Uma vedação em latão bastante grafitada esconde uma das moradas mais insólitas de Londres. Fica em Bermondsey, no sudeste da capital britânica. O letreiro diz ‘skip house’ (casa-contentor) e é mesmo isso que ela é: um contentor de lixo de construção, adaptado para ser uma casa minúscula, onde Harrison Marshall vai morar durante um ano.
Tudo começou quando o jovem artista de 28 anos regressou a Inglaterra, depois de uma temporada fora do país, e não encontrou um sítio para morar, a um custo acessível.

“Como é o caso de milhares de pessoas pela cidade e pelo país, os preços tornaram-se em algo absurdo. A renda é inacreditável. Mesmo quando encontrei um quarto dentro do meu orçamento, já havia mais de cem pessoas à procura dele”, explica o jovem.
A par da crise no mercado imobiliário, a inflação dos preços no Reino Unido também afetou o custo e o modo de vida. A solução criativa encontrada por Marshall passou por pedir o terreno por empréstimo a uma instituição de solidariedade e investir 4500 euros num teto de madeira, numa cozinha pequena e num espaço para uma cama.
Durante o pequeno tour pela casa, confessa que o teto curvo, que fica mesmo por cima da cama, é uma das suas partes favoritas porque “faz lembrar um casulo”. Todos os espaços laterais foram aproveitados para armazenamento, onde guarda livros, roupas e objetos pessoais.
Descendo por uma pequena escada, encontramos mais valências desta casa: a sala e a cozinha, com o mínimo indispensável. Tem um fogão e um frigorífico em ponto pequeno… com pouco mais de um palmo de altura. Tem apenas dois refrigerantes no interior, ou seja, e segundo Harrison, praticamente nada.

Apesar de cozinhar esporadicamente em casa, o jovem conta com muito apoio da vizinhança que descreve como “incrível”. Vão trazendo-lhe frutas e legumes frescos e até refeições quentes. O vizinho do terreno ao lado foi até mais longe e fornece água por uma mangueira.
Então, e a casa de banho?

Deixemo-nos de romantismos e respondamos à pergunta que se impõe. Não há casa de banho. Pelo menos, não há banhos. Tudo o que há fica a uns metros do contentor e é uma pequena cabine portátil instalada no jardim. Os duches são tomados no local de trabalho de Harrison – a 10 minutos de bicicleta – ou então no ginásio.
Uma rotina que se vai manter até fevereiro do próximo ano, para alertar o governo britânico para as dificuldades que a população enfrenta neste período de crise.