Projeto luso-norueguês sobre saúde mental na gravidez quer ajuda facilitada

Grávida percorre centenas de quilómetros para ser assistida. Projeto luso-norueguês sobre saúde mental na gravidez quer ajuda facilitada
Daniel Reche, Pexels.com

Gravidez e primeiro ano após o parto é considerado um momento de grande vulnerabilidade para as mulheres.

Um projeto internacional sobre saúde mental das mulheres na gravidez e no pós-parto, coordenado pela Universidade de Coimbra (UC), aponta para a necessidade de reduzir dificuldades no acesso à ajuda profissional, anunciou a instituição.

“A investigação destaca a necessidade de delinear estratégias de sensibilização e de reduzir barreiras na procura de ajuda profissional”, afirma a UC em comunicado.

A equipa de investigação conduziu nos últimos anos “um estudo que procurou conhecer a tomada de decisão de mulheres grávidas ou em pós-parto em relação às opções de tratamento quando experienciam ansiedade ou depressão”, adianta.

Intitulado “Women Choose Health” (“As mulheres procuram saúde”) e liderado pela psicóloga clínica Ana Fonseca, investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC e do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental, o projeto “centrou-se na análise do período perinatal, compreendido entre a gravidez e o primeiro ano após o parto, que é considerado um momento de grande vulnerabilidade para as mulheres, que podem desenvolver sintomatologia depressiva ou ansiedade”.

O estudo foi promovido pela UC e pela Universidade de Oslo, na Noruega, com financiamento do Fundo de Relações Bilaterais dos EEA Grants.

Em Portugal, a investigação “envolveu 421 mulheres grávidas ou no período pós-parto que apresentavam sintomas de ansiedade e/ou depressão clinicamente relevantes e procurou perceber as opções de tratamento de cada uma”, segundo a Universidade de Coimbra.

“Os resultados revelaram que apenas 20% das mulheres com sintomas clinicamente relevantes de ansiedade e/ou depressão estava, no momento da participação no estudo, a receber algum tipo de tratamento (farmacológico e/ou psicológico)”, afirma Ana Fonseca, citada na nota.

Na sua opinião, “estes dados são preocupantes, tendo em conta as consequências negativas, para a mulher e para a criança, das perturbações psicológicas neste período”, além de alertarem “para a necessidade de delinear estratégias de sensibilização e para a redução de barreiras no processo de procura de ajuda profissional neste período”.

Sobre as decisões de tratamento, a investigadora revela que “se verificou que as mulheres que não estão a receber qualquer tipo de tratamento apresentam maior conflito decisional (…) e mais estigma em relação à doença mental, por comparação com as mulheres que estão a receber algum tratamento para a sua sintomatologia”.

Os resultados do projeto “Women Choose Health”, sublinha a equipa de investigação, “fazem-nos refletir sobre a importância de adotar estratégias e ferramentas de apoio à tomada de decisão”.

“É importante que os profissionais de saúde coloquem a mulher no centro da decisão, tornando-a num elemento ativo e ajudando-a a tomar decisões informadas e coerentes com as suas crenças e valores, o que potenciará a adesão à opção de tratamento escolhida”, defende Ana Fonseca.