Não era o esperado, mas tudo aconteceu num acaso. João Bruno Videira saiu cedo de Tomar em busca de um sonho: ser jornalista, e conseguiu. Em Évora, durante 20 anos, teve tempo para ser jornalista e depois criar uma produtora de vídeo, mas há 10 anos tudo mudou.

Por opção, decidiu voltar ao sítio onde nasceu e descobriu a sua “nova faceta”. “Aconteceu de forma natural e quase acidental na minha vida. Daqueles acontecimentos a que não podemos virar costas”, o jornalista tornou-se artesão.

“O motor de tudo foi uma primeira peça que eu fiz, uma cadeira (…) velha que um amigo me deu para as mãos e que estava estragada (…) Era uma cadeira alentejana com o assento estragado. Tirei-o todo e a cadeira ficou apenas com o esqueleto de madeira.”

No momento em que terminou a primeira peça feita por si, João percebeu que era aquilo que queria fazer. O artesão explica-nos o que sentiu: “A experiência de criar alguma coisa pelas nossas próprias mãos é algo indiscritível e marcante, tão marcante que me fez repensar toda a minha vida”.

Depois deste primeiro trabalho, seguiram-se vários outros e as encomendas começaram a chegar. Agora, o artesão fala do sucesso da sua profissão. As peças já chegaram aos quatro cantos do mundo. Apesar de já não conseguir enumerar os países onde elas estão, João conta-nos: “Já estou nos cinco continentes… Não consigo enumerar a lista de países onde já tenho os meus trabalhos, mas já passa os dois dígitos, seguramente. É uma gratidão muito grande que sinto”.

Um trabalho que poderia não ter nenhuma relação com o jornalismo, mas para o artesão trata-se de “criar uma linguagem (…), através da cor ou das formas”. Até porque a cor é um dos elementos que distingue o trabalho do artista. “Quem vê o meu trabalho uma vez, reconhece-o imediatamente”, explica João, com orgulho.

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Uma das peças criadas pelo artista, que utiliza lã para dar forma e cor às suas esculturas | © Record TV Europa

Enquanto vai puxando cada fio de lã, conta-nos que esta matéria-prima já fazia parte da sua vida. Devido à “proximidade e por razões familiares tinha um contacto próximo com a lã de Arraiolos”. Aliás, “a minha mãe, além de professora, era uma apaixonada por fazer tapetes de Arraiolos e desde criança que eu convivia com a lã em casa”. Mas a juntar a este laço familiar, no liceu, o artista aprendeu “aquilo que são os princípios básicos do tear”.

Se na altura não sabia o que fazer com esse conhecimento, “quase 30 anos depois fui buscar e decidi aplicar àquela primeira cadeira”.

Certo é que o conhecimento sobre o trabalho manual sempre existiu e estava apenas à espera de ser aproveitado. Agora, o artesão pretende “fazer por Tomar, aquilo que Tomar fez por ele” e ter a sua arte em, cada vez mais, lugares do mundo.

FONTE© Record TV Europa