Corria o mês de junho de 1972. O país estava em clima de campanha eleitoral, que culminaria com a reeleição de Nixon, naquela que foi uma vitória esmagadora, considerada uma das maiores de sempre nos Estados Unidos da América. Mas o dia 17 veio alterar o rumo da história, quando cinco homens foram detidos, na sequência da invasão da sede do Partido Democrata, no Complexo Watergate.

O grupo foi apanhado com aparelhos de escutas telefónicas, com o objetivo de obter informações para usar como chantagem política contra os democratas. A imprensa noticiou o ocorrido, ao qual não foi dada grande importância, mas o caso chamou a atenção de dois repórteres do ‘The Washington Post’.

Um homem não está acabado quando enfrenta a derrota. Ele está acabado quando desiste

Carl Bernstein e Bob Woodward embarcaram então numa investigação que os deixaria amplamente conhecidos e que os tornou numa referência no mundo do jornalismo. Após meses intensos de pesquisa, e com a ajuda do informador secreto ‘garganta funda’ – que apenas ao fim de 33 anos se soube que se tratava de William Mark Felt, diretor-adjunto do FBI – conseguiram estabelecer ligação entre a Casa Branca e a invasão à sede dos democratas. O caso acabou por ser oficialmente investigado no Senado e gravações de telefonemas na Sala Oval confirmaram que o presidente dos Estados Unidos era o cabecilha do esquema de espionagem. A 9 de agosto de 1974, Richard Nixon tornou-se no primeiro e único presidente dos Estados Unidos a renunciar ao cargo.

Da Marinha para a Casa Branca

Nasceu na Califórnia, a 9 de janeiro de 1913, e foi o segundo de cinco filhos, todos eles homens. A religião, pobreza e a perda de dois irmãos para a tuberculose marcaram a juventude de Nixon. Formou-se em Direito na Universidade Duke e chegou a exercer, mas em 1942 mudou-se para Washington D.C. com a mulher, para trabalhar para o governo. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu o país na Marinha, onde alcançou a patente de capitão-tenente.

Vencer na política não é tudo: é a única coisa

Deu os primeiros passos na política em 1946, primeiro com a eleição para a Câmara dos Representantes e depois para o Senado, em 1950. Dois anos depois, com a vitória do republicano Dwight E. Eisenhower, Nixon tornou-se vice-presidente dos Estados Unidos. A primeira corrida à Casa Branca deu-se em 1960, quando acabou derrotado por John F. Kennedy. Nixon voltou a tentar e, a 20 de janeiro de 1969, tomou posse como 37.º presidente dos EUA. 

“Figura política mais influente nas últimas seis décadas”

Quando Nixon foi eleito, todas as semanas morriam cerca de 300 soldados norte-americanos no Vietname. A guerra gerava muita contestação popular e um pouco por todo o lado estalavam protestos e manifestações violentas. Concluindo que se tratava de uma guerra perdida, o presidente empenhou-se em terminá-la o mais depressa possível e providenciou a retirada dos soldados americanos do território vietnamita. À medida que as tropas norte-americanas iam sendo retiradas, o serviço militar obrigatório foi reduzido e em 1973 cessou por completo.

O meu ponto forte, se tiver um, é a atuação: eu faço sempre mais do que prometo. [Para os EUA] é tempo de começar a atuar no mundo como uma grande nação

O governo de Nixon mostrou-se bastante dedicado em reforçar as relações com a China e com a então União Soviética (URSS). Nixon foi o primeiro presidente americano a visitar a China comunista, em 1972, iniciando assim relações diplomáticas com o país. Os EUA assinaram ainda um acordo histórico com a URSS para reduzir as armas nucleares, o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos.

No domínio interno, Nixon criou uma agência de proteção ambiental, trabalhou para o fim da segregação racial, promoveu uma maior presença de mulheres no Governo e geriu a primeira viagem do homem à Lua. A 20 de julho de 1969, Neil Armstrong tornou-se no primeiro homem a pisar solo lunar, naquele que foi “um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”. Nixon manteve uma conversa telefónica com Armstrong e Buzz Aldrin durante a caminhada pela Lua, que classificou como “o telefonema mais histórico já feito da Casa Branca”.

Nos cinco anos e meio de presidência, Nixon alcançou feitos importantes e que se vieram a revelar decisivos no futuro. No entanto, tais conquistas acabaram por ser ofuscadas, não só pelo ‘caso Watergate’, como também por algumas mostras de autoritarismo, que foram contribuindo para ditar a sua queda. De acordo com os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, Nixon “via oponentes públicos e a imprensa como inimigos e ele e a sua equipa justificavam atividades ilícitas reivindicando que os oponentes representavam uma ameaça para a nação ou para a ordem constitucional”.

“O que Nixon fez continua entre nós, para o bem ou para o mal. Por isso, ele é considerado a figura política mais influente dos EUA nas últimas seis décadas”, afirmou o historiador Stanley Kutler.

Pior Presidente dos EUA

A renúncia ao cargo, a fim de evitar o impeachment, foi anunciada através de um discurso televisivo, na noite de 8 de agosto de 1974. Nixon disse desejar que a sua saída conduzisse ao processo de “cura que tão desesperadamente” necessitavam os EUA e que o seu maior legado era “as crianças terem mais possibilidades de viver em paz”. 

Na manhã do dia seguinte, após uma despedida emocionada dos funcionários da Casa Branca, Nixon subiu ao helicóptero oficial pela última vez. Acabou por receber, um mês depois, um perdão do seu sucessor, Gerald Ford, pelos crimes que pudesse ter cometido contra o país. Outras 25 pessoas não tiveram semelhante sorte e foram detidas. Afastado da vida política, Nixon manteve, contudo, a sua posição como figura pública, chegando a publicar várias obras sobre as suas memórias e trajetória.

Partilha com George W. Bush o estatuto de governante menos popular da história dos EUA, sendo mesmo considerado por muitos historiadores como o pior Presidente do país. O biógrafo David Greenberg refere que Bush herdou um pouco do “estilo nixoniano” e que “muito do que as pessoas viam no governo Bush era associado a Nixon e ao que as pessoas não gostavam nele”.

Morreu a 22 de abril de 1994, aos 81 anos, na sequência de um acidente vascular cerebral. No final da carreira, quando confrontado que a maioria dos norte-americanos não sentiam que o conheciam, respondeu simplesmente: “Sim, é verdade. E não é necessário que eles conheçam”.

FONTED.R.