Cada vez mais frequente nas ruas e trilhos, este meio de transporte ecológico tem conquistado os amantes das várias vertentes de BTT, que se aventuram em percursos sinuosos e descidas vertiginosas. A bateria auxilia a pedalada e as subidas tornam-se mais fáceis. O pior é quando a carga acaba e o ciclista tem de ‘dar o litro’.
Parque Florestal de Monsanto, sábado de manhã. Dezenas de grupos de amigos juntam-se para um passeio de bicicleta pelos trilhos do ‘pulmão verde’ de Lisboa. Equipados a rigor, com capacete, luvas, cotoveleiras e joelheiras – porque quem pratica BTT (bicicleta todo o terreno) sabe que mais cedo ou mais tarde vai cair -, enfrentam trilhos desafiantes, com descidas íngremes, saltos e, claro, as desgastantes subidas. É aqui que as e-bikes demonstram todo o seu fulgor.
Os ciclistas das elétricas conseguem dar uma ‘voltinha’, durante a manhã, por grande parte das dezenas de trilhos existentes no Monsanto, que tem uma área aproximada de mil hectares. Em grupos irrequietos e velozes, passam pelas bicicletas convencionais sem grande esforço, quando a inclinação do terreno o torna adversário, obrigando a uma pedalada mais vigorosa.
Denunciados pelo som dos motores e pela maior robustez das bicicletas, galgam quilómetros com menos esforço. À sua passagem, quem está a observar, sente-se confuso. Não só pela aparência do quadro e das rodas, solidamente mais largos, tornando a bicicleta mais vistosa, mas também pelo zumbido típico dos motores elétricos. E, apesar de equipadas com pedais, quem as vê passar fica na dúvida: ‘Aquilo era mesmo uma bicicleta, ou uma mota?’.
Até aos 25 km/h ou mais
Nunca como agora se viram tantas bicicletas a circular em Portugal, uma tendência que se acentuou durante os confinamentos impostos pela pandemia. Meio de transporte prático e barato, utilizado também para lazer e prática de atividade física, as bicicletas elétricas de montanha são cada vez mais utilizadas por quem gosta de sair do alcatrão e sentir a adrenalina dos trilhos.
O motor das BTT elétricas auxilia no fornecimento de energia, mas não as faz ‘andar sozinhas’
Com pneus mais largos do que as bicicletas tradicionais de BTT, as elétricas são também mais pesadas, devido ao peso do motor e da bateria. O motor auxilia a pedalada – até aos 25 km/h, porém se a bicicleta for embalada facilmente ganha uma velocidade de 50/60 km/h -, mas isso não faz com que estas bicicletas – que pesam perto de 20 kg – ‘andem sozinhas’.
A energia concentrada na bateria, dependendo do fabricante e da capacidade de armazenamento, pode facilitar a pedalada durante largas dezenas de quilómetros – cerca de 100 -, permitindo ao ciclista ir mais longe – para trás fica a necessidade de desmontar da bicicleta sempre que há uma subida mais íngreme, para a qual não há disponibilidade física.
O mercado das bicicletas elétricas tem crescido exponencialmente nos últimos anos e os principais fabricantes apostam nestes modelos, outrora um segmento pouco expressivo, que funcionava como complemento ao negócio dos velocípedes tradicionais. Hoje, uma bicicleta de montanha elétrica básica pode ser comprada a partir de mil euros. Este preço de ‘entrada de gama’ pode galgar para os muitos milhares, caso se pretenda um modelo top, capaz de ‘ir para todo o lado’.
Impulso elétrico
Numa bicicleta elétrica o grande fator diferenciador é a existência de um motor e respetiva bateria. Com diversas potências e capacidade de armazenamento, estes velocípedes têm a grande vantagem de permitir percorrer muitos quilómetros com menos esforço. São ideais para quem está em baixo de forma física ou para quem pretende rentabilizar ao máximo o tempo disponível para dar uma volta. No primeiro caso, podem funcionar como um ótimo estímulo para quem já não tem a frescura de outrora ou pretende iniciar-se em algum tipo de atividade física. Neste cenário, andar de bicicleta afigura-se uma prática excelente, já que enquanto se pedala está-se a ‘arejar’ a cabeça e a investir num estilo de vida saudável, com a particularidade de se ter a sensação de estar a ‘passear’ – e não a fazer exercício -, tornando a atividade muito mais prazerosa.
E no caso das elétricas todos estes ‘benefícios’ são potenciados ao máximo, já que, com o auxílio do motor, se torna mais fácil superar as partes mais difíceis dos percursos: as subidas. Embora alguns praticantes de BTT tradicional se refiram às elétricas como ‘eletrodomésticos’, deixando no ar uma certa ideia de ‘facilitismo’ no momento de enfrentar as dificuldades dos trilhos, na verdade tudo não passa de uma provocação bem-humorada – e, quem sabe, revestida de algum desdém pelo facto de os primeiros não serem os proprietários de um destes modelos ‘mais evoluídos’.
As bicicletas elétricas têm no guiador um ecrã que permite ao ciclista escolher entre os vários modos disponíveis de auxílio ao pedalar – de desligado ao boost máximo, podendo aqui o complemento elétrico incrementar em mais de 300% o vigor da pedalada, e assim contribuir para que qualquer pessoa possa vencer subidas mais íngremes.
