ONU: António Guterres critica intenção israelita de ataque massivo

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O primeiro-ministro de Israel reiterou ontem que o exército do seu país planeia uma ofensiva em grande escala em Rafah para garantir a “vitória total”.

O secretário-geral da ONU advertiu hoje que a anunciada ofensiva militar em grande escala de Israel em Rafah constituiria “o último prego no caixão” da ajuda humanitária na Faixa de Gaza e voltou a pedir um cessar-fogo humanitário.

“Uma ofensiva israelita total sobre a cidade seria não só aterradora para os mais de um milhão de civis palestinianos que aí se encontram abrigados, como também colocaria o último prego no caixão dos nossos programas de ajuda”, já manifestamente insuficientes, declarou António Guterres, que falava na sessão de abertura da 55.ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, Suíça.

A advertência do secretário-geral tem lugar um dia depois de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter reiterado que o exército israelita vai lançar uma ofensiva em grande escala em Rafah para garantir a “vitória total” sobre o movimento islamita Hamas.

Na sua intervenção de hoje em Genebra, António Guterres reiterou que “nada pode justificar os assassinatos, torturas e raptos deliberados de civis pelo Hamas, o recurso à violência sexual ou o disparo indiscriminado de rockets contra Israel”, mas insistiu que também “nada justifica a punição coletiva do povo palestiniano”.

Apontando que “Rafah é o centro da operação de ajuda humanitária”, Guterres sublinhou que “a espinha dorsal desses esforços” é a UNRWA, a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos, que, nas palavras do seu diretor, Philippe Lazzarini, atingiu “o ponto de rutura”, com “os repetidos apelos israelitas ao seu desmantelamento e ao congelamento do financiamento dos doadores”.

Israel acusou 12 membros da agência de envolvimento no ataque de 7 de outubro do grupo islamita palestiniano Hamas, e, embora não tenha providenciado provas, 16 países suspenderam o seu financiamento, num total de 450 milhões de dólares (415,75 milhões de euros).

Intervindo hoje a seguir ao secretário-geral, o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, deplorou o que classificou como “as tentativas de minar a legitimidade e o trabalho das Nações Unidas e de outras instituições”, tentativas essas que, apontou, “incluem a desinformação que visa as organizações humanitárias da ONU, as forças de manutenção da paz da ONU” e o seu próprio gabinete.

“A ONU tornou-se um para-raios para a propaganda manipuladora e um bode expiatório para os fracassos políticos. Isto é profundamente destrutivo para o bem comum e trai insensivelmente as muitas pessoas cujas vidas dependem dela”, lamentou, sem nunca se referir explicitamente a Israel e à UNRWA, o alto-comissário, também ele acusado por Telavive de adotar frequentemente posições pró-palestinianas.

A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 7 de outubro, que causou cerca de 1 200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva no território palestiniano que já causou mais de 29 mil mortos, de acordo o Hamas, que controla o território desde 2007.