Não é certo que o consumo de drogas tenha aumentado, porque há estudos com conclusões distintas, mas o período da pandemia é apontado como o momento em que surgiram novas formas de consumo.

A psiquiatra Maria Moreno explica que, durante aquele tempo “houve uma diminuição no consumo de drogas de tipo recreativo”. Mas se isto poderia ser uma informação positiva, por outro lado “houve um grande aumento nas drogas para ultrapassar sintomas de problemas psiquiátricos como ansiedade e depressão”.

Há cada vez mais pessoas a chegar a consultas de psiquiatria, depois de se terem automedicado, durante algum tempo. Nas palavras da psiquiatra, trata-se de usar “as drogas como um ‘paninho quente’ em cima dos sintomas”. Maria Moreno dá o exemplo do “consumo de canábis, que não vai aumentar o apetite a longo prazo”. Nestes casos, o que acontece é que o sintoma já não se nota, mas por não estar curado, acaba por agravar.

Drogas: novas formas de consumo
Maria Moreno, médica psiquiatra | © D.R.

O caminho de um consumo esporádico até à dependência não é longo e começa a surgir a necessidade de consumir mais. No tipo de consumo, é possível distinguir dois perfis distintos. Em relação às dependências primárias é “um perfil tendencialmente de pessoas mais jovens, muitas vezes do sexo masculino e que consomem só como utilização recreativa”. Do outro lado, existe um grupo de “pessoas de mais idade, em que muitas vezes está presente uma dependência secundária, que surge para colmatar alguns sintomas”.

Há por isso uma distinção entre quem consume, mas não são grupos fechados e os consumos não acontecem apenas em lugares ou agregados específicos. Uma característica conhecida é que a capacidade financeira pode ter impacto no tipo de droga consumida.

A psiquiatra Maria Moreno revela que as “drogas mais caras, muitas vezes, são consumidas em meios sociais mais abastados”. Por outro lado, “as drogas mais baratas, como o crack, são consumidas em meios sociais menos favoráveis”

A juntar a esta distinção, é conhecido que “num contexto de inflação e dificuldades económicas, há uma evolução no consumo destas drogas”, explica.

Ao falar sobre este assunto, a psiquiatra frisa que a mudança que se vive e a inflação trazem-lhe alguma preocupação, enquanto profissional. “O ambiente vai estar alterado, há menos recursos, mais dificuldades. Se o emprego não corre bem, há um aumento de stresse persistente, que leva à doença psiquiátrica”, um caminho que não é possível controlar e pode trazer consequências negativas.

O consumo de droga está associado a várias doenças psiquiátricas. Podem produzir efeitos tóxicos diretos, alterações psicóticas, delírios ou paranoias. Para a psiquiatra Maria Moreno, falar neste tema é importante, assim como relembrar que há tratamentos e ajuda para estes casos.