“Iremos voltar!” Assim se despedia Benjamin Netanyahu dos israelitas quando em 2021, ao fim de 12 longos anos no poder, deixava o governo israelita e o cargo de primeiro-ministro. Na altura os especialistas ditavam o ‘fim de uma era’, sem antecipar um eventual regresso, pelo menos nos tempos mais próximos, do líder israelita. Mas Benjamin Netanyahu deixou a promessa e agora cumpriu-a.

Pouco mais de um ano depois, o líder israelita regressou à ribalta política com estrondo e de mãos dadas com a extrema-direita. Em menos de quatro anos, os israelitas foram a votos pela quinta vez. Netanyahu regressa ao poder com um resultado convincente. O Likud conseguiu 32 assentos parlamentares, mas chegará ao poder coligado com partidos ultraortodoxos e uma aliança de extrema-direita, dando-lhe a maioria absoluta no Knesset (parlamento israelita).

Uma eleição que contou com uma forte participação dos israelitas que desta forma pretendiam colocar fim ao impasse político.

Aos 73 anos, vem reforçar o mito de que o ‘rei Bibi’ é mesmo invencível, com um recorde de cinco vitórias em eleições para ocupar o cargo seis vezes – mais do que qualquer outro primeiro-ministro nos 74 anos de história do país.

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Depois de mais de um ano afastado, Benjamin Netanyahu regressa ao poder após 12 anos de governação | © Reuters

Tanto tempo no poder não é sorte. É talento. Netanyahu sempre foi considerado pelos analistas políticos como um político hábil, negociador forte e portador de um carisma que poucos alcançam. Homem de convicções políticas, profundamente marcado pelo legado da direita israelita, não se inibiu de negociar com os extremos políticos, nomeadamente a direita, que agora lhe devolvem o cargo de líder do governo.

Além da longevidade governativa, Netanyahu quebrou outros recordes, tendo o sido o líder de governo mais jovem da história de Israel e o primeiro nascido após a independência.

Mas nem tudo são rosas e os feitos do primeiro-ministro israelita não são todos dignos de louvor.

Às voltas com a justiça

Netanyahu está envolvido numa investigação de casos de corrupção sob acusação de suborno, fraude e abuso de poder, em novembro de 2019. O novo primeiro-ministro israelita é acusado ter aceitado luvas de empresários ricos e terá dispensado favores para em troca receber uma cobertura mediática mais favorável.

Netanyahu diz-se inocente, negando qualquer tipo de irregularidades durante os seus mandatos. O líder israelita sustenta que a investigação se trata de uma ‘caça às bruxas’, mobilizada pelos opositores políticos.

Em maio de 2020 foi a julgamento, tornando-se no primeiro líder político a enfrentar a justiça durante o exercício das suas funções enquanto primeiro-ministro, num evento altamente mediático que, ainda que potencialmente pejorativo para a sua credibilidade e imagem, não se revelou capaz de beliscar a reputação do israelita que agora regressa ao poder.

Quem é ‘Bibi’?

Benjamin Netanyahu nasceu em Telavive a 21 de outubro de 1949, herdando a bagagem ideológica do pai, Benzion, ex-assistente de Zeev Jabotinsky, líder da tendência sionista chamada ‘revisionista’, favorável ao ‘Grande Israel’.

Envolveu-se na política em 1988, quando foi eleito deputado pelo partido Likud, tornando-se vice-ministro dos Negócios Estrangeiros.

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Benjamin Netanyahu e a esposa, Sara | © Reuters

Tornou-se presidente do partido em 1996 e primeiro-ministro de Israel aos 46 anos, após uma eleição antecipada, que ocorreu na sequência do assassinato de Yitzhak Rabin, por um extremista de direita que se opunha aos acordos de paz de Oslo, assinados entre o governo de Israel e o Presidente da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat.

Benjamin Netanyahu sempre se mostrou contra o processo de paz israelo-palestiniano dos anos 1990 (Acordos de Paz de Oslo de 1993-1994), e uma solução da coexistência de dois Estados, com a criação de um Estado palestiniano independente.

Os novos desafios políticos

Netanyahu regressa ao poder, mas não vem sozinho. Com ele chega também Itamar Ben-Gvir, extremista de direita do partido Sionismo Religioso, que consegue o dobro de deputados em relação às últimas eleições, tornando-se na terceira força política do país e o bilhete dourado para o almejado regresso de Benjamin Netanyahu.

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Itamar Ben-Gvir, extremista de direita do partido Sionismo Religioso, integra a coligação que irá governar Israel | © Reuters

Discípulo do rabino extremista Meir Kahane, cujo partido, Kach, partido ilegalizado em 1994 e considerado grupo terrorista em Israel e nos Estados Unidos, Bem-Gvir sustenta a coligação de Netanyahu, onde figuram outras forças políticas ultraortodoxas e de extrema direita.

Uma coligação virada à direita que obrigará Netanyahu a endurecer as suas políticas externas, comprometendo um dos pilares da política israelita: a Palestina e um eventual projeto de paz.

Ben-Gvir ofereceu o poder a Benjamin Netanyahu mas, como diz aquela célebre frase ‘não há almoços grátis’ e, neste caso, o poder pode trazer mesmo um preço, com o líder israelita a ficar ‘refém’ dos caprichos do político extremista, que poderá integrar o novo governo como ministro.

É ambição conhecida de Ben-Gvir tornar-se ministro de Segurança Pública. Poderia ser algo problemático ter um político que soma condenações por incitação ao racismo, destruição de propriedade e apoio a uma organização terrorista como líder de um ministério. Itamar Ben-Gvir é ainda defensor do lobby da pena de morte e deportação de cidadãos palestinos considerados ‘desleais’ a Israel.

A concretização do governo e as pretensões políticas de Bem-Gvir poderão ser uma dor de cabeça para Netanyahu e uma viragem demasiado brusca nos ideais políticos do futuro primeiro-ministro.

Resta apenas aguardar pelo ‘jogo de cintura’ político do homem, que já deixou a sua marca nos livros de História de Israel.  

FONTE© Reuters