Todas as cinco espécies de tartarugas existentes nas Filipinas estão atualmente ameaçadas do perigo de extinção. A tartaruga-verde, tartaruga-de-pente, tartaruga-comum, tartaruga-de-couro e tarataruga-oliva estão todas à mercê de várias ameaças, como predadores, destruição de habitats e alterações climáticas.

Mas o que poderia ser uma ameaça foi tornada em vantagem. Os antigos pescadores e caçadores furtivos de tartarugas tornaram-se agora nos seus maiores protetores, numa séria missão de conservação deste animal marinho.

“Parei a caça furtiva quando nos submetemos a treinos e foi-me ensinado que o que temos feito é ilegal, e que estas espécies de tartarugas estão em perigo”, conta à agência Reuters Jessie Cabagbag. Juntamente com a mulher e o filho de sete anos, segue o caminho numa patrulha noturna na praia de La Union de Bacnotan, um locais que servem de nidificação para as tartarugas da espécie verde-oliva.

De cacadores furtivos a protetores de tartarugas_Jessie Cabagbag
Jessie Cabagbag, com a mulher e o filho de sete anos em mais uma jornada noturna para proteger tartarugas | © Reuters

Toda a vida foi habituado a viver com a ajuda dos rendimentos oriundos da venda de carne de tartaruga e dos seus ovos. Se antes os recolhia para se alimentar e ganhar dinheiro, agora usa os seus conhecimentos para procurá-los e entregá-los à CURMA (Coastal Underwater Resource Management Actions), uma organização que procura a conservação das espécies de tartarugas no arquipélago filipino.

Deste outubro que já entregou mais de mil ovos à organização. Quanto encontrados, eles são recolhidos e entregues à CURMA para serem enterrados novamente em áreas protegidas, longe de ameaçadas como caçadores furtivos ou predadores.

“Fico muito feliz, especialmente quando eu próprio encontro os ovos. Sempre que eles soltam os novos filhotes de tartaruga no nosso sítio, fico muito orgulhoso. Até mesmo os nossos vizinhos apreciam o que faço porque não é fácil. Estou feliz por conseguir contribuir para a conservação das tartarugas marinhas” – Jessie Cabagbag

Também os dias de caçador de Johnny Manlugay ficaram para trás. Aprendeu a detetar os locais onde as tartarugas deixavam os ovos com o avô, conseguindo seguir a tartarugas sem ser detetado. Manlugay usa agora tudo o que aprendeu para proteger estes animais também nas praias de La Union, no norte do país. “Aprendi a amar este trabalho”, confessa Manlugay, enquanto recolhe ovos para levar até à CURMA, normalmente acompanhado pelos seus dois cães.

De cacadores furtivos a protetores de tartarugas_Johnny Manlugay
Johnny Manlugay recolhe ovos de tartaruga para que sejam enterrados noutro local onde os animais possam nascer num clima de maior segurança | © Reuters

Uma ameaça tornada em oportunidade

A CURMA foi fundada em 2009 e viu nos pescadores e caçadores furtivos de tartarugas e dos seus ovos uma possível aliança para a conservação destes animais marinhos.

A organização oferece-lhes treino e incentivos para que estes atuem como protetores da espécie em vez de uma das suas maiores ameaças. Os voluntários recebem 20 pesos (34 cêntimos) por cada ovo recolhido, ou seja, quatro vezes mais do que poderiam ganhar com a sua venda.

“Os incentivos ajudam-nos a pagar as nossas contas, de comida e eletricidade. Tive sorte, já pude poupar e utilizá-lo para comprar um triciclo que utilizo (para transportar passageiros) quando não podia ir pescar – o que é outra fonte de rendimento” – Jessie Cabagbag

Parte da economia local da região baseava-se na venda dos ovos destes animais, vista como uma autêntica iguaria, algo que mudou. Um trabalho que não foi fácil ao início, com Carlos Tamayo, diretor da organização, a explicar que levou muito tempo até conquistarem o respeito e confiança da comunidade em La Union.

De cacadores furtivos a protetores de tartarugas_Carlos Tamayo
Carlos Tamayo é o diretor da organização CURMA, que trabalha para a conservação de várias espécies de tartarugas existentes nas Filipinas | © Reuters

“O que realmente nos ajudou foi que conseguimos convencer um pescador idoso que era um membro respeitado da comunidade, e foi ele quem conversou com todos os outros e realmente os convenceu”, disse Tamayo à Reuters. Passados 12 anos desde o princípio da iniciativa, o balanço é claramente positivo.

“Estamos na nossa 12.ª temporada e 98% dos nossos vigilantes são ex-caçadores furtivos. Então, de caçadores furtivos agora eles são os protetores das tartarugas marinhas”, disse.

Tartarugas estão a aumentar

As espécies de tartarugas existentes nas Filipinas estão em risco de extinção, mas os esforços de conservação começam a dar resultados. Um dos maiores aliados para a conservação da espécie foi também a pandemia de covid-19. Na altura dos confinamentos e com as pessoas limitadas dentro de casa, houve um crescimento da atividade animal.

As tartarugas marinhas põem em média 100 ovos por ninho, enquanto o número de ninhos varia entre 35 e 40 a cada temporada, que vai de outubro a fevereiro.

“Só na época passada, por exemplo, tivemos 75 ninhos e libertamos perto de nove mil crias” – explicou Carlos Tamayo

Quando é tempo de nascer, a CURMA liberta as pequenas crias de tartaruga que se guiam pelo declive na praia até à água. Uma correria caricata destes animais que se tornou num momento muito apreciado pelos turistas.

FONTE© Reuters