Arguido em processo de tráfico de cocaína do “Xuxas” conta envolvimento no negócio

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Gurvinder Singh foi hoje um dos dois únicos arguidos a querer prestar declarações.

O comerciante Gurvinder Singh, um dos arguidos do processo de tráfico de cocaína que envolve Rúben Oliveira (“Xuxas”), revelou hoje que foi “Xuxas” que lhe apresentou Luís Ferreira, que importava fruta do Brasil com a droga em seu nome.

Gurvinder Singh, que alegadamente não sabia que com as paletes de fruta era transportada a cocaína da América da Latina, foi hoje um dos dois únicos arguidos a querer prestar declarações no início do julgamento que envolve 16 arguidos singulares e três empresas por crimes de tráfico de droga agravado, associação criminosa e branqueamento de capitais, entre outros ilícitos.

Gurvinder, português de origem indiana, relatou que conheceu primeiro Rúben Oliveira, que costumava ir fazer compras à sua loja nos Olivais (restaurante e supermercado), e que lhe apresentou, em 2021, Luís Ferreira (conhecido por “Ari”).

O comerciante contou que “Ari” lhe propôs o negócio de importar fruta do estrangeiro “a preços muito mais baixos em relação ao mercado” português.

Gurvinder admitiu que, apesar de ser o gerente da loja, passou a ser Luís Ferreira (“Ari”) a estar na posse de “todos os dados da empresa” comercial a importar fruta, inicialmente papaias a seu pedido e depois polpa de açai do Brasil, indicando que foi “Ari” que chegou a pagar diretamente às alfândegas e a “tratar de tudo”.

Gurvinder revelou ainda que “Ari” não recebia qualquer “percentagem” da sua parte na importação da fruta, acreditando que Luís Ferreira recebia “comissão” da empresa fornecedora da fruta no Brasil. Disse ainda que só comunicava com “Ari” por WhatsApp e pelo chat Signal.

Gurvinder revelou que nunca falou ao telefone com “Xuxas”, apenas quando chegou a carga (fruta) e, na altura, Rúben Oliveira lhe enviou a mensagem: “É melhor fugires daqui”. Gurvinder acrescentou que achou “estranha” a mensagem e que resolveu apagá-la.

No final da sessão, Melo Alves, advogado de Gurvinder, quis perguntar ao seu constituinte se se sentia à vontade para andar sozinho ou se tinha algum receio, ao que a juíza presidente Filipa Araújo pediu que o advogado fizesse um requerimento para justificar o pedido de proteção policial para o seu arguido que está a colaborar com o tribunal para a descoberta da verdade.

Também o arguido William Cruz prestou hoje declarações para negar que tivesse sido o “batedor” e o “vigia” em alguns negócios da droga.

O julgamento prossegue hoje de tarde, com a continuação do interrogatório a Gurvinder Singh que tem recorrido à ajuda de um intérprete porque não domina muito bem o português apesar de viver há vários anos em Portugal

Segundo a acusação, o grupo criminoso, liderado por Rúben Oliveira, tinha “ligações estreitas” com organizações de narcotráfico do Brasil e da Colômbia e desde meados de 2019 importava elevadas quantidades de cocaína da América do Sul.

A organização chefiada por “Xuxas” tinha – ainda de acordo com a acusação – ramificações em diferentes estruturas logísticas em Portugal, nomeadamente junto dos portos marítimos de Setúbal e Leixões e no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, permitindo assim utilizar a sua influência para importar grandes quantidades de cocaína escapando a fiscalização.

Naqueles locais de desembarque, a PJ realizou apreensões de cocaína que envolvem arguidos que supostamente obedeciam a ordens de Rúben Oliveira. A cocaína era introduzida em Portugal através de empresas importadoras de frutas e de outros bens alimentares e não alimentares, fazendo uso de contentores marítimos. A droga entrava também em malas de viagem por via aérea desde o Brasil até Portugal.

Indica igualmente a acusação que os arguidos recorriam a “sistemas encriptados tipicamente usados pelas maiores organizações criminosas mundiais ligadas ao tráfico de estupefacientes e ao crime violento” para comunicarem entre si.