César Ribeiro
Professor
Enquanto a conversa ia e vinha até se pôr em dia, o filho perguntou ao pai:
– “Então pai, como estão os preços por aqui? Tem vivido com dificuldade?”
O pai demorou a responder o tempo suficiente para uma reflexão e um sorriso e depois disse:
– “Sabes filho, posso estar enganado, mas cada vez mais me parece que a terra e os animais sabem dar a quem cuida bem deles aquilo que é necessário. Pensa comigo: durante todos os anos que viveste connosco, quantas vezes a mãe te pediu para comprar batatas, ou cenouras, cebolas, tomate, brócolos, curgetes, maçã, banana, laranja, feijão ou azeite?
Quantas vezes os animais que temos aqui na quinta se recusaram a dar carne, ovos, ou leite para beber, ou para fazer queijo?
Quantas vezes faltou o pão, amassado e cozido pela mãe, na tua lancheira?”
O filho emudeceu por um tempo e depois respondeu de modo acanhado:
– “Pai, ainda bem que não têm sido afetados pela subida dos preços nestes produtos. Na cidade tem sido demais.”
Uma vez mais o pai demorou a responder e depois disse:
– “Realmente, não temos sido afetados pela subida dos preços ‘nestes’ produtos. Por outro lado, ontem, saí para comprar sementes e voltei de mãos vazias. Infelizmente, não pude pagar o preço que me pediram. Na semana passada, saí para comprar ração para os nossos animais e regressei com metade do que comprava há uns meses com o mesmo dinheiro. A farinha, que a mãe usava para fazer o pão, há muito que fica na prateleira da mercearia.
Como vês, aqui no nosso cantinho existem coisas que não nos afetam.”
