Céline Dion anunciou há dias uma paragem prolongada na sua carreira. Nas suas redes sociais, a artista canadiana contou que sofre de um distúrbio neurológico raro e incurável, com características de doença autoimune, que a deixa com espasmos musculares. Além da locomoção e capacidade física, afeta também o seu controlo vocal e capacidade de cantar.

“Enquanto ainda estamos a perceber esta condição rara, agora sabemos que é isso que está a causar todos os espasmos que tenho”, informou, através de um vídeo que publicou no Instagram. “Infelizmente, esses espasmos afetam todos os aspetos da minha vida diária, às vezes causam dificuldades quando ando e não me permitem usar as minhas cordas vocais para cantar da maneira que estou habituada”.

Desta forma, a artista informou que não poderia realizar os concertos agendados para a Europa no próximo ano. “Dói dizer-vos hoje que isso significa que não estarei em condições de reiniciar a minha digressão pela Europa em fevereiro”, anunciou a cantora, visivelmente emocionada.

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A cantora canadiana Céline Dion informou os fãs de que irá fazer uma paragem prolongada na carreira | © Céline Dion via Reuters

Síndrome da pessoa rígida

Síndrome de pessoa rígida (SPR) é, segundo a definição do Instituto Nacional de Doenças Neurológicas dos Estados Unidos, um “distúrbio neurológico raro e progressivo” cujos sintomas podem incluir músculos rígidos no tronco, braços e pernas. A doença pode ainda originar hipersensibilidade ao ruído, toque e originar dificuldades em lidar com emoções fortes, podendo desencadear espasmos musculares.

De acordo com a organização norte-americana, pessoas diagnosticadas com este distúrbio podem desenvolver “posturas anormais, muitas vezes curvadas”, podendo encontrar dificuldades de locomoção, originando quedas, que podem originar lesões graves.

O avançar da doença pode levar a consequências mais graves como uma incapacidade funcional, com “perda de autonomia para as atividades da vida diária e necessidade de apoio na marcha”, tal como escreve uma equipa de investigadores portugueses num artigo publicado na revista científica ‘Sinapse‘, que aborda temas do âmbito da neurologia.

Liz Blows – que dirige um grupo de apoio para pessoas com SPR e também sofre da doença – contou ao ‘The Telegraph‘, que, na verdade, a doença não provoca a morte, mas dificulta muito a vida de quem é diagnosticado. Não se morre disto, morre-se das complicações que surgem a partir disto. E para ser honesta, é horrível. Realmente horrível”, afirmou.

Os cientistas ainda não entendem o que causa a SPR, mas a investigação realizada até hoje indicada que seja resultado de uma resposta autoimune errada no cérebro e na espinhal medula.

Diagnóstico

O primeiro caso foi identificado na década de 1950, com o distúrbio a ser designado nessa altura como ‘síndrome do homem rígido’. Mais tarde, e verificando-se que a doença afetava também mulheres, a sua designação foi alterada para SPR.

A SPR é uma doença neurológica rara, estimando-se que afete uma em cada milhão de pessoas. Nesta lotaria, as mulheres são as mais atingidas, uma vez que a doença afeta duas vezes mais o sexo feminino do que os homens. Qualquer pessoa pode ter a doença, mas é mais comum que esta surja em pessoas entre os 30 e os 60 anos.

Trata-se de um distúrbio raro, mas o investigadores acreditam que é amplamente subdiagnosticado, sendo muitas vezes confundido com doença de Parkinson, esclerose múltipla, fibromialgia, doença psicossomática, ansiedade e fobia. O diagnóstico definitivo pode ser feito através de uma análise de sangue que revele um nível anormal de um tipo de anticorpos específico (GAD).

Cura e tratamentos

Não existe uma cura conhecida para esta doença, mas é possível melhorar os sintomas através de uma terapêutica oral, por meio de benzodiazepinas, antiepilépticos e relaxantes musculares.

Apesar de existir ainda pouca investigação sobre a doença, um estudo financiado pelo Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrames dos EUA revelou que um tratamento à base de imunoglobulina (anticorpos naturais produzidos pelo sistema imunitário encontrados no sangue) intravenosa é eficaz na redução da rigidez, sensibilidade ao ruído, toque e stresse, melhorando a capacidade de locomoção e equilíbrio dos doentes.

Cientistas e médicos investigadores nesta área acreditam que a enfermidade ainda não foi explorada o suficiente para ser conhecida e por isso é subdiagnosticada, sendo que “o seu reconhecimento clínico é essencial para um diagnóstico precoce que permita o início atempado do tratamento sintomático e dirigido, e consequentemente a recuperação da autonomia e melhoria da qualidade de vida dos doentes”, concluem os investigadores portugueses que escreveram o artigo publicado na revista ‘Sinapse’.

A saúde de Céline Dion

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Céline Dion, em 2012 | © D.R.

Antes do mais recente anúncio, Céline Dion já tinha sido notícia e causado preocupação entre os fãs por alegados problemas de saúde. Em 2019, a artista era notícia por apresentar um estado de “magreza excessiva” que alguns fãs apontaram. Na altura muitos atribuíram a condição física da cantora devido ao processo de luto que ainda enfrentava pela morte do marido.

Em 2014, Dion anunciou uma pausa por tempo “indeterminado” na carreira, enquanto o marido, René Angélil, lutava contra o cancro.

A cantora ainda retomou os concertos, mas em 2016, com a morte do companheiro e do irmão quase em simultâneo, voltou a abandonar os palcos.  

Em 2019 a artista regressou ao trabalho com o lançamento do álbum de estúdio ‘Courage’, que contou com colaborações de Sia, Sam Smith e David Guetta.

A artista já se tinha queixado publicamente dos sintomas de SPR em outubro de 2021, quando adiou a digressão norte-americana pela primeira vez devido a espasmos musculares persistentes.

Com o diagnóstico mais definitivo, Céline Dion volta agora a deixar a carreira em suspenso.

“Tenho uma grande equipa de médicos a trabalharem comigo para me ajudarem a melhorar e os meus filhos preciosos que me apoiam e me dão esperança”, explicou a artista, acrescentando: “Tenho de admitir que tem sido uma luta”.

FONTE© Envato