Recentemente, o encerramento dos serviços de urgência de obstetrícia em vários hospitais por falta de médicos para preencher as escalas pressionou a tutela.