Em comum, Inês Sousa e Sandra Dionísio têm a paixão pelo futebol. Desde novas que tinham o desejo de praticar a modalidade, mas eram impedidas de avançar pela falta de oportunidades e até mesmo por não terem companhia.

“Ao contrário de hoje, na altura o futebol feminino não tinha esta visibilidade, nem havia clubes que fizessem formação. Por isso acabava-se sempre por fazer jogos ‘quase de bairro’ com outras meninas que também jogavam. Essa oportunidade permitiu às pessoas da minha praticar a modalidade, mesmo sem formação”, confessa Inês.

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Inês Sousa é uma das atletas do projeto fut4women | © Record TV Europa

Já Sandra desconhecia por completo que “as raparigas podiam jogar. Tenho primos e tios mais ligados ao futebol. O meu tio jogou quando era pequeno e um dos meus primos também”.

Da paixão pelo ‘desporto-rei’ nasceu o projeto fut4women. Após um pedido para que houvesse futebol feminino, em 2016 foi criada uma iniciativa dedicada só a senhoras e com o apoio do Grupo Desportivo Estoril Praia.

“É um espaço de lazer que envolve a bola para atrapalhar um bocadinho. [risos] É um espaço para atividade livre. Parece futebol, mas não é futebol, mas tem um espaço e um momento para que as atletas tenham um convívio, para que se esqueçam um bocadinho do trabalho, da família e que seja o seu momento. Acho que elas sabem que quando têm muito nível não se encaixam neste projeto. Dizemos isso na brincadeira, mas a verdade é que o nível tem crescido muito e quem nos procura acaba por ser um misto de alguém que procura jogar futebol, mas não encontra no seu grupo de amigos mais nove para se juntar e poder fazer um jogo. Então, aqui têm um espaço onde encontram mais gente com a mesma vontade”, explica Hugo Leal, coordenador do projeto e vice-presidente do Estoril.

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O ex-futebolista Hugo Leal, que já passou por equipas como o Benfica e Atlético de Madrid, é o coordenador do projeto Fut4women e vice-presidente do Estoril | © Record TV Europa

Diversão em campo

Em média os treinos contam com cerca de 15 pessoas, mas inscritas estão mais de 40. Apesar de estarem no relvado a trocar bolas, a competição é a menor das preocupações. Hugo confessa que para ele “a diversão é a base de tudo. Porque é um momento em que elas se esquecem do dia que tiveram, do trabalho, portanto é o bocadinho o libertar disso. A diversão é o ponto primordial.”

A boa disposição impera no dia a dia do antigo jogador de futebol. Hugo Leal é agora coordenador da formação do Estoril, treinador das equipas de Fut4all e Fut4women e dirigente do Estoril.

“Todas as pessoas que vêm ao primeiro treino sentem que é difícil, cansativo e desafiante porque não sabemos fazer os exercícios, não sabemos acompanhar o resto da equipa, porque já cá está há muito tempo, mas a forma como o Hugo recebe cativa muito. Acho que a maior parte das pessoas continuam a vir aos treinos porque sentem aquela amizade que ele transmite logo. Todas sentimos quando o Hugo não pode vir ao treino. Nesses dias, sentimos que falta aqui a peça mais importante do fut4women que é a presença do nosso mentor”, confessa Inês.

Além das chuteiras, das bolas e do equipamento, o bom ambiente também faz parte do material de treino. Sandra diz que durante os treinos as atletas estão “sempre às gargalhadas, mas quando é para trabalhar também trabalhamos e depois fora de campo somos amigas.”

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A atleta Sandra Dionísio destaca o ambiente descontraído que se vive no projeto fut4women | © Record TV Europa

Bola para a frente!

A falta de espaço no Grupo Desportivo Estoril Praia é apontado como um dos maiores entraves para a progressão do projeto. Mas neste momento, as atletas já sonham com o dia em que vão ter pela frente equipas adversárias.

Inês afirma que gostavam de ter “mais oportunidades para conhecer outras equipas. Mesmo entre nós há uma adesão muito maior quando o mister lança o desafio de que vai haver um torneio. Aparece muito mais gente porque a competição acaba por ser um bocadinho o resultado do treino e sabemos que estamos um bocadinho mais capazes, e acaba por ser um teste.”

Aqui nenhuma mulher tem de ter medo de brilhar. As portas estão abertas a todas as que queiram ser felizes a jogar com a camisola do Estoril. É o convite que está na página de Facebook da iniciativa e que mostra que não há preconceitos e que é um espaço aberto, sem limite de idade. A prova de que nunca é tarde para realizar um sonho antigo, mesmo que por vezes, poucos acreditem ser possível.

“O meu marido brincou comigo e disse que ia ser um desafio de curto prazo porque ele não acreditou que eu ia continuar. Hoje ele reconhece que me faz bem e é ele que me incentiva quando eu estou mais cansada ou quando tenho a responsabilidade dos filhos ele incentiva-me a vir. Por isso, acho que cada vez mais todos, tanto os amigos como as famílias, começam a achar que realmente é benéfico para a saúde mental e física, e apoiam bastante as pessoas a praticar a modalidade, neste caso o futebol nas mulheres da nossa idade. Claro que os meus filhos – um rapaz e uma rapariga – jogam futebol. Ele brinca comigo e diz sempre que eu sou uma jogadora cara e que o meu futuro como futebolista ainda vai surgir [risos]… Mas ele gosta e diz aos amigos que a mãe joga futebol e por isso tenho muito orgulho neles”, conta Inês.

Além da componente desportiva, o grupo faz ainda questão de ‘dar a mão’ a quem mais precisa com ações solidárias. E por isso, é que Hugo descreve este grupo como “fantástico. Quer na capacidade de superação, quer na alegria que trazem, quer na vivacidade que envolvem em cada um dos treinos”, elogia.

FONTE© Envato