O incidente ocorreu na passada terça-feira. O alerta foi dado às autoridades pelas 15:42 com os pais do bebé, já ferido, a irem ao encontro dos primeiros meios de socorro no parque de estacionamento de um supermercado no Carregado.

O óbito do recém-nascido seria declarado no local. O cão responsável pelo ataque é um pastor-belga-malinois, fora da categoria do que são consideradas raças perigosas em Portugal.

A GNR informou que não existe registo de qualquer denúncia relacionada com a família no Tribunal de Alenquer, não sendo conhecida qualquer prática de negligência ou maus-tratos sobre menores.

Os dois cães da família foram retirados para os canis municipais de Alenquer e Vila Franca de Xira, onde um veterinário irá determinar que destino irão ter. No limite, o cão envolvido no ataque poderá ser abatido.

Apesar de trágico, o acontecimento não é inédito

Autoridades registam média de quatro ataques de cães por dia

 

Números divulgados este ano pelo ‘Jornal de Notícias’ revelam que a PSP e a GNR contabilizaram no ano passado 1 494 ataques de cães, numa média de quatro ataques por dia.

Em janeiro de 2013, um bebé de ano e meio foi atacado por um cão cruzado de pittbull, em Beja. A criança ainda foi transportada com vida até ao hospital de Santa Maria, em Lisboa, com um traumatismo craniano, mas acabou por não resistir aos ferimentos. O ataque aconteceu na casa da avó, onde a criança vivia com os pais. A avó e os pais foram acusados de crime de exposição ou abandono de criança agravado pelo resultado. O animal não era vacinado contra a raiva desde 2006 e já tinha tido alguns episódios de violência, nomeadamente com a avó da criança.

A 4 de setembro de 2015, um pastor alemão atacou mortalmente uma criança de cinco anos. Ela estaria habituada a brincar com o cão, que pertenceria a avó do menino e estava preso junto à casa, na localidade de Ribolhinhos, em Castro Daire, no distrito de Viseu. O menino acabaria por morrer depois de ser mordido no pescoço.

Ataques de cães uma tragédia repetida_1
© Envato

Em 2012, um cão de raça dogue-argentino atacou duas crianças. Uma menina de oitos anos e a irmão mais nova, de apenas 20 meses, tiveram sortes diferentes, com a mais nova a falecer na sequência do ataque. As meninas estariam a brincar numa casa no centro do Porto. O cão estaria fechado no terraço, juntamente com outro animal da mesma raça, mas alguém ter-se-á distraído com a porta, com um dos cães a atacar as meninas.

Estes são alguns dos casos de cães a atacarem crianças sendo visível que em muitas destas situações, os animais fazem parte dos agregados familiares ou são conhecidos das crianças.

Cães são animais de rotinas e reagem a “estímulos”

Cães perigosos e potencialmente perigosos

 

De acordo com a página no site da PSP sobre o assunto, a classificação de um cão de raça perigosa ou potencialmente perigosa obedece a vários critérios:

– Tenha mordido, atacado ou ofendido o corpo ou a saúde de uma pessoa;

– Tenha ferido gravemente ou morto outro animal fora da propriedade do detentor;

– Tenha sido declarado como tal pelo seu detentor à junta de freguesia da sua área de residência;

– Tenha sido considerado como tal pela entidade competente devido ao seu comportamento agressivo ou especificidade fisiológica.

 

Lista de raças perigosas ou potencialmente perigosas:

> Cão de fila brasileiro;

> Dogue argentino;

> Pit bull terrier;

> Rottweiller;

> Staffordshire terrier americano;

> Staffordshire bull terrier;

> Tosa inu.


De acordo com a legislação atualmente em vigor, os detentores de cães perigosos ou potencialmente perigosos tem de fazer uma formação sobre o tema, dada pela PSP ou GNR, sendo que ficam também obrigados a promover o treino dos animais preferencialmente entre os seis e os 12 meses de idade.

A chegada de um novo elemento a uma família pode ser desafiante a todos os níveis. Para os animais não é diferente, principalmente se a chegada de um bebé interferir com as rotinas familiares já instauradas. Costumamos acreditar que os animais também sentem e podem ser inundados de sentimentos comuns na racionalidade que distingue os seres humanos dos outros animais, como o ciúme, algo que para os especialistas não é assim tão evidente.

“Sentimentos relacionados com racionalidade, como ciúme, não é algo que possamos atribuir a um cão. Existe sim uma resposta a estímulos: o animal pode responder aos estímulos de forma variada e a forma como vai responder a esses estímulos vai depender da sua sociabilização, da forma como está integrado na família”, explica António Henriques, treinador de cães perigosos certificado.

Ataques de cães uma tragédia repetida_3
© Envato

Para a António Henriques não existem truques que permitam uma maior integração de um bebé com um cão, apenas uma normalidade que deverá reinar no seio familiar sendo que as rotinas normais existentes entre o animal e os seus donos deverão manter-se, apesar das alterações provocadas pela chegada de uma criança.

“A chegada de um bebé a casa deve ser encarada com normalidade e não deve representar uma alteração na rotina do animal, para que essa chegada não represente um desconforto para o animal em relação ao seu ambiente”, explica António Henriques. Para o treinador, uma alteração na rotina do animal poderá levar o cão a “sentir que algo mudou e, perante isso, ele vai ter de procurar outra forma de estar em relação aos donos”.

“O afeto que já existia, as rotinas que já existiam, deverão acontecer de forma habitual e natural. Aquilo que existirá depois [do nascimento de uma criança] será uma tarefa a mais, com a qual os pais terão de aprender a lidar. A situação em si, há milhões de cães, milhões de famílias, milhões de bebés em que não acontece rigorosamente nada, em que é uma coisa perfeitamente natural, orgânica”, afirma.

Para António Henriques, um animal é sempre uma responsabilidade e essa deve ser sempre imputada aos respetivos donos.

“O meu cão tem um conjunto de necessidades que advêm, quer da sua própria raça, ou apenas da sua própria individualidade. Este conjunto de necessidades, de energia, tem de ser estimulado e correspondido. Quando eu integro um novo elemento ele deve fazer parte desta estimulação. Ou seja, se eu já ia passear o meu cão, o meu filho vai comigo. Se eu já ia fazer a minha volta habitual, continuo a fazê-la; se eu já brincava com o cão, continuo a brincar. Há determinadas regras que os pais já têm com o cão e essas regras devem ser passadas aos seus filhos, para que se evitem acidentes”, conclui. 

FONTE© Envato