Nando Cunha recorda personagem marcante de ‘Gênesis’

Nando Cunha recorda personagem marcante de ‘Gênesis’
© Record TV

O ator protagonizou Pentephres na última fase da novela

Fernando Cunha dos Santos é um ator brasileiro que, com mais de 30 anos de carreira em teatro e televisão, já fundou um grupo de teatro universitário e protagonizou uma personagem marcante em ‘Gênesis’: Pentephres, um sacerdote e conselheiro na última fase da novela. Ao ‘Palco da Fama’, do ‘Palco Record’, ele contou alguns detalhes da personagem e também do seu percurso profissional.

Nando, quem era a sua personagem em ‘Gênesis’?
Pentephres era um pai amoroso, um marido apaixonado, um homem sensível, romântico, inteligente e humano. Foi um prazer enorme dar vida a esta personagem.

Esta foi uma novela de muitas emoções?
Foi uma novela onde eu pude, literalmente, realizar o meu ofício de ator. Às vezes chegam até nós personagens estereotipadas, sempre com o mesmo tom. Com Pentephres consegui viver várias camadas de uma mesma personagem, tanto a nível de comédia como de drama – a tristeza, alegria, amor e paixão. Fiquei muito feliz por viver cenas intensas, que não conseguiria realizar em outros trabalhos em televisão.

O que quer dizer com “realizar oficialmente o seu ofício como ator”?
Quando há uma personagem periférica em televisão, ela está sempre nos papéis mais simples, a dar ‘recados’, não tem uma família importante na trama, não tem um cenário definido, nem uma história bem formada. O papel do negro é, por vezes, apenas este na televisão. A partir do momento em que Pentephres tem tudo isto, a somar às camadas de emoção, para mim é realizar o meu ofício de ator. Pude mostrar que eu não era só engraçado, que não era um negro hipersensualizado, que era um ator de verdade e sensível. Ele deu-me esta oportunidade de realizar este trabalho.

Tem alguma coisa em comum com Pentephres?
Tenho. Ele é um homem sensível e eu também. Ele é inteligente e eu também. Ele é um pai amoroso e eu também sou com o meu filho Davi. Sempre fui romântico. Tentei colocar esta personagem a ser o mais humana possível.

Esta personagem foi muito especial para muitas pessoas. Sente que ela pode mudar o modo como as pessoas olham para a televisão?
Aqui no Brasil ainda temos o racismo muito latente, a visão do negro subalterno, o negro não inteligente, brutalizado, hipersensualizado e estereotipado. A partir do momento em que eu faço uma personagem que tem uma família, permite um novo olhar sobre nós negros. Fico muito feliz por fazer parte desta revolução. Para o olhar de um jovem preto, de uma menina ou de um menino de comunidade, de periferia, dos bairros suburbanos ou até os que vivem no campo, quando eles veem esta personagem, eles sentem-se positivados. Assim, somos exemplo. Queremos ser vistos desta maneira. Somente com exemplos bons é que vamos criar uma sociedade mais diversa.

Em relação ao teatro e ao seu grupo. É lá que um ator deve começar?
Sim, o teatro é a base, é onde a gente constrói as ferramentas para o dia a dia. É onde o ator aprende a ser versátil e onde vai ser visto. Um bom produtor de elenco vai à procura de talentos no teatro.

Para terminar, recordando os seus tempos de criança, alguma vez imaginou poder estar onde está agora profissionalmente?
Nossa, essa pergunta é importante. Primeiro porque aquele menino não sonhava em estar aqui. Esse menino tinha uma realidade muito longe deste mundo, então para ele estar aqui hoje, a sobreviver às intempéries – não só da instabilidade da carreira, mas do racismo e da falta de oportunidades no Brasil – é muito bom. Sinto-me feliz por estar aqui, a trabalhar e a dar esta entrevista para vocês. O que posso dizer é que ele ganhou vida! Ele viveu, sobreviveu, resistiu e persistiu.

E venceu?
Não sei se já venceu, mas estou na luta.