Megaoperação policial: segundo dia de combate ao narcotráfico no Rio de Janeiro

Megaoperação policial: Segundo dia de combate ao narcotráfico
© Reuters

As polícias Civil e Militar mostram músculo em várias favelas da ‘cidade maravilhosa’. Execução de três médicos foi o rastilho que colocou mil operacionais nas ruas para fazer face a narcotraficantes e milicianos.

Pelo segundo dia consecutivo, mil polícias estão hoje em algumas das principais favelas do Rio de Janeiro, numa megaoperação de combate ao narcotráfico, após o homicídio de três médicos na Barra da Tijuca.

Os operacionais têm mais de cinquenta mandados de prisão para cumprir, com os nomes dos principais cabecilhas e figuras de relevo relacionadas com o narcotráfico na região.

Os efetivos das polícias Civil e Militar continuam a efetuar diligências na região denominada Complexo da Maré. A Vila do João e Vila dos Pinheiros, dominadas pela fação narcotraficante intitulada Terceiro Comando Puro (TCP) – rival de um outro grupo criminoso dominante na cidade carioca, Comando Vermelho (CV) -, estão entre os locais intervencionados. Tal como aconteceu ontem, a megaoperação policial também voltou a destacar efetivos para outras favelas, como é o caso da Cidade de Deus.

“Ontem atacámos uma fação e hoje estamos a atacar outra. O cerco acontece desde madrugada”, destacou José Renato Torres, secretário da Polícia Civil.

Inteligência policial

Ao longo de dois anos, os serviços de inteligência policial reuniram provas sobre alguns dos principais criminosos do Rio de Janeiro, responsáveis por grande parte do tráfico de estupefacientes na cidade.

A investigação permitiu também localizar um centro de treino em que os membros destas fações recebiam formação tática avançada com armamento de guerra, usado geralmente em conflitos militares armados de maiores proporções. Mas, de certa forma, o Rio de Janeiro vive uma guerra urbana, em que os protagonistas são, por um lado, as forças governamentais e, por outro, os narcotraficantes, com a presença ainda de uma terceira ‘força’, os milicianos – grupos armados e criminosos que, sob pretexto de combaterem os narcotraficantes, cobram, com recurso a violência, ‘impostos de proteção’ às populações locais, sobretudo comerciantes.

Antes de subirem as ruas destas comunidades, as autoridades monitorizaram mais de mil criminosos e foi desse universo que surgiram os indivíduos agora indiciados por tráfico de droga, associação para o tráfico e organização criminosa.

Emaranhado de poder(es)

Com mais de 150 mil moradores, a maior parte do território do Complexo da Maré é dominado pelo TCP, sendo que o CV também detém o poder em algumas áreas, tal como os milicianos.

Na segunda-feira a megaoperação policial – que afetou as aulas de mais de vinte mil alunos, devido ao encerramento de escolas localizadas nas zonas intervencionadas – incidiu mais sobre os alvos do CV. Esta terça-feira, a prisão de cabecilhas do TCP é o principal foco dos polícias no terreno.

Esta intervenção surge na sequência do assassinato a tiro de três médicos, que estavam sentados numa esplanada na Barra da Tijuca – em frente ao Windsor Hotel, numa área nobre do Rio de Janeiro -, por, alegadamente, terem sido confundidos pelos autores dos disparos com membros de uma milícia inimiga.

Os homicídios – que pelo modus operandi são apontados pelas autoridades como ‘execuções’ – aconteceram na passada quinta-feira (05/10), por volta da uma hora da manhã. Tudo terá acontecido no espaço de 30 segundos, perante o olhar atento das câmaras de segurança instaladas na rua. Esta megaoperação policial surge na sequência do combate ao narcotráfico e é uma tentativa do poder político devolver à população uma sensação de alguma normalidade, repondo legalidade em ‘território sem lei’.

Os três clínicos assassinados eram ortopedistas e estavam no Rio de Janeiro para um congresso médico. Do grupo de profissionais de saúde fazia também parte um quarto médico, igualmente baleado, que foi o único sobrevivente.

Segundo o relatório clínico, Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, foi alvejado 10 vezes – inclusivamente quando já estava tombado no chão -, tendo também sofrido fraturas nos braços, pernas e uma perfuração no intestino. Está livre de perigo e encontra-se em recuperação – tal como o sentimento de segurança da população da ‘cidade maravilhosa’.