G20: Brasil quer nova globalização “socioambiental”

G20: Brasil quer nova globalização
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A cimeira económica que reúne as maiores economias do mundo está a decorrer no Brasil. Portugal é um dos países convidados.

O Brasil defendeu hoje uma nova globalização centrada nos desafios sociais e ambientais que o mundo atravessa, na abertura oficial da 1.ª Reunião de ministros de Finanças e governadores de Bancos Centrais da presidência brasileira do G20.

“Precisamos entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente globais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização ‘socioambiental'”, disse o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, que discursou na abertura da reunião.

Neste encontro do G20, que reúne representantes do grupo das vinte maiores economias do mundo e países convidados pelo Brasil, incluindo Portugal, representado pelo ministro da Finanças, Fernando Medina, Haddad disse que um dos objetivos dos debates é avançar na construção de “uma nova globalização, centrada na cooperação internacional para a solução dos (…) desafios sociais e ambientais”.

O representante do Governo brasileiro reconheceu que a conjuntura económica global é desafiadora, citando o legado da última onda de globalização, marcada pela procura do aumento da rentabilidade.

“Ao mesmo tempo em que milhões saíram da pobreza, especialmente na Ásia, houve substancial aumento de desigualdades de renda e riqueza em diversos países. Chegamos a uma situação insustentável, em que os 1% mais ricos detêm 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres da humanidade”, criticou.

Haddad apontou que o mundo tem lutado para redefinir os contornos de uma nova globalização, cujo debate é urgente devido à crise climática, que ganhou força, tornando-se uma verdadeira emergência.

“Os países mais pobres devem arcar com custos ambientais e económicos crescentes, ao mesmo tempo que veem as suas exportações ameaçadas por uma crescente onda protecionista, bem como uma parcela significativa das suas receitas comprometidas pelo serviço da dívida, em um cenário de juros elevados pós-pandemia”, avaliou Haddad.

Para o representante do Governo brasileiro, não há vencedores na atual crise da globalização, já que os países mais pobres pagam um preço proporcionalmente mais alto. No entanto, considerou ser “uma ilusão pensar que países ricos podem dar as costas para o mundo e focar-se apenas em soluções nacionais”.

“Num mundo no qual trabalho e capital são cada vez mais móveis, pobreza e desigualdade precisam ser enfrentadas como desafios globais, sob a pena da ampliação das crises humanitárias e imigratórias”, pontuou.

“É hora de redefinirmos a globalização. Precisamos criar incentivos para que os fluxos internacionais de capital sejam eficientemente direcionados para as melhores oportunidades, definidas não mais em termos de lucratividade imediata, mas sim de acordo com critérios sociais e ambientais”, concluiu.

O Brasil, que detém a presidência do fórum que reúne as maiores economias do mundo, é o anfitrião desta primeira reunião ministerial no domínio das finanças do G20.

Os encontros acontecem em São Paulo, o centro financeiro da economia mais poderosa da América Latina, onde já chegaram cerca de 450 delegados em representação dos membros do G20 e dos nove países e 17 organizações internacionais convidadas.

Portugal é um dos países convidados e, depois da presença no Rio de Janeiro do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, agora é a vez do ministro das Finanças, Fernando Medina.

Durante a presidência brasileira realizam-se mais de 100 reuniões dos grupos de trabalho, em nível técnico e ministerial, em cinco regiões do país, culminando com a Cimeira de chefes de Estado e de Governo, no Rio de Janeiro, em 18 e 19 de novembro.

Angola foi também convidada pela presidência brasileira e marca presença em São Paulo com uma delegação chefiada pela ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa.

A reunião, que conta também com a presença dos governadores dos Bancos Centrais (sem a presença de Mário Centeno), decorre num contexto global volátil, marcado por novas tensões geopolíticas e em pleno debate sobre o ritmo da flexibilização monetária, na sequência da escalada inflacionista pós-pandemia.