Brasil é o quinto país no mundo em casamento infantil

Brasil é o quinto país no mundo em casamento infantil
Record TV

Apresentada por Luiz Fara Monteiro, a nova temporada do ‘Repórter Record Investigação’ estreia esta noite.

Sob o comando de Luiz Fara Monteiro, a temporada de 2022 do ‘Repórter Record Investigação’ estreia hoje, a partir das 23:45, e traz uma reportagem exclusiva sobre casamento infantil no Brasil.

No programa de estreia, as jornalistas Flávia Prado, Mariana Ferrari e o repórter de imagem Leonardo Medeiros mostram a razão de o Brasil ser o quinto país no mundo com mais casamentos entre menores e como a união precoce condena principalmente a vida das raparigas negras e pobres.

A equipa percorreu duas cidades do Piauí, um dos estados mais pobres do país, para entender o que leva jovens a casarem-se tão cedo. São relatos que representam a realidade de milhares que vivem nas periferias dos centros urbanos do Brasil.

Vai conhecer a história de nove meninas. A maioria não completou 18 anos e, por isso, as identidades serão preservadas.

F., de 16 anos, antes de se casar, sofria abusos sexuais do padrasto. “Ele mexia comigo quando eu tinha uns nove, 10 anos”, relata. A mãe nunca deu atenção às queixas da filha e, por isso, decidiu ir embora de casa e procurar o pai, com quem morou durante dois anos, até conhecer o seu atual marido. O primeiro e único namorado que teve. Os dois começaram a encontrar-se escondidos da família dela. “Eu tinha 13 anos e ele 21. Quando o meu pai descobriu, se nós não nos casássemos, ele ia à Justiça. Fomos obrigados a casar”, conta F.

“O casamento infantil perpetua o ciclo de pobreza, da exclusão social e da violência, além de retirar direitos e comprometer o futuro das meninas”, afirma Ana Maria Villa Real, coordenadora da Infância do Ministério Público do Trabalho brasileiro.

As uniões precoces no Brasil e no mundo passam longe dos dados oficiais. Por lei, qualquer união formal ou informal antes dos 18 anos é considerada casamento infantil.

Casamentos entre menores de 16 não podem ser aceites e no caso das uniões entre os 16 e os 18 anos é preciso ter autorização dos pais ou do juiz.

“Todos os anos, no mundo inteiro, por volta de 12 milhões de meninas com menos de 18 anos casam-se”, aponta Maria Laura Canineu, diretora da Human Rigths Watch Brasil.

De cada quatro jovens brasileiras, uma casa-se antes de completar 18 anos. O principal motivo: a gravidez. “A minha mãe deixou o meu namorado ficar em casa por uns tempos, depois de um tempo engravidei. Eu tinha 14 anos”, revela V., hoje com 15.

A maioria das meninas, ao casar-se, deixa de frequentar a escola muito cedo. O que anula oportunidades de quem um dia sonhou em estudar e ter uma vida melhor. R. só completou o nono ano do ensino fundamental. “Foi por causa da minha gravidez”, relata.

A pobreza também é um dos fatores que empurram jovens para união precoce. “Não comíamos carne em casa, só ovos, na maioria dos dias. O que dava para o almoço, às vezes não dava para o jantar”, diz F. Agora casada, além de lidar com a escassez de alimentos, ela preocupa-se em dar conta do trabalho doméstico. “Eu lavo, passo, cuido do bebé, faço tudo”, explica.

O futuro das meninas que falaram com a equipa do ‘Repórter Record Investigação’ ainda é incerto. Como o de milhares de jovens que vivem em condições semelhantes nas periferias do país.

“É preciso muita consciencialização e esclarecimento para que a sociedade olhe para as crianças pobres e periféricas como pessoas de direitos fundamentais”, enfatiza Ana Maria Villa Real, coordenadora da Infância do Ministério Público do Trabalho do Brasil.

Não perca a estreia da terceira temporada do ‘Repórter Record Investigação’, hoje às 23:45 (hora Lisboa/Londres), na Record TV Europa.