Agora o vírus foi detetado, pela primeira vez, num cão. Cientistas acreditam que o animal ficou infetado através de humanos.

A informação foi avançada por meio de um relatório inédito publicado na revista científica ‘The Lancet‘. Foi confirmada, pela primeira vez, a infeção de um cão pela varíola dos macacos. O caso ocorreu em França e foi divulgado por investigadores da Universidade Sorbonne, em Paris.

Um cão da raça galgo italiano de quatro anos começou a apresentar lesões na pele, doze dias após os donos terem sido diagnosticados com o vírus.

Depois de ter sido confirmada a presença do vírus no animal de estimação, os cientistas tentaram perceber a sua origem, utilizando para isso a sequenciação genética das amostras colhidas do animal e de um dos donos. Os resultados mostraram que os vírus analisados eram idênticos o que praticamente confirmou a transmissão do vírus do humano para o animal.

Os cientistas ainda não sabem se o caminho inverso, o da transmissão de cão para humano, será possível, por isso acreditam que essa é uma hipótese que necessita de uma investigação mais profunda.

“Este é o primeiro incidente do tipo e ainda estamos a aprender sobre a transmissão deste vírus de humanos para animais”, afirmou a médica Rosamund Lewis, líder técnica da monkeypox – varíola dos macacos em inglês – da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao jornal ‘The Washington Post’.

A OMS não quer alertar em demasia para a questão, pedindo apenas cautela e atenção para uma eventual exposição de animais ou qualquer pessoa à doença.

“Devemos manter-nos vigilantes. Devemos permanecer cautelosos. Mas, ao mesmo tempo, animais de estimação ou outros não representam um risco para as pessoas neste momento”, afirmou Michael Ryan, diretor Executivo para o Programa de Emergências de Saúde da OMS.

Outras espécies afetadas

Apesar do alarme, o vírus da varíola dos macacos não é novo e é até endémico em regiões do continente africano. Nesses locais, circula entre roedores e primatas, daí o nome atribuído ao vírus e à doença por ele provocado.

A transmissão para outros animais não é, por isso, novidade. Em 1964, no jardim zoológico de Roterdão, nos Países Baixos, ocorreu um surto que infetou vários animais de diferentes espécies.

Atualmente, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano dá conta das espécies que o monkeypox pode afetar. Esquilos, cão-da-pradaria, marmotas, cães, porcos-espinhos, chinchilas, diferentes tipos de roedores e primatas estão na lista.

OMS quer mudar nome da doença

Por estar intrinsecamente ligada aos animais, até pelo nome, a OMS estuda a possibilidade de alterar o nome do monkeypox. O objetivo passa por evitar o preconceito contra as pessoas infetadas e até caos de maus-tratos com animais.

No Brasil foi relatado um aumento nos ataques a macacos em várias cidades do país. Os animais foram agredidos com pedras e até afastados com veneno. Uma situação que foi, entretanto, condenada pela OMS que esclarece que os animais não são responsáveis pela transmissão da doença. “O que as pessoas precisam de saber é que a transmissão que estamos a ver está a acontecer entre humanos”, disse a porta-voz da OMS, Margaret Harris.

A OMS está até a aceitar as sugestões de todos os que quiserem contribui com possíveis novas designações para o vírus e a doença por ele provocada, tendo criado uma plataforma online para o efeito. A organização já procedeu à atribuição de novos nomes às variantes do vírus.

Contágios continuam a aumentar

O surto mundial de varíola dos macacos já não é uma novidade, muito menos depois da OMS ter decretado o vírus como uma emergência global de saúde pública.

Mas, apesar de não ser uma novidade e ser um vírus possível de dominar através da proteção e prevenção do contágio, os números continuam a crescer em todo mundo.

De acordo com a OMS, as infeções por monkeypox aumentaram 20% na última semana, tendo sido contabilizados 7500 novos casos. Desde o início do surto em países não endémicos da doença, já foram confirmados mais de 37 mil casos. Apesar da grande maioria não apresentar sintomas graves a OMS reportou até à data 12 mortes devido à doença.

Em Portugal o vírus surgiu a 3 de maio do presente ano após a confirmação laboratorial de cinco casos de infeção. Desde essa altura que o número de casos não tem para de aumentar. De acordo com os últimos números, fornecidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS), até ao passado dia 17 de agosto foram confirmados 810 casos.

A maior parte pertence ao grupo etário entre os 30 e os 39 anos. A esmagadora maioria é do sexo masculino existindo no país apenas seis casos reportados no sexo feminino.

Com estes números, Portugal continua na lista dos dez países europeus com mais infeções, encontrando-se em sexto na tabela.

Vacina não é “uma bala de prata” contra o risco

Tedros Ghebreyesus, diretor da OMS acredita que o foco principal deve ser travar a transmissão utilizando ferramentas de “saúde pública, incluindo vigilância aprimorada de doenças, rastreamento de contactos, comunicação de risco personalizada e envolvimento da comunidade nas medidas de redução de risco”.

Ainda assim e como os casos não param de aumentar, vários países já iniciaram campanhas de vacinação para contactos de risco, nomeadamente Portugal, na esperança de reduzir a disseminação da doença.

De acordo com a última informação fornecida pela DGS, foi iniciada a 16 de julho a vacinação dos primeiros contactos próximos de casos, de acordo com os critérios de elegibilidade. Até 13 de agosto foram vacinados 215 contactos. Segundo a DGS, “continuam a ser identificados e orientados para vacinação os contactos elegíveis nas diferentes regiões”.

Apesar disso, e tal como acontece em todas as vacinas, a sua aplicação não garante proteção em relação à doença a 100%. “Portanto, não esperamos 100% de eficácia para as vacinas de prevenção da varíola dos macacos. Não conhecemos a informação exata. Estamos a verificar o surgimento de novos casos, o que não é surpreendente. Apenas nos lembra que a vacina não é uma bala de prata disponível para todas as pessoas que se sinta em risco e queiram diminuí-lo”, explica Rosamund Lewis, diretora-técnica da OMS para a monitorização do vírus, que explica que a proteção pode ser encontrada na redução de comportamentos de risco.