O xadrez é uma coisa de família. Hussain Besou tinha apenas quatro anos quando começou a pedir ao pai para aprender jogar.

“Na minha família sempre jogámos xadrez todos juntos. O meu pai e eu, com os meus irmãos. O Hussain costumava juntar-se e perguntava como se moviam as peças, como se jogava e foi assim que começou a aprender os movimentos básicos do xadrez”, contou Mustafa Besou, pai de Hussain, à agência Reuters.

Depois disso o talento foi-se revelando. “Ele começou a ver movimentos táticos que nós não conseguíamos ver. Após seis ou sete meses, o Hussain era já muito, muito bom”, explicou.

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Hussain e o pai Mustafa Besou | © Reuters

Hussain, de nacionalidade síria, chegou com a família à Alemanha em 2016, como refugiados. Instalaram-se na pequena cidade de Lippstadt e uma das primeiras coisas que Mustafa fez foi comprar um pequeno tabuleiro de xadrez e inscrever o pequeno Hussain num clube onde crianças jogassem.

Os treinadores perceberam de imediato que Hussain estava muito acima da média das outras crianças, ainda que não tivesse conhecimentos suficientes da língua alemã para perceber o que os treinadores diziam. Além do talento e visão estratégica, era a competitividade da criança que impressionava.

Um dos professores de Hussain, Andreas Kuehler, revela que durante um dos exercícios de aprendizagem, nos quais os jogadores eram convidados a trocar de lugares de tabuleiro a meio do jogo para se apoderarem da estratégia do adversário, o jovem sírio mostrava muita resistência em desistir do próprio jogo.

“Ele recusava-se de forma categórica a virar o tabuleiro, preferindo parar de jogar completamente. Aquilo não era aceitável para ele. Essa ambição, até certo ponto, obviamente faz parte dele. E era, certamente, muito impressionante”, contou Andreas Kuehler.

Aos seis anos, Hussain passou para um clube de xadrez a nível estatal, tal como recomendado pelos professores da altura

O xadrez é um talento de Hussain, mas para esta criança foi também um mecanismo de integração no país. “Comecei a jogar muitos torneios aqui na Alemanha e foi assim que melhorei o meu alemão. E também foi assim que fiz mais amigos”, conta o jovem sírio, atualmente com 11 anos.

Hussain participou em várias provas de xadrez, conseguindo o primeiro lugar no torneio de sub-10 da Alemanha, em 2020, e o terceiro lugar no campeonato mundial sub-12, no ano passado.

Hussain Besou não passou despercebido à Federação de Xadrez da Alemanha, que o convidou para integrar a equipa nacional do país. Aos 11 anos, Hussain é o jogador mais novo de sempre a integrar a equipa alemã que irá participar na Mitrona Cup, na Croácia.

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Hussain e Andreas Kuehler, um dos mestres que tem contribuído para o desenvolvimento do jovem prodígio no xadrez | © Reuters

“Estamos muito orgulhosos por o Hussain ter sido convidado a juntar-se à seleção alemã para participar em torneios internacionais. Desejamos que a seleção alemã alcance bons resultados. Isso será um grande sucesso para a Alemanha, mas também para o Hussein”, afirmou o pai, Mustafa.

Vida em suspenso

Hussain, tal como a restante família, encontram-se atualmente na Alemanha com autorizações temporárias. A incerteza em relação ao futuro ainda os afeta, mas acreditam que a integração no país é o passo mais acertado para que o temporário se transforme em permanente.

“Claro que é desconfortável saber que temos apenas um estatuto temporário por dois ou três anos e estarmos sempre a pensar: ‘O que farei quando esses anos acabarem? A minha autorização de permanência será estendida ou não?’” explica Mustafa.  

“Mas acho que o importante sermos nós próprios, aprender o idioma e ter formação no que queremos trabalhar. Por exemplo, eu sou um dentista e estou constantemente a tentar ter os meus certificados reconhecidos aqui para que possa encontrar um emprego e assim integrar-me na sociedade. A situação na Síria é lamentável. Esperamos que as coisas lá melhorem”, afirmou o pai de Hussain.

Apesar de algumas dificuldades, Mustafa só tem a agradecer à Alemanha, reconhecendo que na Síria, o talento do filho seria, dificilmente, reconhecido

Se ele estivesse na Síria com este talento, precisaria de alguém com autoridade para apoiá-lo de forma a conseguir destacar-se, e mesmo assim, só poderia ter chegado a um certo ponto”, explicou o progenitor.

A família lançou uma campanha de crowdfunding de forma a ajudar a financiar os custos das viagens e treino para os torneiros, esperando que Hussain encontre, entretanto, um patrocinador de forma a continuar a carreira como jogador de xadrez.

FONTE© Reuters