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Dançar até Paris

O breaking, uma dança que nasceu da cultura do hip-hop, vai ser uma das novas modalidades Olímpicas nos jogos de Paris, em 2024. Em Portugal, está a dar os primeiros passos, mas já há atletas que sonham com o passaporte para a capital francesa.

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© Envato

Foi em dezembro de 2020 que o Comité Olímpico Internacional anunciou que o breaking ia fazer parte dos Jogos Olímpicos, e a estreia ficava marcada para Paris 2024.

Mas afinal o que é o breaking? É uma dança conhecida na gíria como ‘breakdance‘, mas o termo correto é breaking. Ao som de um disco-jóquei (DJ), dois atletas entram na pista para uma batalha de dança. Originalidade, estilo e movimentos são alguns dos fatores que os jurados levam em consideração para definir o vencedor.

E por falar em vencedores, em Portugal há uma b-girl – como são conhecidas as atletas da modalidade -, que está a conquistar vários palcos. Vanessa Farinha ganhou a medalha de bronze no Europeu de breaking em Inglaterra.

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Vanessa Farinha é b-girl e conquistou o bronze no campeonato europeu da modalidade | © Record TV Europa

Natural de Leiria, a ligação à dança começou ainda antes do breaking. Passou pelo balê contemporâneo e, depois, através de um amigo conheceu o hip-hop.

Vanessa conta que começou a ir a ‘batalhas de dança’ e na altura foi a um “evento que era o maior de Portugal, a Eurobattle, em 2009. Quando entrei vi que era um evento só de ‘battles‘ de todas as vertentes do hip-hop e que vinham pessoas de todas os países. Eu fiquei: ‘Como é que isto existe aqui e eu não sabia de nada?'”.

A partir daí, foi um amor que nunca mais largou. Veio para Lisboa para a faculdade e foi na capital que começou a dar os primeiros passos na modalidade.

O meu melhor amigo na altura também era b-boy e comecei a treinar com ele na estação do Oriente, porque não tínhamos um local próprio. Caso contrário teríamos de arrendar um espaço para treinar. Por isso íamos para a estação do Oriente, porque é um local aberto e começámos a treinar assim, na rua. Acabou por ser um tempo mais social, para estar com os amigos, à parte da universidade”, conta Vanessa.

Em 2014 mudou-se para Londres, no Reino Unido, por razões profissionais e foi lá que conheceu um outro nível de breaking. Se em Portugal era a vertente social que mais dominava, em ‘terras de sua majestade’ a competição falava mais alto. E foi aí que se deu o ponto de viragem na carreira de Vanessa. As boas prestações nas competições fizeram com que o trabalho a tempo inteiro passasse para part-time para conseguir participar em todas as provas.

Para a atleta, “o sonho é só praticar breaking“, mas não é fácil porque a modalidade ainda é vista como “delinquência”.

Correr para o sonho olímpico

Todos os atletas portugueses de breaking ambicionam chegar aos Jogos Olímpicos de 2024. E Rúbem Barbosa não é exceção.

“Qualquer atleta gostava ou qualquer b-boy gostaria de poder viver só da cultura. Isso não é possivel, e todos temos de nos adaptar à realidade e tentar encontrar formas de o fazer. Mesmo fora eu sempre me habituei a ter um trabalho e a ter o meu hobbie que depois passou a paixão, ocupando parte importante da minha vida… Neste momento sou mais b-boy do que não b-boy. O meu grande objetivo é divertir-me e aproveitar o momento. Tenho 31 anos e sei que tenho mais uns anos para competir, mas tenho muito mais para me poder divertir com a modalidade. Na competição o foco é sempre ganhar”, confessa Rúben.

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Rúben Barbosa é natural de Barcelos e apaixonou-se pelo breaking | © Record TV Europa

O b-boy é natural de Barcelos, mas agora vive em Lisboa. Esteve perto de seguir uma carreira noutra modalidade, mas, assim como Vanessa, um amigo mudou-lhe o destino que parecia traçado à nascença.

“Eu pratiquei atletismo quando era criança. O meu pai era treinador, então sempre me levou para as provas de atletismo e, aí sim, havia o sonho olímpico e todo o percurso”, refere Rúben, que diz ainda que nunca pensou que o breaking chegasse aos Jogos Olímpicos. 

Rumo a Paris

No breaking não há certo ou errado. Não se trata de uma modalidade em que só se pratica o movimento e a acrobacia, a personalidade de cada um e a forma como interpreta a música é essencial. Por isso, tudo o que cada b-boy ou b-girl absorve nas vivências que vai tendo ao longo da caminhada são uma mais valia na hora de subir ao palco.

O facto de ser uma modalidade olímpica vai dar mais destaque ao breaking e esse é um dos grandes objetivos: atrair mais jovens para participarem e verem a competição que distingue os melhores do mundo.

Por ter nascido nas ruas e por muitas vezes o ponto de encontro e de treino ainda ser em locais públicos, o breaking muitas vezes ainda é visto como algo para delinquentes.

Por falta de espaços para praticarem, os treinos são, segundo Rúben, a maior parte das vezes “em alguns jardins ou na estação de Santa Apolónia”.

Para Vanessa o que a deixa mais feliz é o facto de as pessoas começarem a olhar para a modalidade com outros olhos. Muitas vezes foi criticada e diziam-lhe que “ia limpar o chão com os sem-abrigo”. E graceja: “Agora continuo a limpar o chão, mas em palcos”.

E esperemos que não só a Vanessa e o Rúben, mas todos b-boys e b-girls portugueses continuem a ‘limpar’ medalhas pelo mundo fora. O foco para já está em ‘Dançar até Paris’ 2024.

 

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