Numa entrevista intimista, Carla Matadinho recorda como foi o início da sua carreira e fala sobre os desafios que abraça atualmente.

O sonho de ser manequim acompanha-te desde sempre?
Sim. Lembro-me de ser pequenina, com 10 anos, e de ir cheia de malas para a escola, com roupas e sapatos para organizar desfiles com a minha turma. Queria ser manequim desde essa altura e, por isso, inscrevi-me em vários concursos. Aos 14 anos ganhei um da revista ‘Ragazza’ e um curso de modelo fotográfico, que foi o melhor presente que podia ter recebido. Só assim que uma menina do Alentejo, com poucos recursos, iria conseguir entrar por esta porta, chegar a Lisboa e contactar com o meio da moda. Foi muito engraçado ver uma ‘Maria-rapaz’ a aprender a andar de salto agulha. [risos]

E foi fácil…
Não, nada fácil. Lembro-me de que foi muito difícil aprender a andar de salto alto.

E como foi para uma adolescente enfrentar o mundo da moda?
Foi muito exigente. Eu não tinha a noção. Houve períodos em que me desiludi, outros em que me afastei. Houve ali um ano, um ano e meio, em que me afastei. Porque eu sonhava com as passarelas, em poder mostrar o meu trabalho, e o processo nem sempre é fácil.

Até porque só te imaginavas nas passarelas… Como foi o caminho para lá chegar?
Exatamente, porque existem pessoas boas e más em todo lado – e na moda começamos muito cedo. As mulheres manequins são muito novas no início da profissão. Com 14 anos comecei a vir sozinha para a Lisboa, de autocarro. E, de repente, vejo-me a ter de começar a perceber qual o melhor e mais seguro caminho para andar, a ter de tomar as decisões mais acertadas, a pensar nas melhores opções, porque tudo vai ser reflexo delas mais à frente.

Entrevista à manequim Carla Matadinho
Carla Matadinho | © D.R.

E quando te revês nas passarelas, é a menina que começou ou a mulher que te tornaste?
Revejo-me na mulher que me tornei. Gosto muito de desfilar. Acho que é um talento. Nem todas as manequins poderão ser recordadas pelo seu ‘pisar’. Eu costumo sempre, quando dou aulas de passarela, falar muito aos meus alunos: “Reparem que, ao verem um desfile, há sempre alguém que chama mais atenção”. Os manequins não são todos iguais. Há uns que se destacam pelo seu caminhar, postura… É isso que tem de ser trabalhado. Eu, modéstia à parte, afirmo-me com a minha passada, com o meu estilo muito próprio em passarela, que conquistou vários estilistas. Eles confiavam na minha forma de passar e na minha garra em passarela.

Mudando de assunto… Como é ser diretora da Yellow Star Company?
É um trabalho muito intenso. Não há tempo para tudo e é muito importante promover este trabalho. Temos de saber gerir. Às vezes, costumo brincar com a minha equipa e digo que os meus tempos de artista eram muito mais fáceis. Hoje não temos descanso. Adoro criar, ver as emoções que nós provocamos nas pessoas. Este é o reflexo do trabalho que desenvolvemos e isso é muito gratificante. É muito exigente gerir um negócio, uma área de trabalho, uma empresa… Temos sempre de ter presente que há uma equipa inteira para alimentar.

O facto de teres esta produtora completa-te enquanto artista e mulher?
Olha, como artista, quando penso que trabalhei anos a fio como manequim e alguns anos na televisão, tenho saudades de fazer outras coisas para me completar. Mas são áreas que realmente se ligam e que, se calhar, a Company é fruto disso, mas também das equipas que nos rodeiam. O facto de eu ter vindo do meu meio deu uma ajuda construtiva. Mas também ouvimos outro lado que é “estes agora fazem teatro?”, porque há muito a velha tradição do teatro mais antigo.

Quais são as peças que a produtora tem em cartaz?
Com os ‘Monólogos da Vagina’, por exemplo, já estamos há três anos em cena. É um fenómeno, um texto muito importante a nível de impacto mundial porque retrata várias vivências de mulheres, em vários pontos do mundo. E, em tom de brincadeira, fala-se de assuntos sérios e de outros que não podem ficar esquecidos.

Ficas feliz pelo facto de o teu trabalho proporcionar sorrisos e emoções a toda a família?
Muito! Gosto muito de provocar sentimentos bons nas pessoas. Espero que consigamos sempre passar mensagens positivas. Por exemplo, com ‘Madagáscar’, que é uma peça para toda a família, passamos a mensagem de amizade, de sermos bons uns para os outros. É muito importante que estas mensagens fiquem claras para que todos, depois de assistirem às peças, recordem estas vivências e as guardem para a vida.