Ficou conhecido para sempre como Muhammad Ali. O seu trabalho estendeu-se muito para além das cordas do ringue e fez dele uma verdadeira lenda.

Quando lhe roubaram a bicicleta, aos doze anos, Muhammad Ali não podia imaginar a influência que isso teria na sua vida. O pequeno Ali, revoltado, disse a um polícia que queria bater no ladrão. “Devias aprender a lutar antes de começares a desafiar as pessoas”, aconselhou o agente que, coincidência do destino, treinava jovens pugilistas. Estava dado o primeiro passo.

Campeão do K.O.

A 17 de janeiro de 1942, Louisville, nos EUA, viu nascer aquele que viria a tornar-se no ‘Desportista do Século’. O Kentucky, estado sulista dominado por uma forte segregação racial, fervilhava em preconceito e discriminação, o que contribuiu para a paixão de Ali pelo boxe.

O outrora rapazinho que queria bater no ladrão transformou-se no herói da América, ao conquistar medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, em 1960. Conhecido pelo seu poderoso soco e trabalho de pés, o pugilista era imparável. “Se sonhas vencer-me, é melhor acordares e pedires desculpa”, vangloriava-se.

Na década de 1960, ganhou todos os combates – a maioria por knockout -, tornando-se campeão mundial de pesos pesados. Ali não era dado a falsas modéstias: “É difícil ser humilde quando se é tão bom como eu sou.”

Muhammad Ali
Muhammad Ali | D.R.

“Nenhum vietnamita me chamou preto”

Ali abraçou o Islamismo, em 1964, após o que classificou como uma ‘procura espiritual’. O pugilista adotou também uma nova identidade, proclamando uma nova era no que respeita ao orgulho negro: “Cassius Clay é um nome de escravo. Não o escolhi e não o quero. Sou Muhammad Ali, um nome livre. Significa o amado de Deus”.

Dois anos depois, iniciou um tipo de luta diferente. Ali recusou-se a cumprir o serviço militar, na guerra do Vietname. “Não tenho nada contra nenhum vietcongue. Nunca nenhum vietnamita me chamou de preto”, reagiu.

Os valores pessoais foram postos à frente da carreira, o que fez com que lhe retirassem o título de campeão e o suspendessem durante três anos e meio.

Mas nem o intervalo forçado o desanimou. Ali voltou ao ringue e, em 1974, foi novamente campeão de pesos pesados. É, até hoje, o único pugilista que aguentou 12 rounds com o maxilar partido.

“Já lutei com um crocodilo, já combati uma baleia, na semana passada matei uma rocha, feri uma pedra e hospitalizei um tijolo. Sou tão mau que ponho a medicina doente”, afirmou.

A eterna luta

No final da década de 1970, a carreira do campeão entrou em declínio. Tinha chegado a hora de se retirar do boxe. A filantropia foi o caminho escolhido por este homem que sonha mudar o mundo.

Viajando de continente em continente, Ali fez chegar comida a quem tem fome e medicamentos a quem está doente. “Sou um homem comum que trabalhou muito para desenvolver o talento que me foi dado. Acredito em mim e acredito na bondade dos outros”, revelou.

Na inauguração do Centro Muhammad Ali, na sua terra natal, o ex-pugilista confessou que queria “um lugar que inspirasse as pessoas a ser o melhor que conseguissem e que as encorajasse a respeitarem-se umas às outras”.

Ali foi diagnosticado com Parkinson, em 1984, e a doença acabou por vitimá-lo em 2016, aos 74 anos.