A Record TV foi conhecer um projeto pioneiro no concelho da Pampilhosa da Serra, no distrito de Coimbra, que oferece cuidados de saúde a quem está longe.
A estrada serpenteada leva-nos a Castanheira da Serra, pequena aldeia banhada pelo rio Ceira, onde o verde se entranha olhos dentro. Hoje ouvem-se mais passos e risos do que é habitual.
Rua abaixo, Cátia Camacho leva na mala cinzenta todo o equipamento que precisa para o primeiro serviço ao domicílio da manhã. É uma estreia para a dona Maria Natália, que aos 97 anos recebe um tratamento aos pés, a base de sustentação do corpo.
Durante o tratamento são removidas calosidades ou unhas encravadas. Problemas que se não forem detetados e tratados a tempo podem colocar em risco a mobilidade dos mais frágeis.
Para lá da montanha, há que encurtar distâncias e deslaçar barreiras geográficas. Refém do isolamento e da interioridade, o concelho da Pampilhosa da Serra tem no terreno, desde 2020, um projeto gratuito e pioneiro de apoio às pessoas com mais de 60 anos que vivem longe dos cuidados de saúde primários.
A saúde dos pés dos idosos
Tânia Ramos, enfermeira e coordenadora do ‘Projeto 100 Idade’, explica que o serviço de podologia é o mais procurado pelos idosos.
A pandemia veio intensificar o que é o isolamento aqui nesta zona – Tânia Ramos, enfermeira e coordenadora do ‘Projeto 100 Idade’
A enfermeira sustenta que “as pessoas começaram a ficar com medo e mais isoladas em casa. Mas notámos que também ficaram mais carentes de cuidados”.
Porém, mesmo durante a pandemia, a ligação entre os profissionais que prestam os cuidados de saúde e as populações nunca foi interrompida.
“Uma das nossas estratégias até foi manter os contactos telefónicos. Ligávamos às pessoas a perguntar como é que elas estavam e isso também marcou a diferença quando foi na fase pandémica”, acrescenta Tânia Ramos.
Combate ao isolamento nas aldeias do interior
Se antes o isolamento já tomava conta dos 109 lugares e aldeias dispersas por 397 quilómetros quadrados do concelho da Pampilhosa da Serra, durante a pandemia quem aqui resiste ficou ainda mais fragilizado.
Ana Duarte é fisioterapeuta e Lilian Silva é gerontóloga. São os dois rostos que duas vezes por semana se fazem à estrada ao encontro dos idosos.
Como sabemos as reformas são muito baixas e a deslocação de ir a um centro de saúde ou hospital fica muito dispendiosa para estes idosos – Lilian Silva, gerontóloga
As lágrimas de felicidade de uma das utentes do projeto ficaram na memória de Lilian. Conta-nos que a idosa ficou emocionada ao saber que iria ter direito a cuidados de fisioterapia em casa, sem qualquer custo.
Pelo trajeto mais rápido, chegar ao centro hospitalar de Coimbra demoraria cerca de 1h30. Em alternativa, o Hospital da Covilhã, que fica a 67 quilómetros, demora igualmente 1h30.
Por ser mais seguro, mas especialmente pela leveza que o campo consegue proporcionar aos dias, o confinamento de Maria Odete e do marido foi passado na casa da aldeia. Mas, para já, não há planos para deixar Lisboa, onde residem, pois estar longe dos hospitais é visto como uma sentença de morte.
A enfermeira Tânia Ramos sustenta ainda que o projeto veio facilitar a referenciação dos idosos para os cuidados de saúde primários.
Mantermos estes contactos é essencial, porque nós não queremos perder o vínculo com estas pessoas – Tânia Ramos
“Não é só ir uma vez. Tentamos sempre manter os contactos, sejam presenciais ou por telefone”, salienta Tânia Ramos.
A fisioterapeuta Ana Duarte tem a opinião de que a iniciativa que têm em mãos deveria ser uma resposta social e não apenas um projeto. “As necessidades existem e têm de ser resolvidas porque os projetos são muito bons, mas são temporários e as pessoas precisam de algo sólido e contínuo”, considera.
A equipa do ‘Projeto 100 Idade’ calcorreia as aldeias do concelho da Pampilhosa da Serra para levar cuidados de saúde e especialmente tempo e conforto, onde o único meio de transporte é o táxi.
