Duas casas em simultâneo

“Não há assim preços muito atrativos para aquilo que procuras porque ou as varandas estão fechadas ou transformaram uma varanda numa lavandaria e não consegues fazer nada daquilo. E depois, além do preço da casa, é o preço das obras… é o tempo que tens de esperar que as obras fiquem concluídas. É o tempo que tens de pagar da casa que estás a alugar – tens de ter duas casas em simultâneo. Não é uma opção”, sustenta João Moutinho.

No caso de Joana, foi abordada por uma imobiliária para visitar uma cave onde lhe pediram qualquer coisa como 400 mil euros. Sim. Uma cave por 400 mil euros.

“Isto joga muito com as imobiliárias. Porquê? Nós chegámos a ver uma casa em que estavam a pedir quase 400 mil euros por ela. A imobiliária disse-nos para irmos lá na mesma porque há muita falta de noção por parte dos proprietários. Acham sempre que têm minas de ouro e porque é Lisboa e central, então podem pedir aquilo que querem. Neste caso, era uma cave e era ridículo porque as paredes não eram de cimento sequer, era tudo contraplacado. Uma cave, imensa humidade, as divisões eram superpequenas e lá está, a proprietária nem sequer queria ceder. Foi tempo perdido, quando chegámos lá vimos logo que era impossível”, conta Joana Boieiro.

Acesso ao crédito ainda mais difícil

A somar a todos estes problemas, em janeiro deste ano o Banco de Portugal traçou novos prazos para o crédito à habitação em função da idade do cliente que entraram em vigor no dia 1 de abril.

A maturidade máxima destes créditos deve ser de 40 anos, para mutuários com idade inferior ou igual a 30 anos. Para mutuários com idade superior a 30 anos e inferior ou igual a 35, o prazo é de 37 anos. E para mutuários com idade superior a 35 anos a maturidade é do mesmo número, ou seja, 35 anos.

A alteração dos prazos do supervisor da banca motivou ainda mais a vontade de fechar negócio o quanto antes

“A meta é mesmo essa dos 30 anos porque acho que é uma idade certa, agora também por causa do Banco de Portugal acho que vai ser aí por essa altura. Estou com 28, portanto daqui a dois anos espero que sim”, espera João Moutinho.

“Quando começámos a ver essas notícias a apareceram pensámos: “Ok, temos mais uns quatro ou cinco meses para comprar casa, nem que seja uma diferente daquilo que nós queremos, nem que tenhamos de comprar um T1 ou T2 que mais tarde possamos pôr a rentabilizar, mas que seria aquilo que tinha de ser feito neste momento para não perdermos a oportunidade de comprar casa, porque comprar uma casa em Lisboa que não seja a 40 anos para nós é impossível”, diz Joana Boieiro.

Esperar, esperar…

“A casa que comprámos, felizmente, não precisa de obras e foi toda remodelada há três anos” – Joana Boleiro

Apesar de difícil, não é impossível. “Tenho situações em que há jovens que conseguiram comprar casa. Primeiro, porque conseguiram apresentar declarações patronais com contratos efetivos. Depois, porque estão também empregados em áreas relacionadas com a Informática, Medicina. Portanto, com algumas destas profissões novas, que têm boa perspetiva de se manterem ao longo de um número significativo de anos, é possível conseguirem crédito bancáriol”, conta António Marinho.

Após uma longa etapa, Joana comprou a tão desejada habitação.

“No nosso caso, tivemos uns ‘anjinhos’ que são os nossos pais, que ao perceberem que para nós seria mesmo impossível comprar casa sem a ajuda deles, ‘chegaram-se à frente’ para nos dar todo o dinheiro da entrada. A casa que comprámos, felizmente, não precisa de obras e foi toda remodelada há três anos”, revela Joana Boieiro.

Já João, ainda não conseguiu o refúgio ideal, mas vai continuar na luta.

“Eu delineei uma situação que é: só vou ver casas que realmente me interessam, porque ponderei ir ver algumas sem elevador, sem varanda, por aí… mas não. Porque é aquilo que eu procuro, e demore o tempo que demorar, vou ter de encontrar. Demore um ou dois anos”, perspetiva João Moutinho.

Sonhos a prestações
© Record TV Europa

Arrendar vs. comprar

O arrendamento está muito caro… Fazendo as contas, muitas das vezes vale mais comprar casa – algo que não se verificava há uns anos, quando os alugueres eram mais baixos

“Isto é desgastante, é mau para os jovens… Qual a solução para o futuro? Não sei! Mas é assim, se as casas não têm condições, se o prédio é mesmo muito antigo, se nunca sofreu qualquer tipo de intervenção, se as canalizações quando se abre a água sai castanha… Deviam ser definidos tetos máximos para cada zona, tipo de imóvel, para tudo. Assim é impraticável, estão a sufocar as pessoas”, lamenta Joana Boieiro.

Ainda assim, se continua dividido entre arrendar ou comprar casa, esta sugestão é para si.

“O arrendamento está muito caro… Fazendo as contas, muitas das vezes vale mais a pena comprar casa – algo que não se verificava há uns anos, quando os alugueres eram mais baixos. Agora os valores das rendas estão elevadíssimos e pelas taxas de crédito variável e mesmo de crédito com taxas fixas… As mensalidades de amortização do empréstimo são mais vantajosas, mesmo tendo em conta o seguro de vida que tem de se pagar”, explica António Marinho.

1
2
3
FONTE© RossHelen, Envato