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Entrevista Edu Porto

“O Finéias é muito diferente de mim, eu nunca seria amigo dele na vida real.”

Entrevista Edu Porto
© Blad Meneghel
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O ator e guionista, de 37 anos, já participou em inúmeras séries televisivas e é uma das caras mais acarinhadas do público da Record TV. Edu Porto também é apresentador e já fez mais de 100 spots comerciais e publicidades. Integrou o elenco da primeira fase da série ‘Reis’, mas revela que a sua participação na superprodução ainda não está encerrada.

O Finéias foi uma personagem desafiadora para ti?
Com certeza, muito desafiadora! O Finéias é muito diferente de mim, eu nunca seria amigo dele na vida real. [risos] É uma personagem densa e pesada, por isso é que foi um desafio gigante. Interpretar por si só já é um desafio, porque temos de viver exatamente a vida de uma personagem e ser essa pessoa com todos os detalhes. A série ‘Reis’ tem uma história atemporal. Como se passou há muitos séculos, temos de ter muito conhecimento histórico – para isso, contamos com o contributo de historiadores e outras pessoas qualificadas que nos auxiliam a perceber os costumes da época. A Record TV também nos disponibiliza preparações de elenco para realmente entendermos e chegarmos à personagem com toda a plenitude. Esforçamo-nos muito para entregar ao público tudo aquilo que idealizámos e preparámos.

Apesar de dizeres que não te identificaste com a personalidade da tua personagem, pode dizer-se que, ao mesmo tempo, isso fez com que te apaixonasses por ela?
Claro! É uma paixão imediata, digamos assim. Quando nos mandaram a sinopse, apaixonámo-nos logo. Primeiro vem a paixão, depois o amor e os outros sentimentos.

Apaixonamo-nos por qualquer personagem que fazemos, mesmo sendo uma personagem boa ou má. É uma paixão imediata

Os teus sentimentos por ela mudaram ao longo da série?
Sim, transitei entre a paixão e o amor. Acabei de gravar Finéias e logo depois vi o resultado do meu trabalho na televisão… Foi tudo muito rápido. Geralmente gravamos e só vai para o ar algum tempo depois. Neste caso foi mais rápido, houve menos tempo entre uma coisa e a outra.

As pessoas sentiam um pouco de raiva em relação à tua personagem. Como é que lidas com essa realidade?
A minha personagem tinha uma certa ‘frescura’, porque era jovem e já tinha cometido muitos erros por causa do poder. Na minha vida real consigo lidar muito bem com isso, mas nós não podemos emprestar a nossa inteligência à personagem. Dei muitas entrevistas e disse que as pessoas iriam sentir realmente raiva dele, porque ele tem caminhos ‘tortos’. Há um momento na sua história que eu acho que ninguém aprovou. Por ser jovem, há sempre alguém que lhe passa a ‘mão na cabeça’. No entanto, chega um momento em que o Finéias saiu completamente da sua trajetória.

Dizes que, apesar de não te identificares com a tua personagem, entregaste-te a ela. Que lado teu é que se manifestou mais em Finéias?
Há um momento em que a minha personagem tem filhos e uma esposa. Aí quase dei a minha inteligência ao Finéias, pelo facto de ele ter um lado mais humano, mas não cheguei a entregar. Eu não dei a minha inteligência à personagem por causa de uma coisa que ele fez na trama.

“Sempre gostei de ler, mas quando comecei a estudar teatro nunca mais consegui parar”

O que retiras da tua personagem para a tua vida?
Nós conhecemos as pessoas quando lhes damos valor e também quando o retiramos. Quando temos poder, conseguimos mostrar exatamente quem nós somos. Tenho alguns negócios no Rio de Janeiro, tenho lojas de açaí, de comida japonesa… então, eu não exerço o poder na vida real. Tento trazer para a minha vida uma coisa completamente diferente da minha personagem, porque ela abusava do poder. As pessoas traziam ofertas desde muito longe – tinham de passar o deserto e chegar ao tabernáculo para oferecer o que de melhor tinham – e ele destratava-as. Temos de ter muito cuidado quando se trata de poder. O que levo para a minha vida é: continuar a ser quem sou e não guardar os defeitos de Finéias.

Entrevista Edu Porto
Edu Porto como Finéias | © Blad Meneghel

Já fizeste vários papéis na Record TV – nas produções ‘Gênesis’, ‘Jezabel’, ‘Terra Prometida’, entre outras. Eram papéis diferentes, com emoções também distintas?
Completamente diferentes. O primeiro foi em ‘José do Egito’ – a primeira versão que a Record TV fez da história desta personagem, que para mim foi a melhor até hoje. O José do Egito é uma das personagens mais lindas da bíblia. Sendo um dos irmãos de José, fiz cenas muito impactantes. Por exemplo, quando colocámos José no poço e o vendemos como escravo… e, anos depois, voltámos a encontrá-lo já como governador no Egito. Lembro-me da cena em que lhe disse que o pai tinha morrido… É uma história muito bonita. A segunda novela que fiz foi ‘A Terra Prometida’. Eu era Abel, um príncipe que queria conquistar Samara, mas ela estava apaixonada por Josué – era uma relação muito fria, com muita troca de interesses. Depois fiz o Jaali, na novela ‘Jezabel’. Esta era uma personagem mais leve, um pouco assexuada, que tomava conta das mulheres do rei. O Jaali era um homem muito delicado e doce. Ele dava banho às mulheres do rei, tinha uma forma muito própria e delicada de lidar com elas. Tive de puxar o meu lado mais feminino para interpretar essa personagem. Ele era muito ‘leve’, como se fosse o maquilhador mais sensível de hoje em dia. [risos] Depois desta série, fui convidado novamente para fazer Beno, personagem de ‘Gênesis’. Ele era uma personagem também com mau caráter, era líder dos jogos de azar. Tentou roubar Raquel, uma das esposas de Jacó – uma relação que também se baseava em troca de interesses. Mais recentemente fui convidado para fazer Finéis e estou superfeliz com o resultado desse trabalho. É uma personagem completamente diferente de tudo o que eu já fiz. Tinha poder, história e deceção.

É difícil desligares-te das personagens antigas para construíres as seguintes?
Eu não tenho dificuldade em construir-me ou desconstruir-me, antes pelo contrário. Trabalho numa profissão em que recebo muitos ‘nãos’, então quando vou fazer um teste para alguma novela ou série eu simplesmente entrego tudo a Deus, não fico a pensar nem a perguntar às pessoas como correu. Fiz Finéias, despedi-me dele e entreguei a Deus. Agora só vejo, divirto-me, analiso o que fiz e dou dicas construtivas, porque acho muito importante. Sentar e acompanhar a história de uma outra forma é muito bom. Já me estou a preparar para fazer um descendente de Finéias – um neto ou bisneto -, por isso têm de esperar para ver. E podem esperar cenas muito surpreendentes!

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