Há na ‘terra dos fenómenos’ – mais conhecida por Entroncamento – uma casa onde mora uma família de oito. A Maria, o João, a Summer, a Meraki, a Safira, a Stone, o Tex e o Scott. A Maria e o João são um casal. Os restantes elementos são os ‘filhos’ de quatro patas. Conta a orgulhosa dona que o “Scott foi o início de tudo. Depois veio o Tex e, desde então, fomos evoluindo mais um bocadinho e acrescentando novos membros à família.”

“Devagarinho” como quem diz

Maria estava perdida de amores pelo Scott e pelo Tex quando a arisca Safira lá ajudou a entrelaçar as trelas com as de João. Frequentavam todos a mesma escola de treinos em Torres Novas. Já lá vão mais de dois anos de namoro e o amor dos dois multiplica-se a olhos vistos.

“Além da Safira e da Luna, do Scott e do Tex, comprámos a Stone no México e ficámos com duas bebés de uma ninhada. São a nossa família. Mesmo os nossos pais não se veem sem os nossos cães”, confessa Maria. Mas nem sempre foi assim, pelo menos para a família da jovem.

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Maria com quatro dos seus cães | © Record TV Europa

Depois de um percurso académico na área da Economia, a torrejana percebeu que a verdadeira vocação estava em casa à espera dela. Conta-nos que “não era feliz atrás de uma secretária oito horas por dia. Eu era feliz junto dos cães, com eles na rua, a ‘trabalhá-los’, a estudar os cães em geral, mas sobretudos os labradores.” Decidiu então criar uma loja online com produtos de animais, abriu uma creche canina e tornou-se criadora de labradores.

Explicar a decisão aos país foi difícil, mas mais duro ainda foi aceitarem o caminho que escolheu. “Eu compreendo as preocupações deles de não ter um ordenado fixo ao final do mês. Também não tenho um trabalho das 8h às 17h ou das 9h às 18h. Eu trabalho 24 horas por dia, sete dias por semana e não importa se é Natal ou Ano Novo”, desabafa.

Uma história digna de um conto de fadas

O verão passado não podia ter sido mais agitado. Susana, a cadela que Maria e João importaram para reproduzir com o Tex, deu à luz não um, nem dois… mas sim uma ninhada de onze labradores. Uma história digna de um conto de fadas. Maria dormiu na sala de casa praticamente três meses para cuidar dos onze bebés, da recém-mamã e dos quatro cães que já faziam parte da família. Dezasseis ao todo. O cansaço chegou a ser gritante, mas o amor sempre falou mais alto.

Explica-nos que “felizmente ou infelizmente, os nossos cães vivem melhor do que muitas crianças. São família. Dormem dentro de casa, na nossa cama, cada um tem o seu sofá e melhor que isto não podia ser. Eles são mesmo família.” Maria nunca perdeu um cão. Os 12 anos que Scott já tem assustam-na. Não sabe como vai lidar com a dor. Para muitos e cada vez mais donos, os cães “são uma lição de amor e proteção”. É isso que o pequeno Yogui é para Soraia.

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Soraia e o seu yorkshire terrier, Yogui | © Record TV Europa

Esperar 30 anos por um amor fiel

Fazem todos os dias caminhadas de três horas e a energia do pequeno yorkshire terrier não tem fim. Ter um cão fazia parte dos sonhos de menina, mas o passo só foi dado quando Soraia sentiu que estava disponível para dar o melhor ao novo elemento da família. Deixá-lo em casa sozinho não era, de todo, uma opção. Abraçou novos desafios profissionais em modalidade de teletrabalho e procurou ajuda para tomar conta do pequenote. “Antes de ter um cão pensei para mim que iria tê-lo num momento em que pudesse financiar uma creche. Dá-me uma grande satisfação saber que ele três vezes por semana possa socializar com outros cães, pessoas, treinadores e estar ao ar livre. Não é tão caro como a creche de uma criança, mas é caro. Falamos de algumas centenas de euros. É uma despesa, é uma renda”, desabafa.

Uma despesa à qual cada vez mais famílias abrem os cordões à bolsa. Ricardo Madeira, coordenador de uma creche canina em Arruda dos Vinhos, explica à ‘Share’ que “todo o mundo ‘pet‘ tem crescido imenso e tem cada vez mais procura. São pessoas que normalmente não têm filhos, têm mais disponibilidade financeira, que veem os cães como filhos e tratam-nos como tal. É a humanização dos animais com a qual concordamos em pleno.”

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Ricardo Madeira é coordenador de uma creche canina, em Arruda dos Vinhos, no distrito de Lisboa | © Record TV Europa

Alunos de quatro patas

Ricardo é o responsável pela creche que Yogui frequenta, onde faz tudo o que uma criança faz numa escola convencional. Falamos, por exemplo, de festejar dias temáticos como o halloween, aniversários e até tirar as tradicionais fotografias de Natal. Estilo também não lhes falta. Entre risos, o coordenador fala de um dos cães da creche, o George, cuja dona “diz que ele tem mais roupa do que ela – o que é curioso vindo de uma mulher!”

Mas será que um cão tira o lugar à maternidade? Sem hesitação na resposta, Maria afirma que “um cão dá-nos a noção daquilo que é ter um filho. O trabalho que é educar um filho. Não acho que seja o facto de ter seis cães que vá adiar a maternidade. É mais a nossa condição financeira.”

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O casal de namorados Maria e João, com um dos seus cães | © Record TV Europa

Já Soraia diz ter noção da complexidade de ter uma criança e que “o paralelismo que faço é que o Yogui está primeiro. Já me inibi de comprar coisas para mim para lhe comprar, por exemplo, uma transportadora melhor porque lhe vai dar mais conforto e porque não tenho dinheiro para tudo. Esse tipo de cuidado eu tenho”. Afinal, Yogui sempre foi mais desejado do que um bebé.

FONTE© Record TV Europa