Governo Montenegro é o mais minoritário da democracia

Antonio Costa E Luis Montenegro Encontram Se Em Bruxelas

Esquerda teve o segundo pior resultado desde 1991.

O Governo da AD, de Luís Montenegro, será o mais minoritário da democracia, com 28,8% dos votos e o apoio de 80 deputados, e a esquerda teve a segunda percentagem mais baixa desde 1991.

Apesar de, nas eleições de 10 de março, toda a direita – Aliança Democrática (PSD e CDS), Chega e Iniciativa Liberal – ter obtido 52,5% dos votos e 138 deputados, uma maioria absoluta, o primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, do PSD, tem recusado um acordo de Governo com o partido liderado por André Ventura, estando ainda em dúvida um eventual entendimento com os liberais.

Por isso, o Governo tem, à partida, o apoio de 80 dos 230 deputados à Assembleia da República, estando obrigado a negociações com as restantes bancadas para fazer passar leis. A direita, AD e a IL (sem o Chega), soma 88 deputados, menos do que toda a esquerda no parlamento.

A esquerda, toda junta, obteve 38,4% dos votos e 91 deputados.

A soma das votações nos partidos de esquerda parlamentar nunca baixou dos 37,9% (em 1987) nas 18 eleições gerais realizadas desde o 25 de Abril de 1974, enquanto os da direita tiveram o seu pior resultado em 1975, ficando-se pelos 34%.

Nas eleições no Portugal democrático, incluindo as da Constituinte em 1975, a esquerda alcançou uma maior percentagem de votos por 12 vezes e a direita apenas seis. O PS formou governo em 10 das 12 vezes em que a esquerda chegou à frente, tendo o PSD governado sete, duas delas com maioria de sinal contrário: no primeiro governo da AD, em 1979, e na primeira vitória de Cavaco Silva, em 1985. Junta-se agora o Governo de Luís Montenegro.

O pior resultado percentual da soma dos partidos da esquerda com representação no parlamento registou-se nas legislativas de 1991, que deram a segunda maioria absoluta ao PSD de Cavaco Silva, uma eleição em que o PRD do general Ramalho Eanes desapareceu da Assembleia da República depois ter atingido os 18% em 1985.

A direita teve o seu pior resultado nas primeiras eleições após a ditadura, em 1975, para a Assembleia Constituinte, quando obteve 34%. E o maior desaire em legislativas foi em 2019, com as percentagens do PPD-PSD, CDS-PP, Chega e IL a somarem 34,6% e 86 deputados. O PSD, liderado por Rui Rio, alcançou 27,8%, o CDS-PP de Assunção Cristas registou 4,2% e o Chega de André Ventura e a IL de Carlos Guimarães Pinto tiveram 1,3% cada.

O PS de António Costa ganhou a eleição de 2019, com 36,3%, continuando a governar com o apoio parlamentar do PCP e do PEV (6,3% e 12 deputados), mas já sem o do BE (9,5% e 19 deputados). Nesse sufrágio, o Livre de Rui Tavares alcançou 1,1% e um deputado.

O maior desaire eleitoral da esquerda, com 37,9%, ocorreu em 1991, quando o PSD de Cavaco Silva alcançou a sua segunda maioria absoluta, com 50,6% e 135 deputados.

Nessa eleição, a soma dos partidos da direita, neles incluído o PSN de Manuel Sérgio (o chamado partido dos reformados), atingiu 56,7% e 141 deputados. O PS era liderado por Jorge Sampaio, que viria a ser Presidente da República durante 10 anos, a coligação PCP-PEV pelo líder histórico dos comunistas, Álvaro Cunhal, e o PSR, que conseguiu 1,1% mas não elegeu qualquer deputado, por Francisco Louçã.