“Fui maltratada verbalmente, não fui respeitada. O terror começou no momento da expulsão. Lembro-me de o médico dizer ‘a cabeça saiu, mas os ombros não passam. Chamem o médico da urgência’. E não me lembro de mais nada…”

Parte da experiência traumática deveu-se à atuação do médico que lhe fez o parto no hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. Soraia acusa-o de falta de sensibilidade.

Para mim ele [o médico] foi uma pessoa superfria. Depois de o Lucas nascer e eu perguntar pelo meu filho, ele disse ‘oh mãe, você está muito nervosa, tenha calma que o seu filho está bem’. Disse com arrogância, senti que a pessoa está ali a fazer um trabalho, mas que não sente nada por nós nem pelo bebé

Uma imagem vale mais do que mil palavras e esta, garante Soraia, jamais vai esquecer. Lucas nasceu com a cabeça completamente negra, com várias feridas e hematomas no corpo. “Não pude pegar nele e só vi o Lucas quatro dias depois de ter nascido. Quando me lembro dessas coisas sinto-me culpada, porque eu devia ter lutado pelos meus direitos e pelos direitos do meu filho. Quando o meu marido me mostrou a primeira foto do bebé, a primeira coisa que eu disse foi ‘o Lucas vai morrer.'”

No dia seguinte à alta, já em casa, ele estava nos meus braços e teve uma convulsão como eu nunca tinha visto num bebé. O Lucas foi diagnosticado com epilepsia e eu acredito que tenha alguma coisa a ver com o parto. Eles dizem-me que não, mas eu creio que sim.”

“Estive a minutos de perder a vida”

Foi no Barreiro que conhecemos Elsa Pereira. Para a mãe de primeira viagem, o dia em que recebeu a notícia da chegada do Guilherme foi um dos melhores da sua vida. Uma gravidez absolutamente normal levou-a ao parto que nunca imaginou experienciar.

Sombras do parto
Elsa Pereira e Guilherme | © Record TV

Fui tratada com muito desprezo. Nunca ninguém me quis ouvir. Para que me dessem o relatório que pedi, tive de gritar para alguém vir ter comigo. Eu falava, mas todos ignoravam-me

As intensas dores nas costas foram responsáveis pela ida ao Centro Hospitalar Barreiro Montijo, onde ficou internada para o nascimento do filho. “Foi tudo normal, fizeram-me várias, mesmo várias, vezes o toque. Estavam sempre a dizer que eu não tinha a dilatação correta, que não passava dos quatro dedos até que chamaram uma obstetra, porque eu tinha de avançar no trabalho de parto.”

A médica detetou que, afinal, o bebé já estava pronto a nascer e Guilherme veio ao mundo às 02:35 da madrugada do dia 17 de junho de 2018. “Teve de ser com ventosas. A primeira partiu-se e ela teve de ir buscar uma segunda ventosa para conseguir puxar o bebé. A seguir, levaram-no para o aspirar e, quando me estão a dar o bebé para o colo, eu vejo que ele tem um corte no olho. Mas não houve grandes conversas com a médica, também acredito que não há grandes temas ali… No entanto, foi fria, foi tudo muito rápido. Tirou-me o bebé, já está e foi-se embora”, recorda.

Apesar do incidente, tudo corria às ‘mil maravilhas’ com a chegada do primeiro filho. O recém-nascido e a mãe tiveram alta, desejosos de ir para a bolha de amor que os esperava em casa. Tudo parecia estar dentro da normalidade, mas os dias seguintes adivinharam-se negros para a recém-mamã.

1
2
3
FONTE© Envato