Os números do Relatório Anual de Segurança Interna não revelam, na verdade, um aumento dramático da criminalidade juvenil, mas a entrada de adolescentes cada vez mais cedo no mundo do crime e a utilização das redes sociais como meio para o escalar da violência. Estas são preocupações assumidas pela PSP em entrevista.

Nos últimos meses, Portugal tem assistido a um crescente envolvimento de adolescentes em assaltos, distúrbios e confrontos violentos – delitos que têm sido notícia quase diariamente. Estes novos dados têm sido analisados pelas autoridades, permitindo chegar a algumas conclusões.

O Intendente Hugo Guinote, Chefe da Divisão de Prevenção Pública e Proximidade da PSP, explica que os adolescentes entram cada vez mais cedo no mundo do crime e que o recurso a armas são as características mais evidentes desta recente análise ao fenómeno.

Segundo Hugo Guinote “conforme se pega num telemóvel e numa carteira, um jovem está a pegar numa arma branca… e isso pode ser promotor de consequências muito mais graves do que só injúrias ou ameaças”, explica. 

A evolução da delinquência juvenil

A delinquência juvenil não é um fenómeno novo. A PSP relembra que a criação do Programa Escola Segura, na década de 1990, é prova disso. O consumo de drogas pesadas e a rivalidade de grupos de jovens de diferentes escolas estavam, à época, na origem da violência, que era preciso ser combatida.

Atualmente, há uma espécie de mudança da realidade social. A rivalidade entre grupos passou a ser entre bairros e o transporte destas guerras para as redes sociais trouxe consigo o escalar da violência, com o aparecimento de ameaças com armas de fogo e armas brancas.

Jovens criminosos

O Intendente da PSP vai mais longe e revela que “o recurso a armas origina consequências mais gravosas. Não podemos dizer que é um mau comportamento dos jovens. É mais grave do que isso, é criminoso. E os jovens entram cada vez mais cedo neste ambiente. Isso é que nos obriga a repensar a forma como gerir a delinquência juvenil”.

O estudo da evolução da tipologia do crime que envolve os adolescentes leva as autoridades a crer que, com as redes sociais, a violência em países como os Estados Unidos e o Reino Unido chega rapidamente aos jovens portugueses

Em causa poderá estar um “mimetizar” desses comportamentos, sendo “uma consequência de um mau uso das redes sociais”, explica o Intendente Hugo Guinote. Mau uso que fomenta a violência gratuita e acaba por banalizar a criminalidade. 

Entre os jovens existe atualmente “um degladiar de argumentos e de rivalidades bairristas nas redes sociais com ameaças, provocações e que acaba por se concretizar em crimes físicos. Isso é o que mais nos preocupa nesta altura: a facilidade com que utilizam a violência e a ameaça, com a ostentação de armas, e isso denota uma naturalização deste tipo de comportamentos”, revela a PSP.

Lisboa e Setúbal são os dois distritos em que a delinquência juvenil lidera. Logo a seguir surge o distrito do Porto

Não é difícil perceber que as grandes cidades e, consequentemente, a existência de uma maior concentração de bairros sociais têm contribuído para o fenómeno.

A PSP é uma das entidades que está a trabalhar na Comissão criada pelo governo no verão do ano passado para analisar a delinquência juvenil, para que seja possível delinear uma estratégia, com medidas cirúrgicas para prevenir e atacar a delinquência juvenil.

FONTE© Envato