Ainda assim, Portugal fez grandes melhorias nos últimos anos. Desde o início do conflito, o país já atribuiu mais de 43 mil pedidos de proteção temporária a pessoas que fugiram da guerra.

A 24 de fevereiro o mundo ficou em choque com o início da invasão da Ucrânia. A guerra que muitos previram, mas poucos esperavam que se tornasse realidade, gerou uma nova onda de refugiados vindos do leste da Europa.

Milhares de pessoas deixaram as suas casas e seguiram até à fronteira ucraniana para entrar em países como Polónia, Roménia ou Moldova. Portugal não seria, à partida, um destino óbvio para estas pessoas, mas uma larga comunidade ucraniana já existente no país, aliada ao clima de paz, fez com que centenas de pessoas optassem por terras lusas.

De acordo com os últimos números do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras já foram atribuídas 43 483 proteções temporárias a quem fugiu da guerra. A grande maioria são mulheres: 27 135 para sermos exatos. A território nacional chegaram também 16 358 homens e 12 825 menores.

Dificuldades na integração

André Costa Jorge, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), dá conta de como a especificidade de quem chega como refugiado ao nosso país pode constituir um desafio maior.

“Continua a haver alguma dificuldade em encontrar estruturas adaptadas para o acolhimento de refugiados, seja às pessoas individualmente, seja a famílias. Da Ucrânia temos acolhido essencialmente mulheres com crianças e isso coloca, naturalmente, questões muito práticas na forma como vamos proceder ao acolhimento de emergência”, explica.

Nessas estruturas que continuam a faltar podemos englobar habitação, emprego, a necessidade de encontrar creches e escolas que possam receber estas crianças. “Há aspetos da vida destas pessoas, que também toca à vida dos portugueses, em que há algumas deficiências na sociedade em geral, como as respostas do pré-escolar, por exemplo. É um dos aspetos que cria mais dificuldades na integração”, explica André Costa Jorge.

Promoção da autonomia

No acolhimento de refugiados existem duas fases diferentes segundo explicou André Costa Jorge: o acolhimento de emergência e a integração. Numa primeira etapa e no caso dos cidadãos ucranianos “a resposta portuguesa assentou muito naquilo que a sociedade civil, os cidadãos, disponibilizaram para o acolhimento. É verdade que muitos municípios também participaram neste processo de acolhimento, mas garantindo apenas respostas de emergência”, explicou.

É na integração destas pessoas que ficam as maiores fragilidades. “É necessário passar de respostas de emergência para uma maior autonomia, para respostas de integração. As pessoas têm de ter, não só acesso ao trabalho, mas também o acesso à língua e o acesso à habitação. São três fatores fundamentais para que os refugiados possam ficar progressivamente mais autónomos na sociedade que os acolhe”, explicou. 

Longo caminho a percorrer

Para André Costa Jorge Portugal fez uma grande evolução nos últimos anos no acolhimento de refugiados. “Têm sido dados passos importantes nos últimos dez anos, altura em que Portugal era um dos países que menos acolhia refugiados no mundo e, neste momento, o país dá mostras de ser um dos que está na linha da frente de acolhimento destas pessoas.” Existe mérito, apesar das limitações.

“Portugal não é o país que acolhe mais refugiados na Europa, ou no mundo. Também temos as nossas limitações. Mas existe um esforço da sociedade civil para criar condições de acolhimento, desde os cidadãos até às instituições e, claro, os responsáveis governativos e autárquicos que também têm sabido estar na linha da frente.”

Ainda assim, o coordenador da PAR confirma também que “há um longo caminho a percorrer para que Portugal se torne um país um pouco mais acolhedor”. 

FONTE© Envato