A guerra na Ucrânia já vitimou mais de 100 crianças e vai deixar marcas profundas nos sobreviventes. Em conversa com a Record TV, a psicóloga Andreia Martins frisa a importância dos afetos e da sinceridade.
São vítimas de uma guerra que não pediram nem tão pouco compreendem. O som dos risos e vozes infantis foi silenciado pelo troar dos bombardeamentos e onde antes havia alegria agora só existe medo.
As que sobrevivem para contar a história ficam marcadas para a vida. Como se protege uma criança dos efeitos de uma guerra? Como se explica a uma criança o que é uma guerra?
Mais de uma centena de crianças já perdeu a vida na Ucrânia. E muitas mais sofreram ferimentos e traumas que nunca deveriam experienciar
Andreia Martins defende a sinceridade. Para a psicóloga, é importante contar aos mais novos a realidade que enfrentam e acrescentar uma nota de esperança sem, no entanto, fazer falsas promessas.
“Não se deve omitir a realidade às crianças, deve ajustar-se à idade, mas não fugir à realidade. Descobrir depois pode ser mais marcante. É importante também dar sempre esperança, mas sem prometer nada que não se possa cumprir”, afirma.
Manter a serenidade necessária para conseguir transmitir às crianças calma e segurança pode ser um desafio quando se lida com tantas e tão turbulentas emoções. A chave, segundo a psicóloga, passa pela sinceridade.
“Os adultos são figuras de segurança, mas não super-heróis, também têm emoções, também quebram. Temos de ser genuínos com as crianças. Se mostrarmos fraqueza, eles percebem que não faz mal-estar frágil, desde que possamos recuperar. A forma mais serena de podermos transmitir às crianças estes sentimentos é senti-los também e não os esconder.”
Em três semanas, já chegaram a Portugal 10 mil refugiados da Ucrânia, quase tantos como o total dos últimos sete anos
A maioria são mulheres e mais de um terço são crianças. Chegam de mãos a abanar, apenas com a roupa que trazem no corpo e com a dor de deixar para trás pais e maridos. Muitas crianças vão ser integradas no ensino português que, na opinião de Andreia Martins, tem “algumas limitações ao nível do apoio psicológico”.
O afeto e o espaço para “ganhar fôlego” são destacados como essenciais para, de alguma forma, ajudar na integração dos mais novos.
“Com muito suporte social, afeto, só assim podemos ajudar as crianças a perceberem que a vida pode continuar. É pelo afeto que vamos conseguir ajudá-las. A integração no ensino tem de ser uma coisa natural, muito leve, deixar as crianças falar, partilhar, deixá-las brincar. É muito importante dar-lhes espaço para brincar, respirar, descansar, ganhar fôlego”, defende.
Desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro, a guerra mata pelo menos cinco ucranianos por dia, segundo a procuradora-geral da Ucrânia. Segundo a Organização Mundial para as Migrações, já saíram do país três milhões de pessoas.