De acordo com Ana Gonçalves Andrade, ginecologista da Unidade de Patologia do Colo da Maternidade Alfredo da Costa, o vírus é responsável pela quase totalidade dos cancros do colo do útero, a segunda causa de morte por cancro em mulheres entre os 25 e os 45 anos. Por isso, a médica defende o reforço da prevenção e da vigilância. 

A transmissão do HPV

O vírus do papiloma humano ou HPV é um microorganismo que está na origem de uma das infeções sexualmente transmissíveis mais comuns. Foi descoberto pelo alemão Harald zur Hausen, em 1983. Em 2008 recebeu o Nobel da Medicina.

A vigilância não só previne uma evolução para o cancro do colo do útero, como evita tratamentos desnecessários

Na sua forma benigna pode provocar verrugas em várias partes da pele, mas na sua forma maligna (HPV oncogénico) é a causa principal do cancro do colo do útero, nas mulheres, e cabeça e pescoço (língua e amígdalas) nos homens, estando os números deste último a aumentar. O HPV oncogénico pode ainda provocar cancro no ânus, pénis, vulva e vagina.

Prevenir e vigiar a doença

“As mulheres com rastreio positivo para HPV de alto risco devem ter uma vigilância clínica mais regular para que o médico possa ponderar a melhor abordagem em função do risco, e assim evitar que a infeção evolua para uma doença maligna”, alerta a médica, na semana em que se assinala mais um Dia Internacional de Consciencialização sobre o HPV (4 de março).

HPV Uma doenca silenciosa e que pode ser fatal_3
O HPV é um vírus da família dos papilomavirus © Envato

A ginecologista, Ana Gonçalves Andrade, explica que esta vigilância não só previne uma evolução para o cancro do colo do útero, como evita tratamentos desnecessários e reduz os níveis de ansiedade associados a um rastreio positivo.

“Apesar de sabermos que 80 a 90% das infeções podem regredir espontaneamente, a vigilância regular (‘wait and see’ ou ‘esperar para ver’) pode ser difícil de aceitar pela doente. Mas, nesta fase, é fundamental explicar que, consoante o tipo de lesão identificada, podem não ser necessários tratamentos invasivos, como a cirurgia, e que existem outras formas de gerir e tratar a infeção até à cura efetiva. 

As mulheres com rastreio positivo para HPV de alto risco devem ter uma vigilância clínica mais regular para que o médico possa ponderar a melhor abordagem em função do risco, e assim evitar que a infeção evolua para uma doença maligna

De acordo com a especialista, cerca de 80% das pessoas sexualmente ativas terá, pelo menos, um episódio de infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV) durante a vida. Existem mais de 200 tipos diferentes, mas só alguns com potencial cancerígeno.

“Uma vez que a infeção persistente por HPV promove o desenvolvimento do cancro do colo do útero e que depende, em parte, do status imunitário do aparelho genital, estratégias que permitam melhorar a imunidade vaginal, equilibrando o seu microbioma, podem ser importantes na prevenção da infeção persistente e na progressão de lesões de baixo risco”, salienta a ginecologista Ana Gonçalves Andrade. 

A estratégia para a eliminação do cancro do colo do útero assenta em três pilares: prevenir a infeção HPV, diagnosticar lesões precursoras e tratar lesões com elevado risco de progressão

A vacinação contra o HPV é a base da prevenção primária. Disponível em Portugal, a vacina nonavalente, incluída no Programa Nacional de Vacinação (PNV), cobre os serotipos responsáveis por 90% dos cancros do colo do útero. 

A implementação do rastreio permite identificar as mulheres em risco de desenvolver cancro do colo do útero e, ao vigiá-las, reduzir a sua incidência e mortalidade. Daí que seja importante a vigilância da doente em unidades de saúde especializadas em patologia do colo, para ir avaliando a evolução da infeção e de eventuais lesões.

Estratégias de intervenção terapêutica, como produtos de aplicação vaginal, podem ser utilizados como forma de estimular a regeneração dos tecidos, potenciando a neutralização natural do HPV, e, ao mesmo tempo, diminuir os níveis de ansiedade.

Por exemplo, diversos estudos indicam que o carboximetil beta-glucano, um polímero hidrofílico mucoadesivo, contribui para reequilibrar o microbioma vaginal e apoia a regeneração das células que revestem o colo do útero. Contudo, alerta que a sua utilização não exclui a necessidade de manter uma vigilância clínica regular em centros diferenciados. 

Vacina e teste de Papanicolau

A melhor prevenção é a vacinação contra o HPV antes do início da atividade sexual. O fármaco faz parte no PNV e deve ser administrado a raparigas entre os 10 e 13 anos. Em relação aos rapazes, eles foram incluídos no PNV em 2020, sobretudo os que nasceram depois de 2009. As mulheres mais velhas podem levar a vacina do HPV, mas devem certificar-se de que não são portadoras do vírus.

A melhor prevenção é a vacinação contra o HPV antes do início da atividade sexual

O teste do HPV e a citologia (teste de Papanicolau) devem ser feitos desde que a mulher inicia a sua vida sexual. Se a citologia vier com alterações, deve contactar o seu médico. Se tiver HPV oncogénico (alto risco) – em Portugal há maior prevalência dos subtipos 16, 18, 33, 31 e 51 – faz-se uma colposcopia para ver se há lesões especiais que justifiquem uma biópsia.

Se os testes forem negativos não se faz nada, mas se for positivo atua-se estimulando o sistema imunitário (para que o vírus seja libertado ou pelo menos fique numa fase latente). A Sociedade Portuguesa de Ginecologia recomenda a vacinação das mulheres até aos 45 anos, de acordo com a indicação médica.

FONTE© Envato