Seis pessoas – três adultos e três crianças – foram mortas a 27 de março, depois de uma jovem de 28 anos ter entrado numa escola particular fortemente armada e disparar de forma indiscriminada. Um ataque que chocou a comunidade de Nashville, no estado norte-americano do Tennessee.

Mas, na verdade, o acontecimento não parece chocar assim tanto tendo em conta a realidade norte-americana no que toca a incidentes que envolvem armas.

O tiroteio na The Covenant School foi o 131.º incidente do género no espaço de apenas três meses, segundo revelam os números do Gun Violence Archive, uma plataforma que contabiliza os tiroteios nos quais quatro ou mais pessoas são mortas ou feridas.

EUA morrem mais crianças baleadas do que num acidente de carro
Homenagem às seis pessoas, das quais três eram crianças, que perderam a vida após um tiroteio numa escola em Nashville | © Reuters

Um número que começa já a ganhar forma e que parece revelar uma tendência de crescimento face ao passado recente. Também 2020, 2021 e 2022 revelaram-se muito mais mortais que os anos anteriores. 

Só em 2023 a mesma plataforma revela que são mais de dez mil as mortes provocadas por incidentes a envolver armas de fogo. Quando analisadas as vítimas mortais, com idades compreendidas entre os primeiros tempos de vida e os 11 anos, foram contabilizadas 59 mortes e 130 bebés e crianças que ficaram feridos.

Tiroteios: a principal causa de morte nas crianças

As armas são a principal causa de morte de crianças e adolescentes nos Estados Unidos, depois de em 2020 terem superado os acidentes de viação.

Após o tiroteio de Nashville, o médico Sam Ghali publicou uma imagem de uma radiografia ao tórax no Twitter e lançou o debate. “Aqui está a radiografia ao tórax de uma jovem que sofre de uma condição que agora é a causa número um de morte em crianças e adolescentes nos Estados Unidos. Qual é o diagnóstico?”, questionou.

As armas de fogo representaram quase 19% das mortes nas idades entre 1 e 18 anos em 2021, segundo confirmaram dados Wonder do Centro de Controlo Prevenção de Doenças, um órgão ligado ao Departamento de Saúde norte-americano. Naquele ano, quase 3600 pessoas morreram em incidentes relacionados com armas. 

Quando comparado com países de dimensão, estilo e condições de vida semelhantes, os Estados Unidos são o único onde as armas de fogo estão entre as quatro principais causas de mortalidade entre crianças, segundo explica a análise da organização KFF

Posse de arma continua a aumentar

Apesar da controvérsia sobre o livre acesso a armas e o debate constante no país, os números sobre a posse de armas nos Estados Unidos continuam em crescendo.

As vendas de armamento no país atingiram um valor recorde de 23 milhões de dólares em 2020, o que revela um aumento de 65 por cento face ao ano anterior. Em 2021 o número de norte-americanos que comprou uma arma a título pessoal continuaram altos.

É difícil conhecer o número exato de armas que existem a título particular, mas os números do Small Arms Survey – um projeto de investigação suíço – estimavam que, em 2018, existiam nos Estados Unidos 390 milhões de armas em circulação. 

Os números revelam por isso a presença de 120,05 armas de fogo por cada 100 habitantes nos Estados Unidos.

O assunto não é consensual no país. De acordo com um estudo do Gallup, uma empresa de estudos de mercado e opinião nos Estados Unidos, 57% dos americanos querem leis mais restritivas no que diz respeito ao controlo e posse de armas. Esse levantamento revela que 32% defendem a atual legislação e a facilidade de acesso enquanto 11% pretendem uma maior flexibilização da lei.

FONTE© Envato