Sophia é um humanoide autómato e foi a primeira inteligência artificial (AI) a receber cidadania, atribuída pela Arábia Saudita.
O robô foi ativado em 14 de fevereiro de 2016, pela empresa Hanson Robotics, com sede em Hong Kong. Desde então viajou por todo o mundo, participou numa reunião das Nações Unidas sobre inteligência artificial e desenvolvimento sustentável e falou com alguns dos principais líderes mundiais, como a antiga chanceler alemã Angela Merkel.
O robô tem falado em conferências, aparecido em vários eventos culturais e campanhas publicitárias, e um ano após a sua ativação recebeu a nacionalidade saudita, a 25 de outubro de 2017, numa ação de marketing que procurou posicionar o país como um dos líderes mundiais em inovação e tecnologia.
Sophia pode imitar 62 emoções humanas. A IA que a equipa está conectada à Internet e ela foi programada para aprender com humanos e trabalhar com eles, na função de ‘robô empático’.
Sophia – que significa sabedoria em grego – é usada em várias campanhas de marketing para promover ideias políticas e reflexões sobre a evolução da tecnologia.
Sophia é o primeiro humanoide no mundo…
> reconhecido como ‘pessoa própria’, após obter cidadania concedida pela Arábia Saudita;
> a receber um cartão de crédito;
> eleito como embaixador de inovação do programa de desenvolvimento dos Estados Unidos;
> a aparecer na capa de uma revista, a ‘Cosmopolitan’;
> convidado a participar nos talk shows ‘The Tonight Show’ , com Jimmy Fallon, e no ‘Good Morning Britain’;
>> a discursar numa reunião das Nações Unidas.
Em 2018 participou no Web Summit, em Lisboa, onde chegou a abordar o facto de a Arábia Saudita ter sido o primeiro país a reconhecer a cidadania de um robô, que gozava de mais direitos do que as próprias mulheres e estrangeiros no país.
Sophia está a ser usada para efeitos de marketing e para criar uma certa familiarização deste tipo de inovação com público em geral. Existem outros robôs com competências e habilidades semelhantes, e até podem competir com ela – tal como o robô Ameca, que é consideravelmente mais avançado em termos de funções motoras.
Robôs devem ser cidadãos?
A Arábia Saudita não é o único país a procurar dar alguns direitos aos robôs. Em 2017, o Parlamento Europeu propôs um conjunto de regulamentos para reger a criação e a utilização de IA, incluindo a concessão de ‘personalidade eletrónica’ às máquinas mais avançadas para garantir os seus direitos e responsabilidades.
Porém, este é uma área sensível que suscita acalorada discussão, já que muitos especialistas temem que dar aos robôs o mesmo tipo de direitos e deveres englobáveis pelo conceito de cidadania poderá, a prazo, influenciar negativamente a noção de direitos humanos que hoje temos.
Numa carta aberta, escrita à Comissão Europeia em 2018, 150 especialistas em medicina, robótica, IA e ética criticaram os planos “ideológicos, sem sentido e não pragmáticos”.
A missiva descrevia a crença de que “de uma perspetiva ética e legal, criar uma personalidade jurídica para um robô é inapropriado”, e também exigia que a UE assegurasse uma estrutura legal ponderada para “a proteção de utilizadores de robôs e terceiros”, em vez dos próprios robôs.
Essas objeções talvez pareçam exageradas, considerando que Sophia passou mais tempo à frente das câmaras a fazer anúncios do que propriamente em contacto direto com pessoas no dia a dia.
Todavia, a utilização crescente de IA – que é também aplicada, por exemplo, em carros autónomos e robôs que cuidam de pessoas vulneráveis e idosas – obriga à criação de um marco legal para dar resposta a possíveis erros cometidos por máquinas.
Apesar de a cidadania de Sophia ter sido concedida no âmbito de uma poderosa ação de propaganda e marketing da monarquia saudita, as questões que ela levanta abriram um enorme – e urgente – debate sobre os limites da IA, que está longe de chegar ao fim.