Depois de ter reinado durante décadas a fio, o disco de vinil começou a entrar em declínio no final dos anos de 1980, ao mesmo tempo que o compact disk (CD) se impunha como formato favorito das editoras e da esmagadora maioria dos consumidores de música.

Embora esta nova tecnologia digital tenha, progressivamente, conquistado a maioria dos compradores – e hoje também ela está em risco, devido à desmaterialização da música permitida por formatos como o mp3 e serviços de streaming -, muitos fãs do disco de vinil continuaram a engordar as suas coleções. Para não perderem o comboio da evolução do mercado musical, os melómanos frequentemente também adquiriam leitores de CD, juntando o suporte digital aos antigos formatos analógicos.

Deslumbrados com a clareza do som – sem os ‘estalos’ típicos da reprodução de um vinil ou do som mais ‘abafado’ da cassete áudio -, muitos compradores de música passaram a preferir o CD, abandonando os suportes mais antigos.

A quebra nas vendas de música em vinil deveu-se ao crescimento exponencial da oferta de música em discos compactos, já que a indústria discográfica passou a apostar, quase exclusivamente, na música gravada em CD, em detrimento dos formatos analógicos. Neste contexto, os consumidores, frequentemente influenciados por razões práticas – como a falta de espaço em casa ou a dificuldade de substituir peças (sobretudo agulhas e correias) dos seus gira-discos -, também se renderam às novas tecnologias.

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Nos últimos anos o mercado do vinil, discos usados e novos, tem conquistado cada vez mais fãs, apesar da competição dos formatos digitais | © Envato

Papel secundário

No pós-1990, face ao realinhamento do mercado, os discos de vinil usados passaram a alimentar, praticamente na totalidade, o comércio mundial deste suporte.

Considerados autênticas preciosidades pelos colecionadores – que a partir deste período aumentaram o seu espólio, devido ao desinteresse generalizado que levou muitos proprietários a desfazerem-se dos seus discos ‘ao preço da chuva’ -, para a larga maioria das pessoas os vinis passaram a ser objetos velhos, bafientos, amontoados em locais como arrecadações e garagens.

E se esta tendência se manteve durante grande parte das duas décadas seguintes, de há uns anos para cá assiste-se a um regresso ao ‘culto do vinil’, nunca abandonado por uma imensa minoria de apreciadores de música.

Como noutros países, em Portugal a venda de vinis tem aumentado no mercado dos usados (via Internet, lojas de música em segunda mão, feiras de rua, entre outros). Mas também tem crescido o comércio dos discos novos, tal como o dos gira-discos e acessórios, pelo que hoje é comum voltar a encontrar-se uma secção exclusiva para este formato nas lojas de música. Sinal de que o vinil está vivo e regressou para ficar.

O som (im)perfeito

Parte integrante do imaginário de muitos consumidores de música – muitos ainda se lembrarão do ruído único da agulha do gira-discos a ‘ler’ o disco -, o vinil é para os seus entusiastas a melhor forma de ouvir o som das suas bandas favoritas.

Embora a discussão sobre qual o melhor formato para escutar um álbum não seja nova, muitos audiófilos defendem o vinil com ‘unhas e dentes’, justificando que este, ao contrário dos formatos digitais, possibilita um som mais real, encorpado e orgânico, próximo daquele que o ouvido humano captaria num concerto. Já os fãs do universo digital, como o CD, destacam a clareza sonora e a facilidade de uso da tecnologia, que permite avançar, recuar e programar a experiência auditiva mais confortavelmente. Porém, esta é uma ‘área cinzenta’ em que o gosto pessoal poderá pender para qualquer um dos lados.

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Os gira-discos voltaram às prateleiras das lojas de venda de eletrodomésticos, podendo em alguns casos o seu preço ascender a largos milhares de euros | © Envato

Para alimentar esta discussão – virtualmente interminável – há vários aspetos a ter em conta. Quando um álbum é gravado, a qualidade do som de origem (aquele que, por exemplo, sai dos instrumentos) e da sua captação são fatores decisivos para as características do produto final – se bem que a tecnologia disponível para a pós-produção áudio faça autênticos milagres e seja capaz de ‘corrigir’ uma grande variedade de imperfeições ou insuficiências sonoras e musicais.

Já ao nível do consumo final, o suporte onde esse som é gravado, bem como a qualidade dos aparelhos de reprodução, influencia igualmente a qualidade sonora da música que chega aos nossos ouvidos.

Dinâmica comercial

Atualmente, o mercado do vinil é alimentado por discos novos e usados. Os primeiros podem corresponder ou a reedições de álbuns antigos ou a álbuns recém-editados – há bandas que nunca deixaram de gravar os seus trabalhos neste formato, mesmo quando o mercado do vinil entrou em crise, sabendo que este continuava a ser o suporte favorito de muito dos seus fãs.

Por sua vez, o chamado mercado da ‘segunda mão’ possibilita a compra de vinis a um preço menor, embora o crescente interesse por esta velha tecnologia tenha feito aumentar globalmente o valor dos álbuns mais interessantes – mas com paciência e muita sorte ainda se conseguem fazer excelentes negócios, a baixo custo.

No caso dos vinis novos, a qualidade da reedição – se tem origem numa cópia feita a partir do master original, se foi remisturada, etc… – é decisiva para a qualidade final do som. Nos antigos há que ter especial atenção ao grau de conservação do disco.

Riscos profundos na superfície do vinil – que é um tipo de plástico -; deformações na estrutura – se mal-acondicionados, deixados ao sol ou perto de uma qualquer outra fonte de calor, os discos podem ficar abaulados -; ou o desgaste provocado pela quantidade de vezes que foi posto a tocar são fatores que influenciam o som final. E ninguém deseja que o prazer da música seja substituído pela tortura de um disco riscado.

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Tal como acontece por exemplo com muitos leitores que nunca abandonaram os livros em papel, também muitos melómanos preferem o suporte vinil a outros, orgulhando-se das suas coleções | © Envato

Culto ou moda?

Para muitos o disco de vinil é equiparado a uma obra de arte, pelo conceito que conjuga a música com o ‘embrulho’ – entenda-se capa e materiais afins – do próprio álbum. Muitas são as capas de discos que ficaram para a história como verdadeiros ícones do design gráfico e da criação artística, concebidas e muito disputadas por profissionais consagrados.

Mas o mercado dos vinis, tal como qualquer outro, obedece às leis da ‘oferta e da procura’, pelo que um vinil raro, com poucos exemplares editados, tende a ser mais valorizado – e se a isso se juntar o estatuto que o nome da banda ou do intérprete tem no mercado, poderemos estar perante um ‘objeto’ extraordinariamente valioso. 

O vinil mais caro de sempre pertence à banda americana Wu-Tang Clan – com o álbum ‘Once Upon a Time in Shaolin’, em que apenas foi produzida uma cópia – e foi comprado em leilão pelo astronómico valor de 1,9 milhões de euros. O segundo lugar é ocupado pelo primeiro exemplar a ser prensado do ‘White Album’, dos The Beatles, por muitos considerada a maior e mais influente banda de rock and roll de todos os tempos. O vinil foi vendido pelo baterista do grupo britânico, Ringo Star, em 2015, por perto de 800 mil euros.

FONTE© Envato