Outras funções visíveis no ecrã são a velocidade, o nível de carga, consumo e autonomia restante da bateria. Há ainda alguns modelos que dispõem de saída para carregamento de dispositivos móveis, como o telemóvel ou uma câmara de vídeo. Como qualquer bateria, tem um prazo de vida limitado, na ordem das várias centenas de ciclos de carregamento, e a necessidade de substituí-la só surgirá após a realização de largos milhares de quilómetros. É conveniente que antes de um passeio o ciclista se certifique que a carga está no nível máximo e adeque o trajeto à autonomia disponível. Caso contrário, por serem bicicletas mais pesadas – na ordem de sete quilos suplementares – torna-se mais difícil de pedalar sem energia, sobretudo em terrenos irregulares ou que exijam mais esforço a subir.
Um universo de opções
Tal como numa bicicleta convencional – e porque as elétricas assentam numa estrutura comum a todas as bicicletas -, a base do conjunto é o quadro. As mais antigas – ou baratas – são feitas de aço, material que tem vindo a ser substituído pelo alumínio, que é mais leve, mas também mais caro. A maioria dos quadros usados em competição – e que mais ‘pesam’ nas carteiras – é de carbono. São mais leves e o material absorve melhor as irregularidades do terreno. Contudo, podem ter um tempo de vida útil inferior ao dos restantes materiais.
Os pneus das BTT elétricas são normalmente mais largos, para suportar o peso mais elevado do conjunto – devido ao motor e bateria. Uma bicicleta elétrica de montanha pesará em média um pouco acima dos 20 kg, enquanto uma equivalente sem motor ficar-se-á pelos 14/15. Tal como as comuns, as elétricas também estão equipadas com várias ‘mudanças’ e as transmissões também são do mesmo tipo.
Há uns anos, a relação mais comum era a de 21 mudanças – três pratos à frente, junto à roda pedaleira, e sete mudanças atrás -, mas a evolução fez com que os sistemas de monoprato sejam hoje muito frequentes – em relações como 1×12, por exemplo -, inclusive em competição.
Adquirir uma bicicleta com suspensão total (à frente e no quadro) ou parcial (à frente) é outra das opções disponíveis. As primeiras são mais caras e indicadas para quem se quer aventurar em percursos mais acidentados, com descidas irregulares de grande desnível e saltos longos, pois têm a vantagem de absorver com mais eficácia a exigência dos passeios mais acidentados. Mas se a ideia for dar umas voltas por trilhos pouco exigentes e andar no alcatrão, então a escolha deverá pender para um modelo de suspensão dianteira (hard tail).
A qualidade, resistência, diâmetro e a capacidade de absorção de impactos são algumas das características a ter em atenção nas suspensões. As melhores permitem ajustar o seu curso – capacidade de amortizar irregularidades – ao peso do ciclista, assim como bloquear a sua função, para maximizar a utilização da energia da pedalada em subidas ou em estrada. Face às bicicletas tradicionais, as BTT auxiliadas por motor, por serem mais pesadas, apresentam suspensões mais robustas.

Como escolher o melhor modelo
Dependendo do uso que se pretende dar à bicicleta, a dimensão dos discos dos travões – quanto maiores mais travam – é também um fator importante. Atendendo à vasta oferta disponível no mercado das bicicletas de montanha elétricas, não é fácil escolher o modelo que nos faça sentir que fizemos a melhor compra possível. Desde logo, existem as marcas consagradas do mundo da BTT versus as bicicletas que se vendem, por exemplo, em grandes superfícies.
Por norma, as primeiras são mais caras – à qualidade dos materiais, soma-se no preço final o ‘peso’ da própria marca. No caso das segundas, há muitos modelos com preços acessíveis, pois a qualidade dos componentes é tendencialmente inferior. Claro que há sempre exceções, e o ideal, como em qualquer negócio, é estabelecer um orçamento e analisar várias opções. Para diminuir dúvidas, será bem-vinda a ajuda daquele amigo que é mais entendido no assunto e visitar várias lojas. Existem também algumas marcas que só comercializam os seus modelos online e o ‘mercado dos usados’ também pode ser uma boa opção – já que, tal como no caso dos carros, as bicicletas vão desvalorizando, pois as marcas lançam frequentemente novos modelos e fazem atualizações a um ritmo anual.
Depois de decidir o valor a gastar e definir o tipo de equipamento que pretende, é muito importante poder experimentar a bicicleta – afinal, ela será a sua companheira durante muitos quilómetros, e espera-se que lhe proporcione horas intermináveis de prazer.
Aos pneus, pedais, selim e outros componentes que também podem ser atualizados posteriormente ao gosto do ciclista, o último fator que influencia a escolha de um modelo em detrimento de outro é a estética. Uma bicicleta com ‘especificações à nossa medida’ pode ser preterida por não se enquadrar no nosso gosto. E aí poderá não haver nada a fazer a não ser partir para outro modelo semelhante, que consideramos mais ‘bonito’.
Depois de termos a ‘máquina’, nada melhor do que nos aventurarmos por trilhos, com outros praticantes. Esta companhia é importante para que não estejamos sós no caso de acontecer algum imprevisto – como uma queda – e para não cairmos na tentação de deixar a ‘menina’ a ganhar pó em casa. Boas voltas!
BTT: desporto de evasão e diversão
Permitindo um contacto próximo com a natureza, as bicicletas de montanha, sejam tradicionais ou elétricas, têm características diferentes das de estrada. Projetadas para galgar trilhos irregulares, os modelos motorizados de BTT são ideais para subir e descer montanhas, já que o ciclista não tem de parar para recuperar o fôlego nas subidas. Seguem algumas variantes.