Em Portugal cerca de 1% dos partos são domiciliares. Não parece ser uma percentagem muito grande, mas esse número tem vindo a aumentar significativamente desde 2017 e a pandemia reforçou ainda mais essa tendência.

Diferente do que acontece em outros países da Europa – como nos Países Baixos, que conta com a maior percentagem de partos domiciliares – nascer em casa em Portugal ainda é uma coisa incomum – e, frequentemente, é um tema sujeito a preconceito e incompreensão. O parto domiciliar não é ‘uma coisa de hippies’ e pode inclusive melhorar a experiência das parturientes.

Em geral, existem três tipos de partos domiciliares. O primeiro é o parto domiciliar planeado, que é acompanhado por uma equipa de profissionais de saúde.

Parto domiciliar e mais humano
Apesar de a maioria dos partos serem em ambiente hospitalar, muitas mulheres preferem´dar à luz´em casa | © Envato

O segundo tipo é o parto domiciliar não planeado, que geralmente acontece quando as mulheres não conseguem chegar ao hospital a tempo quando as ‘águas rebentam’. O terceiro tipo de parto é o livre, que acontece quando as mulheres decidem que não necessitam de qualquer assistência em casa.

O parto domiciliar é perigoso?

O parto domiciliar é recomendado para mulheres que tenham uma gravidez de baixo risco. Qualquer parto, independentemente de ser no hospital ou em casa, comporta perigos. Há sempre hipóteses de que surjam complicações no momento de ‘dar à luz’ e só no hospital é possível receber toda a assistência necessária num caso de emergência, que envolva a mãe, o bebé ou ambos.

Segundo indicam os estudos não existe uma diferença entre um parto domiciliar e um parto hospitalar, no que diz respeito a morte perinatal, internamento em cuidados intensivos e óbito neonatal

Além disso, as mulheres que planearam o seu parto em casa geralmente sentem uma maior satisfação na experiência do parto e ter um bebé no domicílio está associado à redução do risco de cesariana, parto instrumental e complicações maternas.

Embora haja vários benefícios no parto domiciliar, os riscos não podem ser negligenciados. É preciso planear bem o evento, assegurando a assistência de parteiras qualificadas. Para quem quiser sentir-se mais seguro durante um parto domiciliar, ter a possibilidade de rapidamente poder transferir-se para um hospital em proximidade é o ideal.

Um processo mais natural

No conforto e na privacidade da própria casa as mulheres têm a liberdade de criar o ambiente ideal. Podem ajustar a temperatura do quarto ou da banheira, compor o cenário que mais lhes agrada, sentir o cheiro tão familiar da própria casa, são elas que convidam um assistente para a sua casa e não precisam de entrar em stresse antes da hora de irem para o hospital.

Este evento tão marcante na vida de uma mulher pode contar com a presença das pessoas mais amadas. Além disso, em casa, como o parto não é assistido por um médico, não é dada anestesia epidural nem é feita a episiotomia (incisão cirúrgica para facilitar o nascimento).

O sentimento familiar e a segurança sentida pelas mulheres em casa faz com que elas consigam ter um parto mais tranquilo, e por vezes mais rápido, podendo desfrutar melhor da intuição materna, sem a pressão experienciada nos hospitais.

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Uma das vantagens do parto domiciliar é o facto de a mulher estar num ambiente mais calmo e familiar | © Envato

O SNS e o parto domiciliar

Há países nos quais o parto domiciliar está previsto e ainda é recomendado pelo sistema nacional de saúde, por exemplo em Inglaterra. Em Londres, o parto domiciliar é algo normal e muito procurado pelas mulheres inglesas. Inclusive existe a possibilidade de a mulher ser acompanhada por parteira (midwifery led units) no âmbito do sistema nacional de saúde, que, em vez de anestesia epidural, usam piscinas e bolas de pilates para tornar o parto em casa confortável.

Em Portugal, não existe regulamentação no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para o parto domiciliar

Problemas relacionados com relatos de abuso obstétrico e a crise nas urgências obstétricas são duas das razões que também contribuem para o aumento da procura de alternativas ao parto hospitalar.

Quero fazer um parto domiciliar, mas não sei por onde começar…

Embora não haja um plano previsto para partos domiciliares em Portugal, planear e realizá-lo em casa é legal e existem profissionais capacitados para ajudar. A Associação Portuguesa dos Direitos das Mulheres na Gravidez e no Parto dispõe de um guia generalista, elaborado por especialistas. Tudo para que, caso seja essa a opção, a decisão seja tomada de forma consciente e informada.

FONTE© Envato